Acreditem ou não, chegamos à segunda metade do ano! A vida é um sopro, e 6 meses passam quase que num piscar de olhos, não é mesmo?

No mercado, muita coisa aconteceu… Não vou fazer uma retrospectiva narrando fatos ocorridos, mas sim oferecer um olhar mais analítico sobre a precificação de ativos e a economia. E caso algum investidor sinta falta de algo mencionando o dólar, convido-o a ler o meu último texto: “Para onde vai o dólar – Avenue”. Todo investidor global deveria lê-lo!

Cadê a Recessão?

Para quem não lembra, começamos 2023 com a perspectiva muito presente de que a economia americana entraria em recessão – vide notícia da Bloomberg de dezembro de 2022. Muitos citavam a questão da inversão da curva de juros americana, bem como a forte elevação de juros, como um indicativo de que a economia não sairia ilesa.

Mas a verdade é que até aqui não vimos nenhuma recessão. Na verdade, os últimos dados de desempenho da economia sugerem que ela segue firme e forte, sem dar maiores sinais de uma forte desaceleração.

E mais e mais, o mercado foi precificando a possibilidade de um cenário benigno de soft landing, ou seja, de controle da inflação sem que a economia acabe entrando em uma fase recessiva.

E esse cenário, mesmo com críticas e dúvidas, foi reforçado de certa forma na última reunião do FOMC (comitê de política monetário americano), que revisou suas perspectivas de crescimento para 2023.

A inflação segue aí…

Sim, a inflação já mostrou desaceleração após atingir seu pico em meados de 2022, quando o CPI ultrapassou os 9%. O último dado de CPI, referente a junho e ao período anterior de 12 meses, foi de 4,0%. No entanto, mesmo com a economia surpreendendo positivamente em termos de resiliência e atividade, a inflação tem se mostrado persistente, especialmente em seu núcleo (que engloba preços menos voláteis e/ou suscetíveis a ciclos de commodities). O gráfico abaixo mostra o ajuste para cima das expectativas de mercado para o núcleo do PCE em 2023 (indicador de inflação utilizado pelo Fed em suas projeções econômicas).

Se há inflação, há juros…

Apesar das oscilações e das preocupações com a inflação, os dados econômicos mais robustos e a inflação resistente ajudaram a manter as taxas de juros em níveis ainda elevados. Entre altos e baixos, a taxa de juros dos títulos de 2 anos dos EUA, por exemplo, encerrou o ano próximo a 4,40% e encerra o semestre próximo a 4,70%.

E, apesar de se falar muito sobre cortes ou pausas de juros nos EUA, a realidade tem sido bastante diferente das expectativas até o momento. Até agora, tivemos mais aumentos na taxa básica dos FED Funds, que encerrou o semestre entre 5,0% a 5,25%… Na última reunião do FOMC, fica implícita a ideia de mais aumentos estão por vir em 2023, conforme indicado em seu gráfico de “dot plots” – mencionei isso no artigo “Mercado Americano ainda tem fôlego – Avenue”; e esse artigo também aborda esse tema: “Fed Holds but Projects More Hikes to Come”.

Recursos para renda fixa

Com a taxa de juros atingindo o seu nível mais alto desde 2007, cada vez mais investidores têm buscado alocar em produtos de renda fixa, aproveitando os rendimentos mais altos. O gráfico abaixo mostra o fluxo de recursos financeiros sendo direcionado para “Ultra Short ETFs” (ETFs que alocam recursos em títulos de dívida de curtíssimo prazo).

Grande parte desse fluxo de investimentos decorre de dois fatores:

De fato, temos a maior taxa de juros nos Estados Unidos desde 2007, o que por si só atrai investidores a aportar recursos para aproveitar essa oportunidade.

Além disso, há a expectativa de um “fechamento de curva de juros”, ou seja, a perspectiva de que os juros nos Estados Unidos possam eventualmente diminuir, o que poderia ter efeitos positivos para os detentores de títulos (bonds).

Até o momento, observamos um impacto modesto desse segundo aspecto sendo precificado em alguns segmentos dentro do universo de ativos de renda fixa (bonds). Abaixo está o desempenho no ano até o dia 28/06/2023:

A partir deste ponto (meio do ano), a curva de juros americana está precificando o seguinte cenário atualmente (28/06/2023). Resumidamente, o mercado espera mais um aumento de juros na reunião do dia 26 de julho, seguido de uma pausa até a reunião do dia 31 de janeiro de 2024, quando o Federal Reserve (FED) iniciaria um ciclo de cortes de juros. Por William Castro Alves .. Leia mais em bmcnews 08/07/2023