Me chamo Livia Cunha, tenho 29 anos e sou uma empreendedora daquelas “clichês”, que desde muito cedo era apaixonada por resolver problemas com a cabeça de negócio, tinha barraquinha de biscoito na escola e adorava contar uma boa história. Comecei o meu caminho saindo da faculdade, aprendi na prática o que é empreender e já tive muitos motivos para desistir – mas essa não era a história que eu queria construir, tinha muito trabalho a fazer.

Eu era uma criança observadora. Cresci pelos corredores do hospital dos meus pais, onde comecei a perceber a oportunidade de entregar uma melhor experiência de cuidado aos pacientes, além daquela uma hora dentro do consultório, mas todos os dias, em qualquer lugar. Quando adolescente, não conseguia imaginar um caminho profissional que não fosse o de criar soluções no mundo de saúde e entrei para administração na Universidade Federal de Santa Catarina com um objetivo: me formar e criar uma empresa que pegasse na mão dos pacientes ajudando-os a terem melhores resultados de saúde. E assim foi meu caminho. No dia da formatura recebi a notícia da abertura do meu CNPJ. Nascia a Cuco, uma empresa digital apaixonada por ajudar pacientes a terem uma melhor jornada em seus tratamentos crônicos – que chamou a atenção de grandes players como a Apple e Google, e recentemente foi adquirida pela Raia Drogasil.

A Cuco foi sendo construída de acordo com a necessidade aprendida junto aos pacientes. Hoje, somos uma plataforma que auxilia pacientes com a adesão ao tratamento, compra dos medicamentos no momento certo e gera dados sobre a evolução para os profissionais de saúde acompanharem o cuidado à distância. A Lívia empreendedora foi sendo construída a cada desafio enfrentado e hoje tenho a chance de compartilhar com vocês alguns conselhos que gostaria de ter ouvido no começo desta jornada, aos 23 anos.

Leia também demais posts relacionados a Healthtechs no Portal Fusões & Aquisições.Profissional de radiologia

1- Uma mulher, por melhor que ela seja, precisa sempre fazer muito mais

A certa altura do desenvolvimento do meu negócio olhei para o lado e percebi que tudo parecia mais difícil quando se é uma mulher. Eu sinto muito, mas realmente é verdade. Precisamos provar mais, faturar mais, crescer mais, para que a avaliação do nosso negócio ganhe o espaço merecido. Neste momento, quando a ficha caiu, foi fundamental escolher seguir em frente. Percebi que entre tudo que não consigo fazer para mudar um contexto, há muito que posso fazer para mudar meu próprio destino, dentro de mim. E foi por isso que continuei fazendo exatamente o que estamos acostumadas como mulher – fazer mais! Hoje entendo que usei deste contexto “desfavorável” para me tornar a minha melhor versão, subir minha própria régua e consequentemente levar meu negócio ainda mais longe!

2- Quando todos acharem que você não é capaz, mas você ainda achar que sim, continue

Nossos sonhos são enormes e por muitas vezes chega a ser difícil fazer com que as pessoas à nossa volta os compreendam, não é mesmo?! Aprendi que as pessoas que amam a gente tendem a dar conselhos rumo a caminhos com menos risco, com mais conforto. Eu nunca dei ouvidos a estes conselhos. Sempre soube que a escolha de empreender em saúde e tecnologia, não sendo uma mulher de saúde ou tecnologia e sim uma mulher de negócios, já fazia de mim uma mulher corajosa – e desistir não fazia parte dos meus planos. Mesmo assim, muitas pessoas, situações, circunstâncias puderam me provar que valeria a pena desistir. E por que não desisti? Simples. No fundo eu sabia que tinha força e coragem para continuar, pelo tempo que fosse, porque isso me tornava melhor e mais capaz de conquistar meus sonhos. No final do dia é a gente (e só a gente) que sabe o nosso caminho e sentimos na pele e no coração a verdadeira realização por percebermos a guerreira que nos tornamos ao escolher resistir.

Quando comecei a empreender eu confesso que nunca imaginei a linha de chegada, o final da corrida. Me sinto uma jogadora de jogos infinitos, como se meus negócios tenham propósitos e planos tão grandes que parecem até impossíveis de alcançar. Mas quando a primeira linha de chegada acontece (no meu caso a venda de minha startup para uma grande empresa) esse dia parece tão pouco, perto de tudo que me trouxe até aqui. É como se fossemos resumir uma festa de casamento a uma data, esquecendo as razões que fizeram um casal escolher dividir a vida um com o outro, um para o outro. E é assim a percepção da jornada. Olhando para trás admiro muito cada passo que dei, cada desafio vivido e superado, cada aprendizado e o estado “antifrágil” que o empreendedorismo feminino me fez. Aprendi a curtir a caminhada e me realizar a cada passo, hoje antes do amanhã.

Tive que recomeçar minha empresa algumas vezes. A primeira vez foi a mais dolorida. ….Saiba mais em vogue.19/11/2021