A fusão entre a BrMalls e Aliansce Sonae, aprovada ontem em assembleias de acionistas dos dois lados, deve gerar um retorno bem menor do que o montante que vem sendo divulgado pelas empresas. A afirmação é dos analistas de shoppings André Mazini e Renata Cabral, do Citi.

A dupla escreveu um relatório apontando que as sinergias oriundas da combinação da duas empresas deve gerar ganhos anuais na ordem de R$ 100 milhões. Esse valor equivale a menos da metade dos R$ 210 milhões anunciados pela Aliansce Sonae durante as negociações para convencer investidores a aprovarem a fusão.

“Acreditamos que será difícil entregar os R$ 210 milhões em sinergias anuais que a empresa está propondo. Olhando para experiências anteriores de fusões nesse mercado, achamos que cerca de metade disso é viável”, afirmam.

Os analistas do Citi trabalham com a expectativa de que as sinergias fiquem no patamar de 5% do lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) de BrMalls e Aliansce combinadas, que deve ser de R$ 1,9 bilhão em 2023, nas suas contas.

E por que 5%? Esse número foi levantado com base em experiências anteriores de outras empresas de shoppings mundo afora que também passaram por fusões. O exemplo citado no relatório é o caso da gigante URW, resultante da combinação de três empresas.

Leia também demais posts relacionados a Shopping Centers no Portal Fusões & Aquisições.

A URW começou com a fusão entre a francesa Unibail e a holandesa Rodamco, gerando ganhos de 5% do Ebitda nos idos de 2007. Mais tarde, esse grupo comprou a operação da australiana Westfield nos Estados Unidos, e as sinergias ficaram na casa dos 3% do Ebitda. Isso foi em 2018.

É preciso ponderar que na segunda operação os ganhos foram menores porque os shoppings do conglomerado URW estavam espalhadas por Estados Unidos e Europa, o que dificultou alguns movimentos de integração. Mesmo assim, os ganhos resultantes da combinação dos negócios ficaram abaixo das expectativas.

“Tanto é que o portfólio da Westfield nos Estados Unidos está à venda apenas quatro anos depois de ter sido comprado, indicando que há limites para os ganhos de escala que um portfólio de shopping cada vez maior e diversificado pode obter”, alertaram os analistas do Citi.

Eles apontaram que a URW não teve um avanço significativo no campo digital (algo que as empresas de shoppings estão buscando construir para fazer frente ao comércio eletrônico). Tampouco gerou sinergias expressivas. A maioria dos ganhos veio dos cortes de despesas gerais e administrativas.

No mercado brasileiro, uma boa referência foi a fusão entre a Aliansce e a Sonae Sierra, em 2019, que desencadeou sinergias também na faixa de 5% do Ebitda, segundo o time do Citi. E olha que Aliansce e Sonae já atuavam no mesmo mercado, ao contrário da URW que foi formada a partir de empresas de países diferentes…….saiba mais em Broadcast 10/06/2022