Os bancos de investimento vieram com uma proposta irresistível há cerca de seis anos para convencer empresas latino-americanas a abrirem capital nos EUA: acessar um número maior de investidores com mais recursos e familiaridade com a chamada nova economia.

Com os juros em níveis historicamente baixos ao redor do mundo, Wall Street assistiu a uma onda sem precedentes de IPOs de empresas da região, da Stone — que atraiu a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e o bilionário fundador do Alibaba, Jack Ma — ao PagSeguro, cujo modelo de negócios era semelhante ao da Square, de Jack Dorsey. Deslumbradas com os múltiplos alcançados, muitas empresas menores seguiram o mesmo caminho.

Mas a realidade pintou um quadro diferente.

Os volumes de negociação decepcionaram, as ações tiveram um desempenho aquém do esperado e muitos analistas não se preocuparam em cobri-las, o que levou alguns investidores a se referirem a elas como “órfãs”. Em alguns casos, as ações negociam até mesmo com desconto em relação a pares negociadas nas bolsas domésticas.

Agora, a maré está começando a virar e a brasileira Vitru anunciou que suas ações vão se mudar para o Brasil, e outras companhias também reavaliam suas ambições.

“Não existe milagre”, disse Gilson Finkelsztain, presidente da B3. Os anos de euforia em torno de 2017 foram “atípicos” e combinaram um pico de otimismo nos EUA com um pessimismo excessivo na América Latina, disse ele. “No fim das contas há uma correlação, e quando as ações caem no Brasil, caem também no exterior.”

Do grupo educacional brasileiro Afya e a gestora de ativos alternativos Vinci Partners à Despegar.com, mais de uma dúzia de empresas latino-americanas listadas nos EUA geram volume médio de menos de US$ 4 milhões.

Euforia com IPO nos EUA
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Retorno decepcionante

A performance mais fraca não é enorme, mas é significativa para muitas empresas. Na média, as ações brasileiras listadas nos EUA nos últimos sete anos caíram cerca de 39% desde o IPO até o último dia 6 de setembro, ante uma queda de 35% para empresas que abriram capital no Brasil entre 2020 e 2021, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O banco digital Inter & Co., por exemplo, transferiu sua listagem primária do Brasil para os EUA no ano passado, e desde então viu seu volume médio diário negociado cair de cerca de R$ 82 milhões, ou perto de US$ 16,5 milhões, para US$ 1 milhão.

Quando as empresas da região decidiram abrir capital no mercado internacional por volta de 2017, já fazia quase 10 anos que as taxas de juros nos EUA estavam próximas de zero. Os mercados de capitais estavam em expansão e as empresas de tecnologia atraíam investidores globais em busca de altos retornos. Ao mesmo tempo, a maior economia da América Latina passava por um aumento de instabilidade política, na esteira do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mas depois veio a pandemia, seguida pela inflação e aumento de juros, e os investidores migraram para instrumentos de renda fixa. Pequenas empresas latino-americanas com marcas pouco conhecidas foram esquecidas e se tornaram as primeiras a serem vendidas por gestores e investidores americanos.

“A falta de liquidez nos EUA pesa mais do que aqui”, disse … leia mais em Valor Econômico 11/09/2023