O hiato entre o banco de fomento e o mercado de capitais começa a ser preenchido, mas não é por bancos de atacado. Criada por sócios oriundos do Banco Pactual, a gestora independente Vinci Partners lança um fundo com R$ 1,2 bilhão para financiar a longo prazo projetos de infraestrutura.

Segundo Alessandro Horta, sócio que esteve à frente da criação do Vinci Crédito e Desenvolvimento 1, a aplicação terá uma dinâmica semelhante à empregada pelos Fundos de Investimento em Participações: assim como os FIPs aplicam seus recursos em empresas quando ainda não estão prontas para irem à bolsa, o novo fundo vai prover crédito de longo prazo para projetos em estágio anterior à emissão pública de dívida.

“É uma forma de suprir essa defasagem, essa necessidade de financiamento de longo prazo no Brasil”, explicou Horta em entrevista na sede da Vinci, no Leblon, bairro da zona sul do Rio que vem se tornando o endereço de diversas firmas de investimento. “No meio do caminho, tinha dificuldade de encontrar financiamento que coubesse entre o capital e o banco de fomento”, acrescentou, referindo-se principalmente ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A estrutura utilizada pela Vinci é a de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Na sua versão mais comum, os FIDCs são montados em torno de uma carteira diversificada de créditos que, securitizados e convertidos em cotas, são distribuídos publicamente e, assim, antecipados. Santander e Credit Suisse já utilizaram essa estrutura para gerar novos créditos, mas a Vinci inverteu a ordem dos fatores. Em vez de captar e integralizar os recursos no fundo para depois fornecer crédito, a Vinci reuniu investidores, que subscreveram as cotas do fundo, mas os recursos só serão integralizados na medida em que os financiamentos que vão compor a carteira do FIDC sejam montados.

“É o que chamamos fundo por compromisso”, disse Horta. Compromisso que foi assumido por 92 cotistas, distribuídos em três classes diferentes de cotas. Na cota sênior, que só admitirá ativos com classificação de risco de pelo menos “AA-“, estão, entre outros, todos os 28 investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, que subscreveram um total de R$ 900 milhões. Para esses, o compromisso é de uma rentabilidade de 8% ao ano, além do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ao longo dos oito anos de duração da aplicação.

Na cota subordinada preferencial estão mais R$ 210 milhões, subscritos por diversos tipos de investidores, entre os quais “family offices” e o capital dos sócios da própria Vinci, que sempre investem nos produtos que oferecem a terceiros. Os sócios da gestora também subscrevem a cota subordinada ordinária, de R$ 90 milhões. Nessa parcela do fundo, cabem riscos de até “BB -” e a remuneração se beneficia do que exceder os 8% mais IPCA.

Mas os projetos serão selecionados criteriosamente por uma equipe de cinco pessoas dedicadas exclusivamente ao fundo. Segundo Horta, esses profissionais vão a campo e não se limitam a avaliar sob o ponto de vista do crédito, mas do projeto em si. Nesse processo, a Vinci se torna também originadora desses créditos, ajudando a compor sob medida o crédito do qual o projeto necessita.

Fonte: ValorEconômico18/08/2011