O otimismo dos gestores de fundos multimercados com a bolsa brasileira aumentou em março em relação a fevereiro, antes do “efeito Petrobras” azedar o humor de investidores, apontou um estudo feito pela casa de análises Empiricus com 42 gestoras de recursos.

O levantamento foi realizado com os profissionais entre 1º e 7 de março. Na noite do dia 7, contudo, a Petrobras surpreendeu investidores ao anunciar a ausência de dividendos extraordinários. A calmaria deu lugar a uma piora no sentimento do mercado com a estatal, que tem quase 13% de peso no Ibovespa, mas ainda não dá para saber se o mau humor se consolidará e se estenderá para o restante das ações.

Antes do anúncio inesperado, a maioria dos gestores de fundos multimercados estava otimista com a bolsa brasileira e esse sentimento melhorou em março em comparação a fevereiro, mostrou o levantamento da casa. Também seguiu firme o otimismo com a bolsa americana. Isso pode significar que os profissionais estavam aumentando as apostas na alta de ações no Brasil e nos Estados Unidos.

O otimismo dos gestores continua com a bolsa, apesar do “efeito Petrobras”, na análise de Alexandre Costa, responsável pela pesquisa da Empiricus. “Tem muitos gestores bons comentando sobre os preços extremamente baratos e resultados robustos das empresas por aqui, e este momento pode ser uma oportunidade, na verdade. A queda dos juros em curso também é um fator importante para trazer fluxo para o Brasil”, avalia.

Falando ainda localmente, os gestores melhoraram o sentimento em relação aos juros nominais (que não descontam a inflação) e seguiram otimistas com os juros reais (que descontam a inflação), o que pode indicar que eles aumentaram as apostas em cortes de juros no país.

Além disso, a Empiricus fez perguntas sobre o sentimento em relação a indicadores da economia brasileira. O pessimismo dos gestores com as contas do governo recuou e o otimismo seguiu firme com o crescimento da economia. Na contramão, o otimismo com a inflação diminuiu levemente.

O Ibovespa acumula queda de 5% em 2024. Apesar da queda da inflação e da expectativa de redução de juros no Brasil, o mercado está sofrendo com a saída de recursos dos estrangeiros e com o sentimento em relação aos movimentos internacionais, especialmente americanos.

A casa de análises perguntou também aos gestores a que eles atribuem a saída de recursos estrangeiros do Brasil. A incerteza em relação à política de juros nos Estados Unidos foi a causa mais citada. O mercado achava que o corte de juros americanos começaria em março, mas adiou essa expectativa para junho ou julho.

A bolsa dos Estados Unidos forte, as incertezas fiscais no Brasil e as preocupações com a desaceleração chinesa apareceram em segundo lugar na lista de causas para a saída de recursos estrangeiros do Brasil.

O cenário externo

Nos Estados Unidos, o S&P 500 acumula alta de 8% neste ano. Apesar da incerteza em relação à política de juros nos Estados Unidos, o otimismo dos gestores com as bolsas americanas continuou forte.

Fevereiro foi marcado por subidas significativas nos juros dos países desenvolvidos, por causa da resiliência da economia americana. A economia continua aquecida, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente e as pressões inflacionárias ainda estão acima das expectativas.

Por esses motivos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) assumiu um discurso mais duro, sem urgência para iniciar o corte de juros, que o mercado prevê para a virada do semestre.

Na Europa, a economia continua fragilizada e a inflação está maior que a projetada. Assim, o banco central europeu, em movimento similar ao do Fed, tem sinalizado o atraso do começo do corte de juros na região, que deve iniciar só na metade do ano.

Na China, a economia é fonte de preocupação. Apesar dos estímulos governamentais, o setor imobiliário está frágil, enquanto os dados fracos de inflação permitem a manutenção de juros baixos… leia mais em Valor Investe 12/03/2024