Argumento dos americanos é que têm investidores com apetite por companhias menores
 Estendida a estrangeiras, nova lei ajuda companhia brasileira a chegar ao mercado dos EUA

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ituada no maior centro financeiro do mundo, a Bolsa de Nova York quer levar empresas brasileiras de menor porte, que têm dificuldades de levantar dinheiro no mercado nacional, a captarem recursos com ações nos EUA.

 O principal argumento é que, diferentemente do que ocorre no Brasil, eles têm investidores acostumados e com apetite para aportar recursos nessas empresas.

 Esse apelo ganhou força após o chamado JOBS Act (Jumpstart Our Business Start-ups, Lei de Incentivo a Empresas Nascentes), assinado pelo presidente Barack Obama em 2012, para facilitar a captação de recursos por empresas menores e, com isso, gerar empregos no país.

 A lei estende de dois para cinco anos o prazo para essas empresas cumprirem uma série de exigências regulatórias de contabilidade e de transparência na gestão.

 “Esse benefício foi estendido aos estrangeiros e tem incentivado empresas brasileiras a considerarem a abertura de capital nos EUA”, disse o advogado Grenfel Calheiros, do escritório Simpson Thacher & Bartlett.

 Calheiros assessorou a Brasil Agro, brasileira que administra terras e fazendas, a listar suas ações em Nova York no ano passado. A empresa foi a primeira latino-americana a aproveitar o JOBS Act para levar suas ações aos EUA.

 Desde os anos 80, a Bolsa brasileira discute como fazer com que pequenas empresas vendam ações para financiar sua expansão. Nos EUA, Europa, Índia, entre outros, há captações a partir de US$ 1 milhão, algo impensável no Brasil, onde o “tíquete médio” é de US$ 250 milhões.

 BM&F BOVESPA REAGE
 A iniciativa da Bolsa de Nova York contrasta com os debates coordenados no Brasil pela BM&F Bovespa, que apresentará nos próximos dias ao governo uma série de propostas, incluindo benefícios fiscais, para incentivar as empresas menores a ter ações negociadas na Bolsa.

 Alex Ibrahim, responsável na Bolsa de Nova York pela América Latina, enumera as vantagens da Bolsa americana em relação a outros mercados, como liquidez, maturidade, visibilidade, e maior acesso a investidores e a analistas especializados.

 “O mercado americano é gigante. Ser listada aqui aumenta a liquidez. Como consequência, sobe também a liquidez no mercado local, que é o maior beneficiado. Isso ocorreu com todas as 26 brasileiras que estão aqui. Não somos competidores. A ideia é complementar”, disse.

 A primeira brasileira a listar ações no EUA foi a antiga Aracruz (hoje Fribia, após a fusão com a VCP), há 20 anos. Desde então só empresas gigantes, como Ambev e Pão de Açúcar, chegaram aos EUA.

 Mas estão em andamento conversas com empresas de menor porte, com valor de mercado abaixo de US$ 2 bilhões. É o caso da BRQ, empresa de tecnologia, que deve chegar à Bolsa até 2015.

 “O mercado americano é mais receptivo para pequenas e médias. Uma transação de IPO [abertura de capital] nos EUA é de US$ 150 milhões em média. No Brasil, as grandes ainda estão entrando. Aqui, é difícil achar outro Facebook porque já é um mercado maduro”, diz Ibrahim.

 BRQ decide se abre capital no Brasil ou nos EUA 

A Bolsa de Nova York rejeita a interpretação de que tem “assediado” companhias brasileiras para abrir capital nos EUA, mas a reportagem localizou um empresário que fez contato com a Bolsa americana. 

Para Benjamin Quadros, presidente da empresa de tecnologia BRQ, uma das vantagens dos EUA é o acesso ao investidor especializado. “No Brasil, eu preciso ainda ‘ensinar’ o investidor a ler o setor onde eu atuo porque o mercado é pequeno”, afirma.

 O empresário disse que o conselho está inclinado a abrir o capital no Brasil, mas que estuda a possibilidade de fazer isso nos EUA nos próximos dois ou três anos.

 Para Cristiana Pereira, diretora de desenvolvimento de empresas da BM&F Bovespa, ter o nome listado nos EUA não garante acesso ao investimento. “Para atingir esse investidor, há um esforço muito grande, permanente, de divulgação naquele mercado, como publicar resultado trimestral, fazer conferências e trabalhar para ser conhecida. Isso implica em custos. Senão, a listagem acaba não sendo efetiva”, ressalta.
Por JOANA CUNHA
DE NOVA YORK
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
Fonte: Folha de Sao Paulo 01/04/2013