Gestores de venture capital ouvem pitchs de empreendedores o tempo todo. Mas nem sempre o founder que usa e abusa das frases de efeito — e tem aquele currículo acadêmico invejável — é o que vai entregar retorno para os investidores. Com o inverno dos últimos anos, os fundos de VCs não só tiveram que se tornar mais criteriosos com os negócios e as teses, mas também treinar o olhar para identificar os que falam demais e fazem de menos. De forma menos polida como se diz no jargão financeiro, afunilaram o filtro de ‘bullshitagem’.

A Antler, um dos principais fundos globais de VC e que está no Brasil desde 2022, considera que o seu programa de diligência de startups, que dura 10 semanas, tem sido útil também para se livrar dessa armadilha. Assim, conseguimos ser mais assertivos”, afirma Marcelo Ciampolini, sócio da Antler no Brasil, em painel no South Summit, em Porto Alegre, sobre startups em estágio para receber rodadas seed ou pré-seed.

Ciampolini também procura fugir da ideia de que empreendedores que trazem consigo a chancela de uma grande instituição de ensino, como aquele que passou por Harvard, é o mais bem preparado para executar a tese. “Na primeira dificuldade, ele vai partir para um plano B que seja viável para o mercado, enquanto aquele empreendedor raiz vai pensar que o plano B dele é fazer o plano A dar certo”, disse. “Muitas vezes, o que dá certo é o self made”, complementou Felipe Andrade, sócio-fundador da Domo.

Dividindo o palco, Paulo Tomazela, CEO da Bossa Invest, destacou ainda que o tempo entre o pitch e a assinatura do contrato costuma ser suficiente para identificar discrepâncias. “Algumas coisas você vai vendo na conversa, que há uma diferença entre o que ele apresentou e o que está dizendo no dia a dia”, disse. “Mas não tem uma fórmula, se não eu faria muito mais esse tipo de investimento.”

Ele ressaltou que, como as startups em estágio inicial não costumam ter histórico de resultados para serem avaliados, a experiência do empreendedor em outros negócios também pode ser reveladora. “E não necessariamente será aquele que teve sucesso, porque sabemos que o insucesso pode ensinar mais”, disse Tomazela, que contou também já ter se deparado com founders que estavam mais preocupados com o estilo de vida do universo das startups, em aparecer, subir no palco.

O executivo lembrou-se de uma vez que uma empresa de Israel chegou com um produto que parecia resolver esse problema, com a promessa de encontrar inconsistências já nas entrevistas. “Eram perguntas de 10 segundos, para pegar contradições, parecia ótimo, mas no fim a gente não conseguia fechar com ninguém, porque eram muitos os riscos que apareciam“, recorda. Às vezes, ele reconheceu, a ignorância é uma benção… leia mais em Pipeline 20/03/2024