O médico sanitarista e gestor em saúde Álvaro Madeira Neto, especialista em Medicina Preventiva e Social, professor de Medicina da Faculdade Estácio, em Canindé, fez uma avaliação sobre o mercado de fusões e aquisições (M&A) no Ceará na área hospitalar e de operadoras de saúde, que teve uma expansão nos últimos anos. Os principais players do mercado nacional enxergaram oportunidades no Estado e realizaram movimentos importantes aqui.

A Amil adquiriu o Hospital Monte Klinikum; a Rede D’Or comprou o Hospital São Carlos, e a Kora Saúde fez a aquisição do Hospital São Mateus, Gastroclínica e Otoclínica. O Grupo ICC/LIV assumiu a operação do Hospital São Raimundo, uma vez que o ICC é referência nacional no tratamento oncológico e tem um papel muito importante na residência médica e na formação dos profissionais da Medicina. Além disso, o Hapvida realizou diversas aquisições em diferentes estados do País, inclusive a fusão com a NotreDame Intermédica, formando uma das maiores operadoras do Brasil.

Essa verticalização foi realizada no sentido de tentar obter um melhor valor de custo na aquisição de equipamentos e insumos, criar condições de escalar estas compras, controlar melhor os gastos e ter uma programação mais assertiva em relação aos tradicionais hospitais de administração familiar. E, também, melhorar o atendimento aos pacientes. Mas existe um risco, que precisa ser fiscalizado pelas agências reguladoras para evitar que esse movimento possa gerar um valor elevado dos planos, serviços e exames, dificultando o acesso à grande parte da população. E esse trabalho tem sido feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em todo o Brasil”, afirma.

Entretanto, diz que aqui no Ceará essa verticalização tem sido positiva de uma forma geral, com hospitais locais integrando grandes grupos nacionais, ofertando serviços de qualidade e com preços acessíveis. “Mas a fiscalização é necessária. Apesar de termos o Serviço Único de Saúde (SUS), mantido pelo Governo Federal, existe muito espaço para a saúde suplementar (privada), a fim de garantir um atendimento mais rápido, pois em alguns casos específicos o SUS enfrenta gargalos, apesar de ser referência mundial”, destaca.

Álvaro Madeira destaca operações de M&A
Freepik

Educação

Ele lembrou que esse movimento também tem provocado uma expansão na oferta de cursos de Medicina no Ceará. Mas ressaltou é preciso verificar a demanda. Isso porque no Brasil há, em média, 2,6 médicos para cada grupo de 1.000 habitantes. Na maior parte dos países da OCDE isso gira em torno 3,7 médicos/1.000. No Ceará essa relação é de 1,89/1.000, mas em Fortaleza existem 4,66 médicos por mil habitantes.

“Isso mostra que a capital cearense tem uma concentração muito grande de profissionais, mas a partir de cerca de 100 quilômetros de Fortaleza, em muitas cidades não existe um médico sequer. Aí se justifica a abertura de novos cursos. Mas vale destacar que não é apenas essa abertura, mas a qualidade deles e também é fundamental que os alunos tenham a vocação para a profissão e, na lógica deles, sejam colocados os valores do que significa ser médico”, ressalta Álvaro.

Outro fator importante para promover a interiorização dos médicos é garantir a residência nestas cidades e haver uma política pública que garanta o trabalho desses profissionais, sem uma interferência direta de grupos políticos, que lhe garanta uma independência. “Um bom exemplo disso é o juiz de Direito, que vai para uma Comarca no interior sabendo que vai ter seu salário garantido, seus direitos e também a progressão na carreira, sem interferências políticas”, defende.

Atualmente, o Ceará possui 12 faculdades de Medicina, sendo quatro em Fortaleza e oito no interior, mas muitas delas ainda estão formando suas primeiras turmas. “Mas temos uma demanda reprimida para absorver estes novos profissionais. E mantendo-se este volume de alunos se formando, até 2030 tenhamos três médicos para grupo de 1.000 habitantes no Estado, que é um número muito bom, dentro dos padrões de outros países desenvolvidos, onde a média global gira em torno de três a quatro por 1.000 habitantes”, explica…. leia mais em Portal In 30/08/2023