Em um ano marcado pela volatilidade no mercado de capitais, com uma das eleições mais polarizadas da história recente do Brasil e um ambiente internacional com guerra e a maiores taxas de inflação nas principais economias do mundo, as empresas evitaram entrar na bolsa em 2022. Inclusive, não teve nenhum IPO (Oferta Pública Inicial, em tradução para o inglês) neste ano.

Se 2022 foi um ano de seca, a perspectiva do mercado é que em 2023 o cenário se reverta. Os principais bancos de investimento projetam que terá cerca de 40 ofertas de ações operações no ano que vem, com os próprios IPOs, follow-ons (ofertas subsequentes) e block trade (venda de lotes de participação de companhias).

Ainda em 2022, houve 18 follow-ons, com um valor de R$ 55 bilhões. Grande parte desse montante tem origem da privatização da Eletrobras (ELET6). Em novembro, o Assaí (ASAI3) levantou R$ 2,7 bilhões em sua oferta subsequente de ações.

Apesar do otimismo em relação a 2023, os investidores ainda estão preocupados com as consequências da PEC da Transição (Proposta de Emenda à Constituição), que está em tramitação no Congresso Nacional.

Dito isso, em um cenário mais conservador, a estimativa é que as ofertas devem movimentar um valor de R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. Por outro lado, em uma perspectiva mais positiva, que depende da reversão da curva de juros e na melhora do cenário internacional, o mercado de capitais pode girar mais de R$ 100 bilhões.

O jornal Valor Econômico fez um levantamento de algumas empresas que podem entrar na bolsa no ano que vem. A expectativa é a entrada de empresas de gás e energia, como a  Compass, da Cosan (CSAN3), e a Origem, que tem a Prisma Capital como principal acionista. Além disso, as companhias de saneamento Aegea, BRK Ambiental e Iguá, e a farmacêutica Eurofarma, também são especuladas.

Ainda vale citar que a subsidiária chinesa de energia CTG já protocolou o registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, a empresa já pode bater o sino da B3 em fevereiro, evento de comemoração para a entrada na bolsa, mas há informações de que a empresa poderia esperar melhores condições do ambiente macroeconômico.

Avaliações dos bancos investimentos para as ofertas de ações

O diretor do Itaú BBA, Roderick Greenlees, declarou, para o jornal Valor Econômico, que há uma demanda reprimida por parte dos investidores e dos emissores. Com isso, a onda de IPOs deve iniciar no 2TRI23, ganhando mais força no segundo semestre de 2023. Já os follow-ons devem começar bem mais cedo, em janeiro.

Greenlees ainda cita que os IPOs devem ser maiores do que os observados nos últimos anos, que devem ficar em torno de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões, e concentrados nos setores da economia real, como varejo, óleo e gás e energia. A expectativa do diretor do Itaú BBA é ter de 25 a 35 IPOs em 2023. Enquanto que os follow-ons devem girar algo em torno de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões.

Gustavo Miranda, responsável pela área de investimentos do Santander Brasil (SANB11), destacou, para o Valor, que as primeiras estreias na bolsa em 2023 devem ser de empresas com forte capacidade de geração de caixa e custos previsíveis.

“São IPOs de empresas que mais para frente se tornarão líquidas”, afirmou para o Valor Econômico. A expectativa de Miranda é parecida com a de Greenlees, com o IPO de 30 a 40 ofertas públicas. “Demanda tem, mas depende do mercado estar receptivo e as empresas considerarem os preços atraentes”, complementa.

Fábio Nazari, sócio do BTG Pactual (BPAC11), analisa que poderá ter um fluxo maior de investidores estrangeiros no Brasil. Ele aponta que o país está em condições melhores do que os seus pares internacionais, que são os países emergentes.

“Acredito que os gringos vão participar mais dos deals”, cita Nazari. As empresas favoritas dos gringos são aquelas dos setores mais tradicionais, e com liquidez. “Eles devem entrar primeiro nas empresas listadas e depois irão para os IPOs.”

O sócio do BTG Pactual explicou que o fluxo de gringos voltou a crescer após a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Foi como se a Amazônia tivesse parado de queimar no domingo à noite [dia 30 de outubro]”, ironiza.

Contudo, ele relata que as falas de Lula sobre o teto de gastos deixou o mercado mais inseguro sobre o comprometimento fiscal. Este fato provocou um grau de nervosismo maior.

A expectativa de melhora do mercado de capitais em 2023 já era esperado antes mesmo das eleições.

Nazari estima cerca de 40 operações em 2023, incluindo “block trades”, para o ano que vem. Se as estimativas se confirmarem, vai ser um bom momento para a bolsa brasileira. “O que não pode ter é dez operações em um ano e 80 em outro.”… saiba mais em eu quero investir 12/12/2022