“Bovespa pode ter 750 novas empresas e deixar de ser um ‘mercado patético'”
Uma maior quantidade de pequenas e médias empresas na BM&FBovespa pode ajudar bolsa a sair da 26ª posição – abaixo até mesmo da Mongólia
A BM&FBovespa possui 353 empresas listadas atualmente, conferindo à bolsa brasileira o posto de 26ª maior do mundo nesse quesito. A própria bolsa estima que diversas empresas estejam esperando o melhor momento para realizar um IPO (Oferta Pública Inicial de Ações), mas é possível que uma quantidade ainda maior, as famosas PMEs (Pequenas e Médias Empresas), esteja esperando por condições melhores para listar.
A criação de um mercado de capitais salutar é condição praticamente necessária para o crescimento de uma economia capitalista. E é em criar essas condições que o PAC-PME (Programa de Aceleração de Crescimento para Pequenas e Médias Empresas) tem se dedicado, provendo o dinamismo necessário para a economia brasileira crescer. O movimento, desenvolvido e apoiado por mais de 50 entidades, incluindo nomes de peso como Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3), BTG Pactual (BBTG11), FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), MBC (Movimento Brasil Competitivo), PwC e Deloitte, quer permitir que as pequenas e médias empresas listem, captem recursos, aumentem de tamanho e façam o País crescer.
“A Bovespa pode ter 750 novas empresas listadas e deixar de ser um um mercado patético. Atualmente, somos a 7ª economia do mundo e apenas a 26ª maior bolsa do mundo, com apenas 353 empresas listadas e um acesso à bolsa completamente travado”, afirma Rodolfo Zabisky, CEO (Chief Executive Officer) do @ttitude, maior empresa independente de serviços de relações com investidores do mundo. Zabisky é coordenador do portal e um dos mentores do movimento, que pede por duas medidas essenciais por parte do governo e outras complementares por parte da BM&FBovespa, CVM (Comissão de Valores Mobiliários), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Essas medidas, estima Zabisky, fariam 750 novas empresas listarem suas ações na Bovespa nos próximos cinco anos, levantando cerca de R$ 90 bilhões em investimentos privados, que seriam reinvestidos na economia, fortalecendo o crescimento nacional. “É um processo de formiguinha, isso dinamizaria a economia, e, mais importante, de forma sustentável”, diz o executivo.
Bolsa brasileira é muito pequena
Com cerca de 200 milhões de habitantes, a bolsa brasileira possui menos empresas listadas do que a MSE (Mongolian Stock Exchange) da Mongólia, a menor em termos de valor de mercado das empresas. Em um país com quase 3 milhões de habitantes, 410 empresas podem ser negociadas, bastante acima do Brasil, que possui mais de 190 milhões de habitantes.
“Para crescer e evoluir em competitividade, a gente precisa colocar um pouco de adoçante para atrair essas [pequenas e médias] empresas e os investidores”, afirma. Para tal, o movimento propõe algumas medidas que possam viabilizar esse destravamento, que variam de créditos fiscais à criação de um Nível 2 de governança corporativa no Bovespa Mais, segmento da BM&FBovespa voltado para esse tipo de empresa.
“Apesar de uma mobilização sem precedentes, ainda precisamos da ajuda do governo. Ele é a peça fundamental para que o mercado se desenvolva, precisamos que essas propostas cheguem às mãos da Presidente Dilma”, destaca o executivo.
PMEs são mais interessantes?
Uma das duas principais medidas defendidas pelo PAC-PME está relacionada ao desenvolvimento pela demanda de ações de PMEs por parte dos investidores, já que atualmente elas – justamente as que mais precisam de capital para expandir – possuem maior risco e menor liquidez. Uma ideia, que já vem sendo cogitada pelo Ministério da Fazenda, é permitir que os acionistas de empresas tidas como small caps paguem menos IR (Imposto de Renda) sobre ganhos de capital nestas ações – atraindo os investidores.
O mais interessante, na opinião de Zabisky, deve ser o potencial de crescimento das PMEs – uma excelente oportunidade para o investidor, já que atualmente a renda fixa está basicamente empatada com a inflação no País. “Uma PME tende a ter crescimento maior, comparativamente a uma empresa de maior porte. Isso, sem dúvida, já é um atrativo para investidor entrarem nessas PMEs”, ressalta o executivo.
Custos proibitivos de realizar ofertas
Os gastos das empresas precisam ser levados em conta. Zabisky cita que em um IPO de cerca de R$ 100 milhões – pequeno para os padrões nacionais -, uma empresa pode chegar a gastar cerca de R$ 15 milhões com bancos, assessores, taxas de listagens e outros gastos. Além disso, há custos internos, como formalização do negócio, governança e criação de um conselho de administração. Isso acaba restringindo a entrada das pequenas e médias empresas na BM&FBovespa.
A solução? O governo permitir que esse custo seja abatido futuramente no IR, por um prazo de cinco anos, o que permitiria que as pequenas operações, muito comuns nos EUA mas com poupa popularidade por aqui, viessem a ocorrer – por lá, 2012 contou com 94 IPOs, contra 4 por aqui, aponta o CEO da @ttitude. “As PMEs arcariam com todas as despesas de preparação, IPO e compliance, mas depois você a recuperaria. Isso contribuiria para o desenvolvimento da oferta, pela redução substancial do custo desse capital para crescimento”, afirma.
Viabilizando o IPO de empresas pequenas e médias, é necessário também realizar uma mudança de mentalidade, que precisaria começar a partir dos bancos. Abrindo mais espaço para essas companhias menores, os bancos poderiam oferecer diferentes fontes de capital e serviços relacionados além do auxílio ao processo de abertura de capital, tais como com relatórios de análise pós-IPO e formadores de mercado, como o mercado norte-americano.
“O que o governo tem a perder? Nada”
Um outro ponto ressaltado pelo CEO do @ttitude é o fato de que o governo “não tem nada a perder com a operacionalização do PAC-PME”. A isenção fiscal, por exemplo, impulsionaria as empresas em um processo de criação de riqueza – e o governo acabaria por tomar a sua parte desta riqueza, desde que realizada no momento correto no momento correto.
Ao permitir que as 750 empresas estimadas pelo movimento realizem seus IPOs, Zabisky acredita que o governo tem a ganhar cerca de R$ 2,5 bilhões apenas com IR não abatido com a proposta – conforme as empresas aumentem suas arrecadações com a expansão pós-abertura de capital. Ele menciona também ganhos de R$ 7 bilhões com INSS e FGTS. “Seria formado um grande ciclo virtuoso na economia”, diz.
Mais importante ainda do que o aumento de receita para o governo, segundo Zabisky, é o fato de que a proposta pode “religar” o crescimento nacional. “Tivemos um crescimento muito abaixo de outros países emergentes e da média de crescimento mundial em 2012”, afirma o executivo. As PMEs são muitíssimo importantes para prover dinamismo à economia nacional – e as medidas propostas pelo movimento PAC-PME são a oportunidade para criar.
“A Dilma me parece preocupada em turbinar as pequenas e médias empresas, segmento responsável por 60% do emprego nacional, ela até criou um ministério com esse intuito”, salienta. Por Felipe Moreno
Fonte: Infomoney 01/02/2013