Enquanto o crédito segue difícil para as empresas, muitas lançam mão de medidas diversas para tentar levantar recursos. Nesse cenário, casos recentes de Marfrig, Natura e Pão de Açúcar e outras levantam a discussão sobre companhias que vendem ativos ou mesmo parte de seus negócios para tentar ganhar algum fôlego financeiro. Porém, será que essas estratégias são acompanhadas de melhora na geração de caixa para que as companhias reduzam a alavancagem das empresas?

Esse é o debate levantado por Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance, empresa que atua com reestruturação de empresas. “As empresas estão se desmembrando, vendendo as partes para tentar sobrar com alguma coisa”, opina em entrevista ao InvestNews.

Ele atribui esse movimento à “crise de crédito” no Brasil. “Num cenário, quando as empresas não estão conseguindo entregar resultado, estão consumindo muito caixa e estão indo a bancarrota, o mercado financeiro se fecha em copas.”

Vamos relembrar: a gente teve alguns anos atrás, até em virtude dos juros baixos, uma onda de IPOs e vários deram em água. M&A também naquela fase do boom, fusões e aquisições. Também deram muitas em água. Aí veio a fase do LCI, do LCA, do CRI, do CRA, também foi embora. E o sistema financeiro foi se fechando. Aí você teve o evento da Americanas, Light, Oi, Grupo Petrópolis, tivemos diversas recuperações judiciais.”

“Quase R$ 100 bilhões foram embora em default, em RJs, e na de inadimplência de empresas. Nós estamos falando de quase R$ 270 milhões no primeiro semestre”, avalia ele, apontando que resta às companhias, então, outras formas de tentar levantar recursos – especialmente as mais endividadas.

“As empresas não têm mais o que dar para conseguir crédito. Então o que ela começa a fazer? Hipotecar o seu imóvel, o seu ativo. Para tentar buscar um dinheiro para pôr na dívida, porque novamente as empresas não estão fazendo resultado.”

‘Empresa morre de caixa não resultado’

Marfrig, Natura e Pão de Açúcar

Mustrangi analisa casos recentes de empresas que anunciaram vendas de ativos. No mais recente deles, a Minerva (BEEF3) e sua controlada Athn Foods Holdings fecharam acordo de R$ 7,5 bilhões para comprar determinadas unidades de abate de bovinos e ovinos da Marfrig (MRFG3) no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.

Para o especialista, apesar de estar “se livrando” de unidades menos estratégicas e reduzindo sua alavancagem no curto prazo, o sinal para a Marfrig ainda é de alerta.

Já a análise de Natura (NTCO3), que anunciou a conclusão da venda da Aesop e ainda avalia negociar também a The Body Shop é diferente.

“No caso da Natura, o negócio dela que dava mais retorno, conhecidamente, é Aesop. De todos, como rentabilidade, Aesop é ‘a joia da coroa’. E foi que ela pôs à venda”, diz ele, e justifica: “Num momento de crise, você tende a colocar o teu ativo de valor à venda para ele não ser muito depreciado. Se você pega um ativo de baixo valor, aí sim, na crise, é que vão te pagar o preço na bacia das almas.”… leia mais em Investnews 03/09/2023