A Azul não vai comprar a TAP. Mas seu fundador, o empresário David Neeleman, pode participar do negócio, que conta com o apoio do governo brasileiro.

A empresa aérea Azul, do empresário David Neeleman, não tem interesse em comprar a TAP, estatal que foi colocada à venda pelo governo de Portugal no ano passado. Isso não impede que Neeleman, fundador e CEO da companhia brasileira, se interesse pelo negócio. “A Azul não vai comprar a TAP”, afirmou à DINHEIRO o empresário. “Mas posso ajudar, caso um grupo de investidores considere investir na companhia.” Sua declaração vem em um momento oportuno. Isso porque o governo português busca aumentar o número de interessados na companhia aérea, que possui voos regulares entre a Europa e dez cidades brasileiras. Com dívidas que ultrapassam € 1 bilhão, a empresa precisa arrumar um sócio urgentemente.

O problema é que, até o momento, apenas um investidor se dispôs a apostar nela. Trata-se do grupo Synergy, dos irmãos bolivianos, naturalizados brasileiros, José e German Efromovich, controladores da Avianca. Em dezembro do ano passado, houve a primeira tentativa de vender a TAP. Apenas uma proposta chegou aos últimos estágios da licitação, assinada pelos irmãos Efromovich. Apesar da vitória, eles não levaram a estatal. Isso porque Portugal cancelou a licitação, alegando problemas nas garantias de crédito apresentadas pelos empresários. Vender a companhia aérea, no entanto, continua sendo uma necessidade para o governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.

Mergulhada em dívidas, a TAP precisa ser capitalizada, se quiser continuar competindo no turbulento mercado de aviação comercial. Um novo leilão está sendo preparado e o edital deverá ser publicado ainda neste ano. Para isso, será necessário resolver duas questões. A primeira é arrumar mais gente para participar do pleito. “Não queremos chegar à situação de ter só um investidor”, afirmou Sergio Monteiro, secretário de Estado dos Transportes de Portugal, em meados de julho, durante um encontro com jornalistas. A segunda é concluir a venda da TAP Manutenção e Engenharia, subsidiária que opera no Brasil. Nesse caso, a situação é ainda mais crítica. Até agora, ninguém se interessou pela companhia.

 O governo brasileiro vê com bons olhos a aquisição da TAP por uma empresa de capital nacional. A preferência da presidenta Dilma Rousseff, que esteve em Portugal em junho para tratar de estímulos à entrada de companhias brasileiras no país, seria pela Azul, e não pela Avianca. No começo deste ano, Neeleman se encontrou com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Os dois conversaram sobre a possibilidade de a Azul fazer uma oferta pela TAP. Pimentel afirmou que o governo estaria disposto a ajudar na negociação, mediante financiamento concedido pelo BNDES.

 No entanto, de acordo com uma pessoa próxima a Pimentel, a opção de reunir um grupo de investidores para a compra da TAP não foi colocada sobre a mesa em nenhum momento. A relutância de Neeleman em fazer a Azul participar do negócio se justifica. A empresa aérea brasileira tem como estratégia atuar no mercado de voos locais, de baixo custo. “Para incorporar a TAP, a Azul teria de mudar completamente de estratégia”, afirma Respício Espírito Santo Jr., professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Instituto Cepta, especializado em estudos sobre o setor aéreo. “Essa aquisição faz mais sentido para a Avianca.”

A empresa dos Efromovich adota uma estratégia mais parecida com a das líderes do mercado brasileiro, TAM e Gol. Ela voa principalmente para capitais e possui uma operação internacional relevante, aproveitando seus braços latino-americanos, especialmente na Colômbia, país que funciona como um hub para voos aos Estados Unidos. Segundo José Efromovich, o grupo não desistiu do negócio. “Vamos esperar a abertura da licitação para analisar o edital”, afirmou. Ao que parece, se o problema era a falta de interessados, os portugueses já podem ficar tranquilos.Por Rodrigo CAETANO