Fundos de private equity planejam captar US$ 20 bi em recursos
O Brasil se tornou, segundo a FGV, uma oportunidade ainda mais atrativa para esses fundos por conta dos investimentos voltados para a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016
Os fundos de private equity, que compram participação em empresas, estão em processo de captação que pode levantar US$ 20 bilhões em recursos até 2012. Das gestoras que operam no Brasil, 83% pretendem lançar um novo fundo e captar novos recursos, de acordo com o Segundo Censo da Indústria Brasileira de Private Equity e Venture Capital, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
O Brasil se tornou, segundo a FGV, uma oportunidade ainda mais atrativa para esses fundos por conta dos investimentos públicos e privados voltados para a infraestrutura da Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. O País figura como o segundo mercado de maior interesse para o segmento entre os Brics (sigla que reúne ainda China, Rússia e Índia), ficando atrás da China, segundo dados da Ampea (associação sediada em Washington que reúne gestoras de fundos que investem em países emergentes).
Do total de US$ 20 bilhões que podem ser captados, US$ 19,3 bilhões são de fundos de PE e US$ 732 milhões de fundos de ventures capital (carteiras que compram participação em empresas de menor porte), segundo a pesquisa da FGV que entrevistou os gestores e perguntou dos planos de captação para o período 2010/2012.
O censo da FGV é um dos poucos levantamentos estatísticos sobre o setor de private equity no Brasil. O estudo, com 436 páginas e dados referentes a 2009 divulgado nesta terça-feira, mostra que o setor fechou aquele ano com US$ 36,1 bilhões em capital comprometido, montante 25% superior ao do ano anterior. A FGV avaliou 144 gestoras.
O levantamento mostra que em 2009 os fundos de private equity e venture capital se recuperaram dos efeitos da crise financeira mundial. As carteiras captaram US$ 6,1 bilhões, 32,6% acima dos números de 2008, um dos piores anos para o segmento. O Brasil vem conseguindo atrair recursos de países como Estados Unidos, Espanha, Inglaterra e Portugal. O recorde anual para o setor ainda é 2007, quando as carteiras levantaram US$ 7,2 bilhões.
O capital comprometido do segmento de private equity e venture capital no Brasil representava 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de ainda aquém da média internacional, de 3,7%, o estudo destaca que o Brasil melhorou o indicador. Em 2004, era de 1%. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, dois países com décadas de tradição em private equity, a proporção equivale a 3,7% e 4,7% respectivamente.
Os gestores apontam no levantamento que um dos principais fatores que impedem a realização de um investimento é quando eles descobrem na “due diligence” (análise dos números da companhia) passivos não revelados pelo controlador da empresa. Segundo o Censo, 21,4% dos investimentos deixam de ser realizados por este motivo.
Abertura de capital
No período de 2005 a 2009, a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) foi uma das principais formas encontradas pelos fundos para sair do capital das empresas e realizar lucros (operação chamada de desinvestimento). O estudo da FGV mostra que nesse período houve 37 IPOs de empresas investidas por private equities. Com isso, os fundos levantaram R$ 31,3 bilhões.
O setor é responsável por empregar mais de 1,5 mil profissionais e possui mais de 500 empresas investidas. O levantamento mostra que o segmento deu um salto no período, seja em número de gestora, seja em recursos administrados. Em 2004, quando a FGV fez o primeiro levantamento dos private equities, havia 116 gestoras. O capital comprometido era de US$ 5,6 bilhões, com 498 profissionais.
Participação no PIB
Com o crescimento da economia brasileira, o setor de private equity pode elevar sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) para 3,5% em três a cinco anos, praticamente o mesmo nível da média mundial e dos países desenvolvidos, avaliou o diretor executivo do Centro de Estudos de Private Equity (Cepe) da FGV, Cláudio Vilar Furtado, durante divulgação do Segundo Censo da Indústria Brasileira de Private Equity e Venture Capital, elaborado pela FGV e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Em 2009, a participação no Brasil foi de 2,3% e em 2004, não passava de 1%. O segmento fechou 2009 com US$ 36,1 bilhões em capital comprometido.
“O Brasil passa por um terceiro ciclo de investimento do setor de private equity”, afirmou Furtado, em teleconferência com a imprensa. “Temos no Brasil um campo fértil para que esta indústria continue crescendo”. Para ele, se o Brasil mantiver nos próximos anos um crescimento sustentável, na casa dos 4% ao ano, mais recursos de fundos de private equity serão necessários para financiar os investimentos.
Os dois primeiros ciclos dos fundos de private equity foram no final da década de 90, com a privatização do setor de telefonia e energia elétrica, e nos anos 2000, com novas empresas atraindo recursos destes fundos, como a companhia aérea Gol.
O próximo passo do Censo, segundo Furtado, é fazer uma análise histórica do retorno que os fundos têm conseguido no País. Na Itália, segundo dados citados pelo professor, o retorno médio chegou a 33% no período 1999/2005, enquanto a bolsa subiu 18% e os títulos públicos do governo, 8%. No Brasil, ainda há uma amostra muito pequena para uma análise mais elaborada, de acordo com Furtado. (Altamiro Silva Júnior)
Fonte: Agência Estado 21/06/2011