A queda recente no valor de mercado das companhias brasileiras ainda não se refletiu nas negociações para a compra de participações em empresas de capital fechado pelos fundos de private equity.

A avaliação foi feita por Martin Escobari, diretor da Advent International. “O ajuste da bolsa ainda não se transferiu para as transações privadas”, disse o executivo, que participou de seminário ontem em São Paulo.

Em meio ao otimismo geral em relação ao Brasil, a Advent tem batido na tecla de que os ativos nacionais estão caros. “Nunca houve tanta oferta de recursos para as companhias, o que inflaciona os preços”, afirmou, em referência à série de captações bilionárias realizadas por fundos para investimentos no país.

Para Escobari, diante da incerteza sobre o alcance da crise internacional, as negociações entre os fundos e as companhias ocorrem a uma velocidade menor. “Está difícil precificar o Brasil”, observou. Enquanto o investidor de bolsa precisa vender as ações a qualquer preço para, por exemplo, honrar resgates em fundos, o controlador de uma empresa fechada não tem essa necessidade, ressaltou.

A Advent, que no ano passado concluiu a captação de um fundo de US$ 1,6 bilhão com foco na América Latina, até o momento fechou apenas um negócio: a compra 50% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) por R$ 835 milhões.

Escobari destacou os avanços da economia brasileira nos últimos anos, mas disse que alguns investidores “subavaliaram” riscos ao alocar recursos no país. Para o executivo, embora as perspectivas de crescimento da economia justifiquem múltiplos mais altos nas aquisições, o alto custo de capital no país – que impede a realização de aquisições alavancadas – também deveria se refletir nos preços.

A visão da Advent sobre o valor dos ativos brasileiros é polêmica e não encontra consenso entre os gestores. Para Leonardo Ribeiro, sócio da Ocroma, os fundos que possuem como estratégia investir em empresas de médio porte estão menos expostos à competição, principalmente com as gestoras estrangeiras, responsáveis por 36% dos negócios fechados no país.

Embora concorde que a maior oferta de recursos de fundos de private equity aumenta a competição, Piero Minardi, sócio da Gávea Investimentos, avalia que o cenário atual é melhor do que o de 2007, quando os gestores tinham a bolsa como principal rival. No auge da euforia com as ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), os preços que os investidores estavam dispostos a pagar pelas companhias eram muito superiores. “Hoje parece claro que algumas empresas não estavam preparadas para ir a mercado e que o melhor seria passar antes por um ciclo de capital privado”, observou.

Apesar do aumento do fluxo de recursos para o país, Minardi considera que a necessidade de capital por parte das empresas ainda é maior do que os recursos à disposição no mercado.

“Não vejo um cenário de freada na atuação dos fundos por falta de oportunidade”, disse o executivo da Gávea que, segundo informações de mercado, estaria perto de fechar a captação do que pode ser o maior fundo de private equity brasileiro, com US$ 1,8 bilhão. Questionado, Minardi confirmou apenas que a gestora está em processo de captação de recursos, mas não falou sobre valores.

Fonte:ValorEconômico18/08/2011