“Vasco da grana”? Entenda pontos da reestruturação do clube como SAF
Quase 3,9 mil votos favoráveis em um universo de mais de seis mil sócios aptos instituíram, oficialmente, uma nova era no Vasco com a opção pela venda da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do clube de São Januário para a empresa 777 Partners. A nova fase vascaína começou na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do último domingo (7/8) com a aprovação da venda de 70% das ações do Vasco SAF para o grupo norte-americano, agora dono oficial do departamento profissional cruzmaltino. Novos e importantes passos do processo devem ser dados nos próximos dias.
Quando a empresa do futebol vascaíno for registrada, o grupo de investimento terá controle majoritário sobre as decisões do futebol do cruzmaltino nos gramado. Com parceria com outros clubes no futebol europeu, como Genoa, da Itália, e Sevilla, da Espanha, a 777 Partners promete um investimento de R$ 700 milhões no clube carioca. O valor seria usado no pagamento de dívidas do Vasco e em investimentos na equipe. Os outros 30% da empresa permanecem com a associação civil.
Mas, na prática, o que deve mudar e permanecer no Vasco depois dos movimentos jurídicos e financeiros para o clube deixar de ser uma associação sem fins lucrativos e passar a funcionar como uma sociedade anônima do futebol? Para responder a isto, o Correio preparou uma análise com pontos centrais que envolvem diretamente o dia a dia do clube e podem mudar na nova gestão.
Expectativas e curto prazo
A empolgação da torcida vascaína, nutrida pela esperança de dias melhores, deve ser acompanhada de paciência. “O processo de criação de uma SAF é complicado e requer muitas etapas”, afirmou o principal acionista da 777 Partners, Josh Wander, em pronunciamento aos torcedores. Claramente, antes de sonhar com um Vasco poderoso, é necessário ascender à Série A do Campeonato Brasileiro e não esperar títulos de imediato.
Neste primeiro momento, o fundamental é equilibrar a ordem interna e as contas do clube, para que, uma vez organizada, a saúde da instituição fora de campo beneficie as ações dentro das quatro linhas. De agora em diante, o time carioca funciona como uma empresa. No momento, o clube tramita para abrir um CNPJ e uma conta bancária. Além disso, é necessário alterar a forma de atuação na Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Quando o dinheiro entra no Vasco?
Parte do aporte de R$ 700 milhões caiu nos cofres do Vasco em março. Na ocasião, a 777 Partners antecipou R$ 70 milhões a título de empréstimo-ponte. O processo foi aprovado pelo Conselho Deliberativo. Ainda em 2022, a empresa norte-americana deve injetar mais R$ 120 milhões no clube carioca. O restante do dinheiro da venda da SAF será investido no cruzmaltino até 2026. No ano seguinte, os aportes estarão aliados ao desempenho esportivo.
O elenco vai ser qualificado?
O aporte inicial da 777 Partners, à priori, não significa a obtenção de um elenco dos sonhos, recheado de estrelas. Esse é um ponto-chave nos primeiros instantes de transição, sobretudo para a próxima temporada (com o cenário virtual de um acesso, uma vez que o Vasco está cotado para subir e ocupa, de momento, o 4º lugar na Série B). Os nomes de jogadores recém-chegados — alguns nem tão conhecidos pelo torcedor comum — fazem parte dessa lógica.
No entendimento da 777 Partners, o grupo atual é suficiente para cumprir o objetivo de tirar o clube da segunda divisão. Além disso, a janela de transferências internacionais fecha na próxima segunda-feira (15/8), impossibilitando, por exemplo, a inscrição de reforços contratados de clubes do exterior,
Crescimento gradual
A SAF, em si, não deve ser algo de brilhar aos olhos dos torcedores de cara. A necessidade de aguardar, pelo menos, alguns meses vem no exemplo de outra SAF em momento de transição no pós-acesso à Série A. O Botafogo sofre com oscilações, mas não tem ameaças de momento nos seus planos a curto prazo: reforça gradualmente o elenco e entende que deve ser dado um passo de cada vez para chegar a competir com as principais potências do futebol nacional e sul-americano. Logo, não dar um passo maior do que a perna também pode ser importante para o Vasco.
Ordem interna
Embora a iniciativa da sociedade anônima de futebol exista, o clube não deve ter, necessariamente, o comando tomado pela SAF. Mesmo com o departamento de futebol liderado pela 777 Partners, outros órgãos internos do Vasco (como os conselhos) e a torcida devem ter sua voz, sobretudo em uma agremiação historicamente ativa em manifestações sobre a política interna. No pronunciamento de Josh Wander aos vascaínos, o acionista disse não ter vindo para mudar o que foi construído pela história do Vasco, mas seguir a escrevê-la. O tempo responderá se essa tendência seguirá.
São Januário será reformado?
Assunto recorrente entre os vascaínos, um upgrade em São Januário chegou a ser considerado logo nas primeiras semanas da aproximação da 777 Partners com o clube. O cruzmaltino chegou a apresentar um projeto para os executivos norte-americanos em março. Porém, até onde se sabe, não há obrigação da SAF de realizar intervenções no estádio. Na prática, o espaço segue sendo gerido pela associação civil do Vasco. Caso haja uma reforma na cancha vascaína, o time ainda teria onde jogar. Em clima bélico com a administração da dupla Flamengo e Fluminense, o cruzmaltino procura meios de participar da licitação do Maracanã, prevista para o segundo semestre do ano… leia mais em Correio Braziliense 09/08/2022