No último mês, uma onda de mais otimismo atingiu o mercado financeiro. Um conjunto de boas notícias, como os recentes dados sobre inflação, atividade econômica e, principalmente, a leitura de que os juros no Brasil finalmente irão começar a cair, tem levado algumas empresas a reavaliar seus planos de ofertas de ações que estavam na gaveta, após um longo período morno no mercado brasileiro, algo que se reflete em quase dois anos sem nenhuma estreia na bolsa.

O primeiro movimento positivo no rating brasileiro pela agência de classificação de riscos S&P desde 2019 deve ajudar a esquentar as emissões, conforme especialistas.

Bancos de investimento consultados pelo Valor afirmam que o cenário mudou. A expectativa é que o ano encerre com até 30 operações majoritariamente de oferta subsequente de ações (“follow-ons”). No ano até aqui, oito ofertas de empresas já listadas foram anunciadas, podendo ultrapassar R$ 13 bilhões, considerando precificações marcadas para o início desta semana. Ainda é cedo para cravar se alguma companhia fará oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) este ano, mas já há banqueiros otimistas nesse sentido.

Um reflexo direto tem sido um aumento do número de consultas, com mais empresários mostrando disposição para ao menos pensar em levantar capital na bolsa. A mudança das últimas operações do ano é que agora muitos querem recursos para voltar a investir. “Primeiro vieram as empresas que queriam acertar sua estrutura de capital, agora temos um outro capítulo, com empresas captando para investir”, diz o responsável pelo Bradesco BBI, Felipe Thut.

Oferta de ações ganha tração com expectativa de queda de juros
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Segundo Thut, o mercado deverá observar uma aceleração do ritmo das emissões a partir daqui. E a maior tração já começa a ser observada. Smartfit concluiu uma oferta de ações neste mês, na qual o fundo Pátria vendeu parte de sua participação. Na terça-feira, a Oncoclínicas precifica sua operação para o Goldman Sachs vender parte de sua participação, mas também com uma tranche primária, com o viés de crescimento. No final da semana passada, foi a vez de a Localiza lançar um follow-on, dessa vez com 100% de novas ações, de até R$ 4,5 bilhões, integralmente para investimento.

A mudança de humor é clara. Até então, as ofertas tinham apenas o perfil de ajuste de balanço refletindo um mercado anêmico, caso de Hapvida e Dasa. Assaí também fez uma oferta no início do ano, com a motivação sendo o endividamento de um de seus acionistas, o Casino……..

Dados da B3, a bolsa brasileira, mostram que foram anunciadas cinco ofertas de follow-ons, que somaram R$ 7,8 bilhões. Com as ofertas da CVC, Localiza e Oncoclínicas, o valor pode chegar a cerca de R$ 13 bilhões.

No mesmo período do ano passado, as operações somaram quase R$ 9 bilhões, excluindo a Eletrobras. Se incluir a distribuidora de energia, somou R$ 43 bilhões. De janeiro a dezembro, foram 19 ofertas, totalizando R$ 57 bilhões. Sem a Eletrobras, o valor cairia para R$ 24 bilhões.

Os bancos de investimentos evitam, no entanto, fazer projeções sobre o valor total que será movimentado em 2023, depois de um início de ano que frustrou. No fim do ano passado, quando o mercado ainda estava mais otimista após as eleições presidenciais, a expectativa era que poderia atingir R$ 100 bilhões. Se chegar à metade disso, o saldo ainda será positivo… leia mais em Valor Econômico 19/06/2023