A torcida do Fortaleza tem encontrado motivos de sobra para se sentir orgulhosa. Há cinco temporadas seguidas na Série A do Brasileirão, o clube participou pela primeira vez da Libertadores no ano passado e, na última quinta-feira, fez história ao se tornar o primeiro do Nordeste a se classificar para as semifinais de uma competição internacional, a Copa Sul-americana.

Mas não é só quem entra em campo que está com moral com os torcedores. Por trás desses feitos inéditos há um dirigente que chegou quando a torcida tricolor havia acabado de sair de um amargo ciclo de oito anos consecutivos na Série C: Marcelo Paz. Desde que assumiu a presidência, vieram o acesso da B para A, cinco títulos estaduais, dois regionais e... um projeto para virar SAF.

Com o bom momento esportivo e financeiro que tem vivido, o Fortaleza de Marcelo Paz despertou o interesse de investidores e chegou ter conversas avançadas para negociar a venda de 10% por meio de uma SAF, mas acabou desistindo de fechar o negócio. Isso não quer dizer, porém, que o plano tenha sido descartado: só está guardado na gaveta.

Em entrevista ao Pipeline, Paz disse que o Fortaleza ainda considera a ideia de vender uma participação minoritária, mas preferiu suspendê-la porque antes quer esperar o avanço de negociações ligadas às ligas e a direitos de transmissão dos jogos. Ele acredita que esses acordos devem gerar uma valorização do clube, abrindo espaço para ofertas maiores lá na frente.

O que falta para o Fortaleza retomar o plano de vender uma fatia do clube

Uma possível criação de uma liga no Brasil vai fazer crescer o valuation dos clubes, e um novo ciclo de venda de direitos a partir de 2025 também pode ser algo bem interessante. É mais prudente aguardar um pouco”, afirma o dirigente, que não quis falar qual o potencial que ele vê para o valor do clube.

Nas conversas para a criação de uma nova liga que substituiria o Brasileirão organizado pela CBF a partir de 2025, há dois blocos comerciais de clubes, a Libra e a Liga Forte Futebol (LFF), cada um com investidores por trás, que estão em negociações e ainda não chegaram a um consenso. Já o novo ciclo de direitos de transmissão já começou a ser discutido e valeria para o período entre 2025 e 2027.

Antes disso, em maio, o Fortaleza chegou a receber contato de investidores estrangeiros, de países como China e Rússia, para vender no máximo 15% do clube, por R$ 50 milhões, segundo informações do Globo Esporte publicadas à época. Já nas negociações que ficaram avançadas e foram encerradas, por 10%, o clube conversou com investidores locais.

Um outro motivo que fez o Fortaleza interromper as tratativas, segundo apurou o Pipeline, foi o adiantamento dado pela XP em relação ao que o clube deve receber dos investidores da LFF, bloco do qual o Fortaleza faz parte. A XP, que assessora o bloco, ofereceu, em formato de empréstimo, R$ 24 milhões ao clube. O dinheiro resolveu uma necessidade de curto prazo do Fortaleza, que ficou mais confortável para adiar a venda de uma fatia minoritária.

No entanto, quando voltar a se abrir para o mercado, o Fortaleza pode encontrar uma dificuldade. Segundo fontes que têm acompanhado as negociações de SAFs no Brasil, há uma característica no modelo pretendido pelo clube que afasta investidores: nem todos estão dispostos a comprar apenas uma fatia minoritária, porque isso limita a influência do futuro acionista sobre a gestão.

Se amanhã a diretoria muda e o clube passa a ser mal administrado, há pouco o que se pode fazer. Por isso, há uma preferência maior por modelos como o de Vasco ou Botafogo, nos quais o investidor tem o controle e mais liberdade para apontar quem ficará no comando.

Paz, porém, bate o pé ao dizer que uma das condições do Fortaleza é não vender fatia majoritária, até porque o clube não está precisando de socorro financeiro, como era o caso de alguns que foram por esse caminho. O dinheiro não viria para tirar o clube do buraco, mas, sim, para mantê-lo competitivo, com a montagem de elencos fortes e investimentos em estrutura. “Queremos ter um alto nível de competitividade, que a nossa bola siga entrando, que o torcedor siga tendo satisfação com vitória, que o clube siga organizado.”. Leia mais em Pipeline 04/09/2023