Um russo, um americano e uma brasileira entram no Zoom. Longe de uma anedota, era o início de um projeto sério e ambicioso: os fundadores da Latitud se reuniram, mesmo que de longe, para fomentar a inovação na América Latina ao dar suporte para empreendedores em meio à pandemia. O trio se comprometeu, então, a se dedicar à missão pelo menos pela próxima década. Hoje, contam com 100 startups investidas no portfólio, e agora preparam um novo fundo, de US$ 25 milhões.

O novo fundo, que seguirá a estratégia do hub de promover o empreendedorismo na América Latina, pretende também reforçar o espírito de comunidade que a Latitud procura fazer prevalecer em suas ações. “A Latitud foi criada porque ser startup founder é muito difícil, a chance de dar errado é muito grande, é uma experiência muito solitária, especialmente para mulheres e minorias”, diz Gina ao Pipeline. “Ser empreendedor é uma jornada super difícil, tem perrengue de todos os lados, você simplesmente não sabe o que vai acontecer”, emenda Brian.

Além disso, a iniciativa vem depois de a própria Latitud ter atraído recursos para si. A empresa, que começou como um grupo de mentoria e networking para empreendedores latinos, captou no ano passado US$ 11,5 milhões com investidores tão robustos quanto Andreessen Horowitz e fundadores de unicórnios, entre eles David Vélez, do Nubank, e Sérgio Furio, da Creditas, para continuar expandindo o portfólio de produtos educativos.

Com espírito de comunidade Latitud prepara novo fundo
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Hoje, o grupo conta com 1.200 membros, que juntos já levantaram mais de US$ 650 milhões em investimentos. A maioria estará entre os visitantes da conferência, que terá mais de 70 palestrantes de todo o mundo, do calibre de Ben Horowitz, fundador da a16z, e Hernan Kazah, criador da Kaszek Ventures. Entre founders, Paulo Veras, da 99, Daniela Binatti, da Pismo, e Sebastian Mejia, da Rappi.

De início, o trio de fundadores queria compartilhar lições e desafios que já tinham vivido. Não foram poucos, aliás. Ao vender a Viva Real para a OLX, Brian perdeu mais de US$ 100 milhões em taxas indevidas ao governo americano por ter registrado a empresa como uma C Corp. Em preparação para um pitch da Duolingo, Gina ficou sabendo só minutos antes que apresentaria a startup para ninguém menos que o presidente Obama. Programador, Yuri migrou da Rússia para os EUA com apenas 16 anos e pouco mais que US$ 200 no bolso, e acabou se tornando referência como executivo de tecnologia.

Quem conhece a Viva Real e o grupo Zap pelo tamanho que têm hoje, não imagina que Brian foi rejeitado por mais de 30 investidores quando apresentou sua ideia para ofertar imóveis na internet. A ideia partiu, novamente, de uma dor própria. O americano que acabava de chegar à Colômbia para viver com a futura esposa teve que dormir na sala de amigos por um bom tempo até encontrar um espaço adequado para viver. Logo, percebeu que era um problema comum também no Brasil, um mercado muito maior, e outros países latinos. Em 2020, vendeu os negócios pelo equivalente a R$ 2,9 bilhões para a OLX.

Por um caminho menos óbvio, Gina também acabou se apaixonando pelo ofício. Formada em filosofia, a brasileira viveu a maior parte da vida nos EUA e chegou a estudar na Reed College, a mesma faculdade que Steve Jobs largou para fundar a Apple. Assim como o popstar da tecnologia, acabou abandonando o curso depois de cair em uma depressão. A empreendedora perdeu um irmão ainda na infância.

Descendente de judeus sobreviventes do holocausto vindos da Polônia, decidiu ingressar na Brandeis University, uma faculdade financiada pela comunidade judaica americana, onde se formou. Nessa época, já falava cinco idiomas e tocava piano, mas não foi o suficiente para impressionar empregadores em Nova York, onde queria morar. Foi, então, estudar neurociência e conseguiu um estágio na LVMH.

“Eu odiava moda”, diz, gargalhando, Gina. “É engraçado porque muitas pessoas vêm me dizer que sou bem-sucedida, e hoje até acho que eu sou mesmo, mas não quer dizer que eu sabia direito o que queria fazer lá no início. E isso é normal. É uma mensagem para quem está começando.”

As coisas fizeram mais sentido quando, depois de ser demitida duas vezes e ainda sem o green card, voltou ao Brasil, em 2011, para ajudar o Tumblr a crescer na América Latina. Deu tão certo que, anos depois, quando os fundadores do Duolingo perguntram aos gerentes da rede social como fizeram para crescer tão rápido, Gina foi apresentada ao seu novo emprego. Foi alocada na área de growth ainda na fundação e deixou a plataforma de ensino de línguas em 2018 com mais de 300 milhões de usuários.

Não menos corajoso, Yuri deixou a Rússia quando ainda era um adolescente para viver o sonho americano. Ficou mais conhecido no mercado de tecnologia como CTO da Escale, scale-up que orienta marcas em sua jornada tecnológica, apoiada pela Kaszek. Já nessa época, sabia que queria empreender e, em 2015, fundou a Vemos, uma plataforma de otimização de custo de operação de telefonia móvel. A solução triava os melhores planos tanto para empresas como para pessoa física, cortando até 40% de custo para seus clientes.

Na época, já havia conhecido sua esposa, uma brasileira, que o convenceu a mudar para sua terra natal. Por aqui, se aproximou da comunidade de inovação e decidiu que queria .. leia mais em Pipeline 28/09/2023