Projeto da empresa é captar R$ 3 bilhões na Bolsa e ficar entre as três maiores cimenteiras do país com novos investimentos

Agressiva em seu plano de crescimento, que consiste em aquisições e novos projetos, a CSN Cimentos prevê lançar suas ações na bolsa paulista B3 no início de agosto. A abertura de capital da cimenteira, pela qual pretende levantar R$ 3 bilhões, será crucial na estratégia da companhia que integra o grupo liderado pelo empresário Benjamin Steinbruch.

A cimenteira nasceu de uma costela da siderúrgica CSN, âncora dos negócios de Steinbruch, que vão de aço, mineração, logística portuária e ferroviária até energia e outros ativos. Em fevereiro, o empresário abriu o capital da CSN Mineração (minério de ferro), e então viu na Bolsa uma fonte de recursos para financiar seus projetos.

Previsão da cimenteira de Steinbruch é definir o preço da ação em 5 de agosto e estrear na B3 dia 9, com ticker Roxo3

IPO Cimento CSNA primeira fábrica de cimento foi montada em 2009, em Volta Redonda (RJ), ao lado da usina de aço, e a segunda em 2015, no município de Arcos (MG), onde detém reservas de calcário, que é matéria-prima do produto. No ano passado, veneu 4 milhões de toneladas, obtendo 14% do total da região Sudeste, segundo informação no prospecto do IPO.

A CSN Cimentos almeja ser a terceira ou segunda do setor no país em alguns anos. Na semana passada deu o primeiro passo ao adquirir a Elizabeth Cimentos, situada na Paraíba, e colocou um pé no mercado cimenteiro do Nordeste, o segundo maior do país. Pagou R$ 1,08 bilhão pelo ativo, que tem capacidade para fazer 1,3 milhão de toneladas ao ano e detém 26% das vendas no Estado.

Com a compra, a CSN somou 6 milhões de toneladas de capacidade de produção ao ano e passou à quinta do setor por esse quesito. A expectativa é que o Cade, órgão antitruste, aprove o negócio em 45 dias, pois a empresa é entrante naquele mercado.

A aquisição foi bem-vista pelo mercado. O Credit Suisse disse que melhora os múltiplos da empresa no IPO. Para a Moody’s, a aquisição é positiva para as perspectivas de crédito da CSN, já que ajuda a diversificar o fluxo de caixa da companhia sem afetar a liquidez.

Os projetos de crescimento listados na oferta de ações vão demandar investimentos da ordem de R$ 6,2 bilhões até 2028 – se todos forem realizados. São fábricas projetadas para os Estados de Sergipe e Ceará (Nordeste), Pará (Norte) e Paraná (Sul) – ver detalhes no infográfico ao lado. Com isso, a empresa pretende espalhar sua atuação em quatro regiões brasileiras, com um parque fabril com idade inferior a 20 anos. “A ideia é ser a cimenteira mais competitiva, em eficiência, qualidade e preços”, diz uma fonte.

Porém, nessa trajetória de oito anos, a CSN poderá segurar um ou outro projeto no caso de adquirir novo ativo – no momento, há um pacote de 10 fábricas à venda pela LafargeHolcim, que é a terceira no país e tomou a decisão de ir embora. Os ativos estão situados nas regiões SE, CO e NE, um deles na Paraíba. A CSN já declarou que fará oferta de compra.

Do pacote de investimento, incluindo a Elizabeth, o plano é usar os R$ 3 bilhões do IPO e dividir R$ 4,3 bilhões entre dívida e geração de caixa. A meta é ficar com alavancagem financeira de 2 vezes a dívida líquida sobre Ebitda, segundo fonte que acompanha de perto o plano da CSN.

A empresa projeta para 2022, conforme apurou o Valor, geração de Ebitda na faixa de R$ 1,5 bilhão, a partir de vendas de cerca de 5,7 milhões de toneladas (95% de utilização de capacidade). Nessa conta contabiliza melhor mix de produtos (mais ensacado), melhor preço, foco na venda direta ao varejo, consumo mantendo ritmo de 6% ao ano ao longo desta década e ganho de fatias de mercado da concorrência.

A CSN informa no prospecto que já tem as licenças ambientais e de instalação das fábricas de Sergipe (em Maruim) e do Paraná (Cerro Azul). Tem dito também que os equipamentos para duas já estão comprados há vários anos e encontram-se guardados no porto de Antuérpia, Holanda.

A ocupação de mercado com a Elizabeth abrange PB, PE e RN, podendo atingir faixas da BA e do CE. A fábrica cearense reforcaria a posição na parte norte do Nordeste, enquanto a de Sergipe permite atingir Bahia e parte sul da região. Com o do Pará, põe os pés no Norte.

Já a unidade do Paraná visa entrar na região Sul, onde predominam as rivais Votorantim, InterCement, Itambé e Supremo Cecil.

A previsão é que as fábricas de Sergipe e Paraná, que adicionariam 6 milhões de toneladas à CSN, entrem em operação até o final de 2024. Já a expansão de Arcos ficaria na dependência de possível nova aquisição de ativo – no caso, os que estão á venda pela Lafarge. A fábrica de Arcos supre o mercado de Minas Gerais e outros Estados.

Mas não pense a CSN que terá uma atuação fácil: vai competir com 21 fabricantes. A Elizabeth/CSN, por exemplo, tem três concorrentes no Estado: Lafarge, InterCement e Buzzi/Brennand.

No país, além dos três rivais mencionados, há Votorantim (líder), Mizu, Apodi, Supremo Cecil, Ciplan e Itambé. A Cimento Tupi encontra-se em recuperação judicial, a Liz em dificuldades e o grupo João Santos em uma grande crise mais problema societário – hoje só opera duas ou três das dez fábricas. Cerca de dez cimenteiras são pequenas e regionais.

Para a CSN, a arma será a eficiência em custos de suas fábricas, por serem mais modernas: para Sergipe, projeta custo 32% inferior ao da média do país, numa escala de 100. Na Elizabeth (que é de 2015), o índice é de 25% abaixo. Quer manter o índice de venda de 73% para lojas de materiais e home centers e somente 20% a 25% para distribuidores.

A aposta é que a sustentação do consumo de cimento no país tenha mais contribuição do setor de infraestrutura, gerando mais obras. E que se mantenham o ritmo de lançamentos imobiliários, a demanda da autoconstrução e a venda do varejo (“formiguinha”).

Para chegar à Bolsa, os próximos da CSN, segundo fontes a par, são: dia 16, a definição da faixa de preço da ação; dia 19, início dos encontros com investidores do país e exterior; dia 5 de agosto, o pricing (valor do papel); e dia 9, o início das negociações na B3. A empresa vai usar o ticker Roxo3…. Leia mais em clippingdotblog 05/07/2021