Nos últimos dois meses, a empresa de gestão ambiental Ampipar fez 14 aquisições, uma média de uma a cada quatro dias. O ritmo vai seguir intenso. Mas a companhia vai precisar de dinheiro. A CEO Cristina Andriotti explica a estratégia ao NeoFeed

Cristina Andriotti, CEO da Ambipar

Na segunda-feira, 2 de agosto, a empresa de gestão ambiental Ambipar anunciou a aquisição de 55% da Drypol, que transforma o plástico PET em embalagens para produtos de higiene e limpeza. Três dias antes, havia comprado a americana PERS (Professional Emergency Resource Services), a sétima transação nos Estados Unidos, reforçando sua área de prevenção a acidentes ambientais e resposta a emergências.

O ritmo de M&As na Ambipar parece coisa de maluco. E, de fato, é, sem nenhum exagero. Em junho e julho deste ano, a empresa fez 14 aquisições, uma média de uma companhia adquirida a cada quatro dias. Entre elas, estava a chilena Disal Ambiental, por aproximadamente R$ 800 milhões, a maior de sua história, marcando sua estreia na área de gestão de resíduos na América Latina. Desde o IPO, em julho de 2020, quando captou quase R$ 1,1 bilhão em uma oferta primária, foram 22 fusões e aquisições, quase duas compras por mês.

Não à toa, o BTG Pactual chamou a Ambipar de “máquina de fusões e aquisições”, em relatório no fim de junho. E, ao que tudo indica, essa velocidade frenética de M&As não vai parar. “Ainda temos oportunidades no Brasil na área de gestão de resíduos e, agora, com a compra da Disal ainda há negócios para serem vistos na América Latina’, diz Cristina Andriotti, CEO do grupo Ambipar, em entrevista ao NeoFeed. “E também vemos oportunidades nos EUA para a área de atendimento a emergências.”

A estratégia, de acordo com a executiva, deve seguir a linha de adquirir empresas que permitam expansão geográfica, bem como ampliar as linhas de atuação e que tenha sinergias com os dois negócios do grupo: a gestão ambiental (Environment) e a de prevenção a acidentes ambientais e resposta a emergências (Response).

A Disal é um bom exemplo. Com a transação, a companhia passou a atuar em gestão de resíduos na América Latina, pois a companhia tem presença no Chile, Peru e Paraguai). Ao mesmo tempo, reforçou sua área de mineração, na qual a empresa comprada é forte.

Mas para que essa “máquina de fusões e aquisições” não emperre, a Ambipar vai precisar de mais dinheiro para que possa seguir funcionando de forma azeitada. Desde o IPO, a companhia já investiu aproximadamente R$ 1,5 bilhão em M&As, de acordo com Thiago Silva, diretor financeiro da Ambipar.
Na compra da chilena Disal, que fez mais do que dobrar o tamanho de sua área de gestão de resíduos, por exemplo, a Ambipar emitiu R$ 900 milhões de debêntures. Silva diz ainda que há espaço para financiar esses negócios via balanço da empresa.

Com as aquisições recentes, a companhia, que tinha R$ 193,9 milhões no caixa depois de descontada a dívida bruta, passará a ter um endividamento de 2 vezes o seu Ebtida, segundo Silva. O executivo acredita que pode chegar a 2,5 vezes o Ebitda. Mas admite: vai precisar buscar recursos para seguir executando o plano. “Estamos avaliando todas as opções, sejam ela se alavancar ou, eventualmente, acessar o mercado de capitais”, diz Silva.

Na semana passada, surgiram rumores no mercado que a Ambipar iria fazer uma cisão da sua área de gestão e resíduos da de atendimento a emergências e, assim, buscar mais recursos. As ações disparam com os boatos, subindo quase 30% desde o dia 27 de julho. Desde o IPO, em julho do ano passado, os papéis já avançaram 117% – a companhia vale R$ 6,2 bilhões. Sobre a cisão, Andriotti diz que a hipótese é bem remota. “É boato mesmo”, diz a CEO da Ambipar.

Em fato relevante, comentando sobre a questão da cisão das divisões, a Ambipar não foi tão categórica, dizendo que ‘está constantemente avaliando alternativas de captação de recursos para fortalecer as estrutura de capital e financeira do grupo, bem como financiar futuras aquisições e expansões’. “Essas alternativas podem incluir, entre outras, operações de mercado de capitais que envolvam o negócio de gerenciamento de resíduos.”

Em relatório em que aumentou o preço-alvo das ações da Ambipar para R$ 51 (na quarta-feira, 4 de agosto, elas fecharam a R$ 55,39), o BTG Pactual traçou uma visão otimista sobre a empresa, acreditando que ela conseguirá manter sua máquina de aquisições funcionando. “Continuamos construtivos com a estratégia de crescimento da companhia, especialmente com sua expansão nos Estados Unidos”, escreveram os analistas João Pimentel e Gisele Gushiken.
A favor da companhia, pesa o fato de haver poucas companhias com o escopo de atuação da Ambipar no Brasil. Na B3, a única empresa que compete com ela é a Orizon, que abriu o capital em fevereiro deste ano, e atua no setor de destinação de resíduos sólidos. Na ocasião, captou R$ 554 milhões. Hoje, vale R$ R$ 1,8 bilhão com alta de seus papéis, desde o IPO, de mais de 18%.

Integração e ESG

Ao mesmo tempo que busca formas para manter a “máquina de fusões e aquisições” em funcionamento, a Ambipar corre para integrar essas compras. A estratégia é manter os fundadores à frente da gestão, livrando-os dos serviços administrativos. “Nosso objetivo com as empresas adquiridas é que os antigos donos foquem no comercial e no operacional. Cuidamos de toda a parte financeira, cobrança, faturamento, jurídico e tributário”, diz Andriotti.

Desde 2012, a Ambipar conta com um centro de serviços compartilhados, cuja missão é cuidar dessa integração que vai da folha de pagamento ao ERP. Em média, uma empresa dura de três e seis meses para vir à bordo. A AFC, comprada em janeiro e que marcou a expansão da Ambipar para a região Norte e Nordeste na área de resíduos industriais, passou a rodar no sistema da Ambipar em julho. “Temos todos os controles nas mãos”, diz Costa.

Atualmente, a companhia atua em 19 países das Américas, Europa, África e está até mesmo na Antártida, onde atende navios de cruzeiros. No primeiro trimestre deste ano, a receita bruta somou R$ 297,4 milhões, alta de 82,2%. O lucro líquido atingiu R$ 32,3 milhões, um avanço de 195,7%. Esse crescimento não pode ser atribuído exclusivamente aos M&As – tanto que a maior quantidade deles aconteceu entre junho e julho…. leia mais em neofeed 05/08/2021