O investidor estrangeiro já trouxe quase R$ 80 bilhões para a bolsa local neste ano, entre compras no mercado à vista, futuro e ofertas de ações. Em menos de três meses, a B3 já atraiu 57% do volume que entrou no ano passado inteiro. Diante do conflito Rússia e Ucrânia, o Brasil e outros países da América Latina têm se beneficiado da conexão com com as commodities e da rotação de carteiras, de ações de crescimento para casos de valor.

A dúvida é quanto tempo esse movimento vai durar. Há quem considere que ainda há um fluxo que vai aportar por aqui, já que em dólar os ativos brasileiros estão baratos. Outros acham que o dinheiro novo não vai tão longe porque tem eleições no Brasil, , um fiscal mal resolvido e aumento de juros nas economias desenvolvidas.

“O dinheiro procura duas coisas: diferencial de crescimento e de juros, onde tem mais juros. Idealmente, se a região tiver um diferencial de juros positivo e crescimento também, na margem, vai atrair mais capital. O que o país viveu recentemente que performou tão bem foi o fato de ter preços depreciados. O Brasil sofreu antes com a moeda muito desvalorizada em relação aos pares comparáveis e não tinha juros nem crescimento.

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Capital externo traz R$ 80 bi
Bolsa de Valores de São Paulo, a B3 (Foto: Rafael Matsunaga/Wikimedia)

Aperta o botão para frente e tem a correção da taxa de juros nominal, mas não crescimento”, diz Marcelo Santucci, sócio-responsável pela gestão de portfólios internacionais do BTG Pactual. “Um pouco do dinheiro veio pela depreciação e pela taxa de juros, fica faltando o crescimento estrutural, as reformas, há o desafio do ajuste fiscal e a incerteza com as eleições. Para ter o dinheiro grande de verdade, precisa do estrutural. Essa é uma última incógnita.”

Para o executivo, esse movimento recente de fluxo estrangeiro não parece ser duradouro. Apesar do recente revés internacional, ele acha que a diversificação de moedas e de regiões para o brasileiro segue como uma estratégia válida para suavizar períodos de alta tensão como se observa nos mercados globais.

Muito antes do agravamento da guerra no Leste Europeu, já havia um realocação de ativos nas carteiras globais que acompanhou em alguma medida as altas dos juros futuros dos Treasuries americanos, diz Leonardo Morales, sócio da SVN Gestão de Recursos.

Menor exposição em companhias de crescimento

Com a subida das taxas longas, o investidor diminuiu a exposição em companhias de crescimento, principalmente no setor de tecnologia, com múltiplos mais esticados, e foi para ativos mais ligados à cadeia de commodities e bancos, que estavam com preços mais atraentes, segmentos considerados de valor na economia tradicional.

“Quando se olha para o Ibovespa, 60% é formado por commodities e bancos. Nessa rotação, o Brasil foi favorecido, bem bem como toda a América Latina: Peru, Colômbia, Chile, todos tiveram valorização e suas moedas, também.”

Morales afirma que o Brail perdeu muito peso nos índices internacionais nos últimos anos e qualquer aumento traz uma entrada forte de capital para o país. Ele lembra ainda que a Rússia costuma ter uma participação parecida nos referenciais de bolsas emergentes, mas as vendas lá nem aconteceram porque o mercado de ações está paralisado desde a invasão na Ucrânia. “Sempre tem um ‘smart money’ que deve ter vendido antes e comprado Brasil e América Latina.”

Foi um fluxo que acabou dando saída para gestores de ações e multimercados locais que seguem tomando resgates, acrescenta o gestor…. leia mais em Valor Econômico 13/03/2022