ADP tenta ir além da folha de pagamento com a ‘nuvem’
Segundo Cesar Marinho, diretor-geral da ADP no Brasil, a companhia americana avalia a aquisição de “duas ou três empresas de tecnologia no país”
A companhia americana Automatic Data Processing (ADP) tornou-se conhecida por ser a responsável pela divulgação dos relatórios de emprego do setor privado nos Estados Unidos, ao lado da consultoria Macroeconomic Advisers. Desde sua origem, há 62 anos, a principal atividade da empresa sempre foi processar a folha de pagamentos de outras companhias. Mas há dois, a ADP decidiu mudar a estratégia. Em vez de só responder pela folha de pagamento, passou a ampliar a esfera de atuação, com o objetivo de assumir o papel de gestora de toda a área de recursos humanos.
Agora, com a operação reformulada, a ADP planeja redobrar os esforços no Brasil para incrementar sua base de clientes, especialmente companhias de pequeno e médio portes.
A concepção na ADP é tornar-se um misto entre SAP, a companhia de softwares empresariais, e Accenture, oferecendo também consultoria de serviços de tecnologia para folha de pagamentos.
Para assumir esse papel, a ADP fez investimentos anuais da ordem de US$ 300 milhões e US$ 400 milhões para adquirir empresas de TI e agregar tecnologias a seu negócio, incluindo softwares de gestão e de análise de dados. Os softwares de processamento da folha de pagamentos foi integrado a programas de análise e gestão de talentos, possibilitando a executivos de RH avaliar seu quadro de pessoal e compara-lo com equipes de outras companhias.
As mudanças também levaram a companhia americana a substituiu o modelo de venda de licenças de software pela oferta dos programas como serviço, com acesso remoto via internet (na chamada nuvem computacional). “Essa mudança proporcionou uma agilidade fantástica porque não é mais necessário ir a cada empresa para atualizar os softwares”, afirma Cesar Marinho, diretor-geral da ADP no Brasil. A companhia também reforçou o trabalho de consultoria e passou a oferecer pacotes de softwares personalizados, variando de acordo com a demanda de cada empresa.
Como resultado, a ADP encerrou o ano fiscal de 2012, em 30 de junho, com aumento de 7,8% na receita, para US$ 8,41 bilhões, e de 10,7% no lucro líquido, para US$ 1,39 bilhão. A consultoria Gartner estima que o mercado de serviços de terceirização de folha de pagamentos e gestão de recursos humanos terá um crescimento de 1,4% neste ano, com expansão de 3,3% ao ano de 2013 a 2015.
Segundo a Gartner, 94% das companhias terceirizam pelo menos um processo na área de recursos humanos, sendo o mais procurado o de terceirização da folha de pagamentos. A ADP lidera o mercado no mundo, de acordo com a consultoria.
Marinho diz que somente nos Estados Unidos a ADP terceiriza a folha de pagamento de um quinto dos americanos, sendo responsável por tarefas como gerar a folha, recolher impostos e pagar funcionários. Por ano, passam pelos cofres da companhia até US$ 4 trilhões. No mundo, a companhia tem 600 mil clientes e processa os pagamentos de 35 milhões de profissionais. A ADP atua em 120 países. No Brasil, mantém contratos com 3 mil clientes e faz o processamento da folha de 800 mil trabalhadores.
Neste ano, a companhia também adotou o conceito de mobilidade em seus negócios. Nos EUA, lançou versões dos seus softwares para o iPhone e o iPad, ambos da Apple. No Brasil, afirma Marinho, essa tecnologia ficará disponível a partir de 2013. “A beleza da mobilidade e de oferecer softwares na nuvem é que a tecnologia chega com um enorme valor agregado e a um custo razoável”, diz o executivo. Marinho estima que neste ano a ADP crescerá 10% no Brasil. O valor não é revelado.
A companhia atua há 45 anos no país e mantém unidades em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Curitiba, em Porto Alegre e em Ribeirão Preto (SP). A ADP tem 650 funcionários no Brasil e 58 mil no mundo. No país, os softwares e os bancos de dados ficam armazenados em um centro de dados da IBM.
Neste ano, a ADP inaugurou a unidade no interior paulista e prevê abrir um escritório em Belo Horizonte até dezembro. No início de 2013, planeja abrir outra unidade em Recife. “No Brasil há um movimento claro de formalização das empresas, principalmente as pequenas e médias, o que torna a nossa oferta mais atrativa”, afirma Marinho. Em média, o governo, em suas várias esferas, faz 80 atualizações por ano na legislação trabalhista do Brasil. Empresas de pequeno e médio portes têm mais dificuldades em manter seus sistemas de folha de pagamento atualizados. É isso que atrai o interesse dessas companhias em adquirir softwares na nuvem – que são atualizados automaticamente – ou terceirizar o processamento da folha de pagamentos.
Marinho diz que dos 3 mil clientes atuais, metade terceiriza o serviço de processamento da folha; a outra metade apenas paga pelo uso dos softwares. “Mas a área que mais cresce é a de terceirização”, afirma. Nos Estados Unidos, a ADP atende companhias de todos os portes mas, no Brasil, a atenção é dirigida a companhias de grande porte (com mais de 1 mil funcionários). Para atrair clientes com até 50 funcionários, a ADP reformulou sua oferta de pacotes de software. “Embora 60% da receita ainda seja proveniente de grandes empresas, as vendas para pequenas e médias dobra este ano”, diz.
A ADP também pretende ampliar a sua atuação na América Latina a partir do Brasil. “A participação na região é fraca”, diz Marinho. A companhia já tem clientes no México, na Argentina e na Venezuela, mas atua nesses lugares por meio de parceiros. A companhia avalia a aquisição de “duas ou três empresas de tecnologia no Brasil” para atender toda a América Latina, afirmou o executivo. Por Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico 02/10/2012