Ser investidor de mercados emergentes, atualmente, não tem graça nenhuma.

Em nenhum lugar esse golpe tem sido sentido de forma mais intensa que no Brasil, onde o banco central elevou novamente os juros na semana passada num esforço de domar os altos níveis de inflação.

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s Ratings Services rebaixou o panorama econômico do Brasil de “estável” para “negativo”, um reflexo da contínua dificuldade do país em colocar suas finanças nos trilhos. Pela avaliação da S&P, o Brasil atualmente está no patamar mais baixo de grau de investimento.

O real despencou 27% em relação ao dólar este ano, até agora. O dólar fechou o mês de julho cotado a R$ 3,42, o maior valor em 12 anos.

Alguns investidores estão cortando as amarras com o país e fugindo, enquanto outros mantêm suas posições.

“Nós interpretamos mal o Brasil. Acreditamos que as autoridades iriam fazer o suficiente para evitar um rebaixamento”, diz Richard House, gestor da divisão de dívida de mercados emergentes da Standard Life Investments. Ele começou a comprar títulos soberanos brasileiros emitidos em dólar no início deste ano, mas acabou se desfazendo dos papéis no fim de julho. House agora acredita que é só uma questão de tempo para que o Brasil perca o seu grau de investimento.

“Tínhamos muita confiança que eles fariam a coisa certa fiscalmente. Eles não fizeram. E acabaram de perder credibilidade aos olhos dos investidores”, diz House, cuja empresa administra 246 bilhões de libras esterlinas (US$ 384 bilhões) em ativos.

Viktor Szabo, um gerente sênior de investimentos da Aberdeen Asset Management, ADN.LN -1.21%  diz que tem sido “muito doloroso” para os investidores manter suas posições no Brasil. Ele avalia que há uma boa chance de o país ser rebaixado para o grau de alto risco no próximo ano.

“Há tanto barulho na política, que isso está aumentando a dificuldade de um ajuste fiscal”, diz Szabo, cuja empresa administra uma carteira de mais de quase 307 bilhões de libras em ativos. “O ajuste do Brasil é extremamente doloroso.”

Mesmo assim, ele ainda detém títulos de dívida do governo em moeda local.

O rendimento dos títulos de 10 anos em reais estava em 13,2%, de acordo com dados da Thomson Reuters, em comparação com 12,3% em 21 de julho. O rendimento dos títulos sobe na direção oposta aos preços dos papéis.

“Nós não estaríamos vendendo neste nível. Eu começo a ver valor”, diz Szabo, ressaltando comentários da liderança do banco central de que este seria o último aumento da taxa de juros do ciclo atual.

Paul McNamara, gestor de portfólio da GAM Holding, GAM.EB -2.64%  diz que o Brasil tem sido o principal assunto da mesa em que ele opera. Ele está mantendo sua exposição ao Brasil em linha com a ponderação do índice.

“A economia está desacelerando acentuadamente, e um monte de coisas estão indo na direção errada. Mas, com a queda esmagadora na demanda doméstica reduzindo as importações, acreditamos que os dados da balança de pagamentos passarão por uma correção, por isso vale a pena manter alguma exposição no Brasil”, diz McNamara, cuja empresa administra US$ 130 bilhões em ativos.

Alguns gestores acreditam que a onda de vendas está produzindo uma oportunidade de compra. Gareth Isaac, um gestor de fundos da Schroders SDR.LN -0.82%  PLC, diz que gosta do Brasil, por causa do alto rendimento dos títulos de dívida em moeda local. “Está parecendo mais interessante”, diz ele.

E a economia brasileira “está em boa forma”? Não. Você está sendo recompensado (com os juros) em 13,5%? Sim”, diz Isaac, cuja empresa administra US$ 474 bilhões em ativos. Por CHRISTOPHER WHITTALL CONNECT Leia mais em thewallstreetjournal 03/08/2015