Uma das poucas empresas do setor de tecnologia da informação (TI) com capital aberto na BM&FBovespa, a Bematech, especializada em automação comercial, está de olho nas grandes redes varejistas para aumentar suas vendas.
“São 300 empresas nas quais queremos ter uma atuação direta, com equipes próprias”, diz ao Valor Cleber Morais, que há três meses assumiu o cargo executivo-chefe da companhia.

Por conta do período de silêncio que antecede a divulgação dos resultados trimestrais – o anúncio referente ao segundo trimestre está programado para o dia 9 -, Morais não dá detalhes sobre o desempenho financeiro. Em termos estratégicos, ele explica por que o segmento de grandes empresas é importante para a Bematech: é entre as varejistas de maior porte que a companhia tem espaço para vender pacotes integrados de softwares, equipamentos e serviços, que garantem maior lucratividade.

“O mercado brasileiro é muito fragmentado em termos de ofertas. Você pode ter clientes com produtos de automação de diversos fornecedores. Queremos ter mais ofertas combinadas”, diz o executivo. Hoje, a Bematech tem redes como Magazine Luiza, O Boticário e Burguer King em sua lista de 450 mil clientes no Brasil e no exterior. Mesmo nas empresas que já são clientes, há espaço para crescimento, diz Morais. Segundo o executivo, sua experiência anterior à frente de empresas como Avaya e Sun Microsystems pode ajudar nesse processo.

No mercado há mais de 20 anos, a Bematech tem entre os concorrentes Urmet Daruma, Elgin e Itautec. Com a abertura de capital em 2007, a companhia passou os dois anos seguintes comprando empresas nas áreas de software e serviços para ampliar sua oferta de produtos. No total, foram 5 operações, sendo uma delas nos Estados Unidos. Em 2010, os esforços foram concentrados em arrumar a casa. Durante o ano, a companhia integrou as novas linhas de negócio à sua operação.

Além de mudanças nos nomes de alguns produtos – o MisterChef, que integrou a companhia com a compra da empresa homônima em 2008 foi renomeado para BemaChef – a própria Bematech mudou sua marca. O logotipo azul com traços em preto foi substituído por duas esferas na cor verde. Segundo Morais, a nova marca representa as perspectivas de crescimento da companhia a partir deste ano. Em 2010, a companhia teve um faturamento de R$ 326,4 milhões, 1,21% inferior ao de 2009.

“A expansão da economia faz a tecnologia da informação ser mais necessária. Ter controles é uma forma de elevar o faturamento”, diz o executivo. Segundo uma pesquisa da Bematech, o campo para a adoção de sistemas de automação é fértil. O levantamento, feito com 3,1 mil empresas de todo o país, detectou que só 31,6% do comércio brasileiro está automatizado. Entre os segmentos que menos investem nessas ferramentas estão os estacionamentos e as lojas ópticas.

Além da disputa com os concorrentes, a Bematech tem pela frente outra batalha: estimular a valorização das ações. Os papéis, que nunca voltaram ao patamar de R$ 17 alcançado nos primeiros meses de negociação, vêm oscilando muito nos últimos quatro anos. O pior momento foi em outubro de 2008, quando chegaram a custar pouco mais de R$ 3. Atualmente, estão na casa dos R$ 5. Para Morais, há espaço para voltar aos níveis de 2007. “Com nossos esforços nas áreas de software, equipamentos e serviços, nos sentimos preparados para um novo ciclo de crescimento, que certamente resultará em impacto positivo sobre o valor das nossas ações”, diz.

No primeiro trimestre, a Bematech teve uma queda de 13,4% na receita líquida e de 49,4% no lucro líquido. Segundo Morais, o resultado foi influenciado pela perda de um grande contrato na área de serviços com a Ingenico, fornecedora de equipamentos para vendas com cartões de crédito e débito. O executivo diz que a equipe comercial está sendo ampliada para reverter a perda de receita na área de serviços. Mas a recuperação não ocorrerá rapidamente. “Será um processo de médio a longo prazo. É duro, mas é a realidade”, diz.
Fonte:ValorEconômico02/08/2011