O mercado de fusões e aquisições no Brasil sentiu o impacto da desaceleração econômica. O volume total de transações com valor superior a US$ 500 milhões, envolvendo comprador ou vendedor brasileiros, caiu dos US$ 43 bilhões vistos de janeiro a agosto do ano passado para US$ 38 bilhões no mesmo período deste ano.

 A projeção foi feita pelo diretor-executivo e chefe de assessoria do J.P. Morgan no Brasil, André Maciel. “O mercado de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições] é cíclico. É um múltiplo do que acontece na economia. Quando a economia está retraída, ele cai muito mais. Quando a economia cresce, ele cresce mais”, afirmou o executivo ontem, durante o Fórum Brasileiro sobre Fusões e Aquisições e Private Equity.

 Apesar disso, Maciel considera positivas as perspectivas para os processos de consolidação no Brasil. Segundo ele, o país tem atraído novos compradores, especialmente asiáticos, e, nos últimos anos, todos os fundos relevantes de “private equity” se instalaram no país.

 Para Antonio Wever, do Pátria Investimentos, o fato de o Brasil ter perdido sua aura de queridinho dos mercados é “boa notícia” para as fusões e aquisições. “O investidor de bolsa está mais seletivo. Quem está num estágio anterior [em termos de tamanho e de governança corporativa] tem de recorrer à colocação privada”, observou.

 Na avaliação de Wever, ainda há muito espaço para a consolidação de empresas no mercado brasileiro. Esse fator, aliado à crescente formalização da economia, é um impulso aos processos de fusões e aquisições.

 O mercado está pouco amigável a operações de grande porte – por falta de financiamento e aversão ao risco -, mas companhias que não estão no Brasil têm olhado sua primeira aquisição no país, afirmou Graciema Bertoletti, sócia-sênior da G5 Evercore.

 “Várias empresas estão buscando aquisições menores para se familiarizar com o ambiente”, disse ela, citando como exemplo a recente compra dos ativos brasileiros do WestLB pelo banco japonês Mizuho. “Eles têm interesse em aumentar sua presença no país, mas querem fazer isso um passo após o outro.”

 Segundo Graciema, um mercado potencial para fusões e aquisições é o de empresas familiares que cresceram nos últimos anos e hoje faturam entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão por ano. “As empresas médias estão se fortalecendo e vão ser o motor das transações em 2013 e 2014”, destacou a executiva.

A avaliação dela é que essas companhias não terão capital próprio para continuar crescendo sozinhas e não há fontes de financiamento suficientes.

Para Maciel, do J.P. Morgan, a trajetória de queda das taxas de juros reais vai auxiliar o financiamento dos projetos. Ele observou que os bancos estão se estruturando para oferecer instrumentos de dívida para financiar as transações. “Nos últimos sete anos, o governo criou instrumentos de dívida que são bem-sucedidos lá fora. O que falta ao Brasil é poupança”, ressaltou.

 Por outro lado, um fator positivo é que o país está relativamente blindado dos efeitos da crise europeia, ponderou Graciema. De acordo com ela, o Brasil tem uma dinâmica interna muito favorável, que não vai ser essencialmente alterada pela questão da Europa. “A gente vai devagar, mas firme”, disse.
Autor(es): Por Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico – 17/08/2012