O Víssimo Group, dono das marcas Evino e Grand Cru, está avançando a passos largos rumo às suas ambições de omnicanalidade. Para chegar lá, a companhia, que se posiciona como maior varejista de vinhos do Brasil, quer intensificar suas colaborações com startups e está de olho em possíveis aquisições.

A Evino nasceu há quase 10 anos com o propósito de desmistificar e tornar mais acessível o consumo de vinhos no Brasil, mirando o consumidor médio brasileiro com uma plataforma de e-commerce de garimpos de rótulos europeus e educação sobre vinhos, com uma linguagem menos rebuscada. A base histórica de clientes já ultrapassa 1,6 milhão de consumidores e a empresa importou mais de 45 milhões de garrafas desde o começo da operação. Impulsionada pelo aumento no consumo de vinhos no Brasil – sobretudo após a pandemia – a empresa faturou R$ 660 milhões no ano passado com geração de caixa e projeta R$ 800 milhões para 2022.

Em outubro de 2021, a Evino adquiriu uma de suas principais concorrentes, a importadora Grand Cru, cujo foco é um público mais conhecedor do universo de vinhos e produtos premium. Atuando de forma complementar, as marcas operam sob o Víssimo, holding formada após a aquisição, que detém as marcas. Seis meses depois da aquisição, a empresa levantou R$ 650 milhões, em um aporte liderando pela Vinci Partners com participação do family office JCR, do Paraná, e da XP Private.

De olho na omnicanalidade dona da Evino

A entrada dos fundos tem servido para acelerar o plano de crescimento da empresa, que neste segundo semestre deve começar a abrir lojas físicas da Evino, a começar por São Paulo, como parte da agenda de omnicanalidade. “Ao longo da última década, muitos clientes que viam o vinho como algo intimidador e distante estabeleceram um relacionamento com a categoria através de nós. Estávamos fazendo isso exclusivamente no digital e agora passamos a dialogar com clientes por outros canais”, diz Ari Gorenstein, cofundador da Evino e membro do conselho do Víssimo Group, em entrevista ao Startups.

“Passamos a ter um ecossistema muito maior no que diz respeito a lojas físicas e dark stores após a aquisição e vamos começar a testar a presença da marca Evino [em pontos físicos] para capturar as sinergias de marketing e de logística que os modelos [de varejo físico e digital] podem trazer”, acrescenta.

Aquisições à vista

Capitalizada, a empresa pode realizar novas aquisições para apoiar seus objetivos, especialmente em categorias adjacentes ao vinho, no segmento denominado de “boa mesa” – ou seja, empresas atuantes nos segmentos de azeites, cafés, bomboniére e outros – mas também empresas do segmento de tecnologia. “Existem soluções que podem fazer sentido trazermos para dentro de casa, quer seja pelo valor da solução em si, quer seja pelo valor da solução mais o time”, diz Ari, em referência a acquihires, prática de aquisição em que não só se compra a empresa, mas também absorve-se o time.

“Há muito valor associado a trazer um time já entrosado, com talentos capazes de desenvolver grandes produtos, soluções ou algoritmos, visto que é cada vez mais difícil e demorado construir esses times e o desafio de fazer recrutamento e desenvolver talentos de tecnologia”, pontua, acrescentando que possíveis alvos incluem desenvolvedores de soluções e gateways que possam incrementar a operação atual, mais do que empresas de logística, que é uma área importante para a plataforma omnicanal da Evino.

Segundo Ari, a entrega ultrarrápida é um tema muito presente na companhia, quer seja para os apps de delivery, quer seja para o Evino Delivery, serviço próprio da empresa, que tem tido um aumento consistente de usuários e uma área de cobertura em crescimento. Mas a ideia não é fazer aquisições nessa área.

Acreditamos pouco em internalizar a logística, não é nosso metier. Os unit economics são muito desafiadores e os ganhos de escala que se pode ter trabalhando com parceiros entendemos serem maiores do que nós nos tornarmos o transportador ou aquele que faz a primeira perna ou o last mile”, ressalta.

Víssimo Group está bem capitalizado depois do aporte para fazer novas aquisições, mas não descarta levantar capital adicional. “Somos uma empresa geradora de caixa e temos uma rentabilidade muito interessante dentro do negócio de varejo e de e-commerce. Não existe nenhuma necessidade atual de caixa, mas obviamente, em função dos planos e projetos futuros ou de intensificar essa agenda de M&A [captar mais recursos] é uma possibilidade,” aponta o executivo.

Novas demandas

Com o foco em omnicanalidade, Ari nota que também aumentam as demandas para o negócio, especialmente no que diz respeito ao nível de serviço. “[O objetivo é] fazer entregas mais rápidas, atender o cliente através do canal preferido por eles, seja buscar na loja, receber em poucas horas a partir de uma loja, ou pagar um frete mais barato e receber em casa”, pontua.

Alem disso, prioridades da Evino para responder às tendências de consumo omnicanal incluem avançar na frente de customização e hiper personalização, de acordo com os diferentes perfis de consumo. A empresa tem olhado para soluções de automação e chatbots para aumentar a eficiência no atendimento ao cliente. “Além de privilegiar um diálogo fluido e contínuo com clientes transitando entre canais, as tecnologias de CRM permitem fazer essa transposição e ao mesmo tempo capturar o máximo de inteligência no processo”, diz Ari.

“Nossa meta é que nossas plataformas se adaptem bem aos diversos tipos de clientes, com promoções e campanhas moldadas em função destes perfis. Queremos adaptar toda a nossa oferta e mecânica para ter um nível de customização e personalização ainda maior do que o que hoje somos capazes de assegurar”, frisa o cofundador da plataforma.

Para avançar nestas agendas, Ari diz que a Evino está testando formatos de parcerias com startups, bem como empresas de maior porte. “Temos visto muita coisa interessante em inteligência artificial, ferramentas e plataformas de CRM sendo desenvolvidas lá fora, ferramentas de customer data platform desenvolvidas por startups ou empresas maiores na rede logística. Também vemos empresas tentando transformar e disruptar o last mile e trazer eficiência, [reduzir] custos, [aumentar] o nível de serviço”, observa.

“Estamos olhando todas estas frentes, testando, e seguramente teremos mais oportunidades. Estamos sempre analisando o mercado para entender com quem faz sentido nos associarmos, compor parcerias e desenvolver juntos” pontua o empreendedor, em referência às colaborações com startups. Trabalhos nesta frente já incluem um avanço em dark stores, e parceiros como as plataformas Saideira e Bebida na Porta apoiam a operação de entrega dos produtos.

Em relação às áreas de foco para os próximos meses, o Víssimo prevê impulsionar os clubes de assinatura da Evino e Grand Cru, com benefícios se tornando “cada vez mais homogêneos e transversais”, e uma ampliação no leque de parceiros. A Víssimo também deve acelerar a frente B2B, impulsionada pela combinação complementar das duas marcas e com marcas e produtores oriundos de ambas as operações para atender tanto a operação de varejo quanto restaurantes e outros comércios.

“Entendemos que temos um oceano azul para navegar. A combinação de forças da Grand Cru e da Evino no que diz respeito à curadoria, a amplitude e abrangência do catálogo e o nível do serviço que as companhias combinadas conseguem [prover] trazem uma proposta de valor que eu diria que é única no mercado”, finaliza… leia mais em Terra 25/08/2022