O grupo italiano Gavio, um dos maiores de infraestrutura da Europa, negocia comprar ao menos parte da fatia da sócia CR Almeida e assim assumir sozinho o controle da Ecorodovias, apurou o Valor. Uma das principais concessionárias de rodovias brasileiras, a Ecorodovias fechou 2017 com receita líquida de R$ 3,2 bilhões.

A negociação já leva alguns meses e, de acordo com interlocutores, avança em ritmo lento. “Os dois lados têm interesse em fechar um acordo, mas ninguém está com pressa”, disse uma pessoa. Conforme outra fonte, a negociação pode incluir todas as ações da CR Almeida, se houver um preço interessante para ambos os lados. Com origem nos anos 50 na área de construção pesada no Paraná, o grupo CR Almeida cresceu e diversificou a atuação. Na década de 90 entrou em concessões rodoviárias.

Até agora, não houve acordo sobre preço e a avaliação ficou ainda mais complicada depois que a Ecorodovias perdeu muito valor na bolsa, nesta semana, por conta de investigações derivadas da Lava-Jato em rodovias concedidas.

As subsidiárias Ecovia Caminho do Mar e Ecocataratas foram citadas nas investigações. Elas teriam feito pagamentos sem causa à empresa GTech Engenharia e Planejamento, já citada como uma das companhias usadas pela Triunfo Participações e Investimentos (TPI) para supostamente repassar dinheiro a agentes públicos.

Ontem as ações da Ecorodovias fecharam o pregão em queda de 8,16%, cotadas a R$ 9,23, no maior recuo do Ibovespa.

Atualmente, Gavio e CR Almeida dividem o controle da Primav Infraestrutura, veículo que tem 64% da Ecorodovias. Diretamente, o conglomerado italiano tem ainda 2,3% da empresa. O restante das ações da Ecorodovias está no Novo Mercado. Dentro da Primav, cada um dos co-controladores tem 50% das ações com direito a voto, mas o Gavio tem a totalidade das PN, somando 69,10% do capital total.

Com a aquisição, o Gavio poderia consolidar a Ecorodovias em seu balanço. O grupo, que encerrou 2017 com receita de € 2,6 bilhões, é um dos principais operadores de rodovias da Itália, mas está fora do “top 10” mundial. Somando as estradas da Ecorodovias, passaria a ser o quarto maior em extensão, com mais de 4 mil quilômetros sob administração. Atrás da espanhola Abertis, da italiana Atlantia e da francesa Vinci, respectivamente.

O Gavio entrou no controle da Ecorodovias no fim de 2015 e marcou um ponto de inflexão na trajetória da empresa – depois de tentativas frustradas da brasileira em leilões de aeroportos e experiências malsucedidas nos negócios de logística e portos.

Com a aquisição, Gavio poderia consolidar a Ecorodovias em seu balanço e chegar à quarta posição mundial

A chegada do novo sócio reorientou a companhia. O foco da Ecorodovias, a partir de então, deveria ser somente no mercado de rodovias, nicho em que já tinha sete ativos. O Gavio buscava junto ao sócio uma postura mais agressiva da Ecorodovias nas licitações, ainda que, para tanto, tivesse de praticar taxas de retorno menores do que as tradicionalmente consideradas ideais por investidores brasileiros de infraestrutura. Mas mantendo disciplina de capital.

Contudo, a companhia passou 2016 e 2017 sem conseguir aumentar a carteira de concessões, perdendo espaço para concorrentes e novos concorrentes. No ano passado, ficou em segundo lugar nos dois leilões de rodovias paulistas (o lote “Rodovias do Centro-Oeste”, vencido pelo fundo de investimentos Pátria, e o lote “Rodovias dos Calçados”, arrematado pela operadora Arteris).

Já neste ano a empresa tem sido melhor sucedida ao apostar mais pesado. Em menos de um mês a Ecorodovias ganhou duas concorrências e comprou uma rodovia no mercado secundário.

Em janeiro arrematou o Trecho Norte do Rodoanel de São Paulo com um lance de R$ 883 milhões, ágio de 90,97% sobre a outorga mínima fixa, bem acima da oferta da concorrente Autostrade, da Atlantia, que deu prêmio de 12%. Em fevereiro fechou acordo para adquirir a MGO, concessionária que administra a BR-050 entre os Estados de Minas Gerais e Goiás, por R$ 600 milhões.

Logo em seguida, venceu a licitação para explorar o lote rodoviário de Montes Claros (MG) ao ofertar R$ 2,06 bilhões. O critério da concorrência foi a maior oferta de outorga, sem valor mínimo. A segunda melhor proposta foi de R$ 1,2 bilhão.

Na ocasião, o presidente da Ecorodovias, Marcelino Seras, disse ao Valor que o negócio tem a melhor taxa de retorno dos últimos três projetos, com dois dígitos.

Com os três novos negócios, o prazo médio do portfólio da Ecorodovias subiu de 13 anos e um mês para 17 anos e 4 meses.

Procurado, o Gavio respondeu por e-mail que não existe negociação “específica e concreta” envolvendo a fatia inteira da Ecorodovias. A CR Almeida não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição. Em relação às investigações, a Ecorodovias informou ao mercado que está “segura da legalidade e regularidade dos contratos” firmados entre a Ecovia Caminho do Mar e Ecocataratas com a GTech.

Acrescentou que uma auditoria interna concluída ontem indicou “lisura, realização e efetiva entrega dos objetos contratados”, assim como comprovação de prestação dos serviços.

O presidente do conselho de administração da Ecorodovias recomendou a contratação de escritório de advocacia para “orientação e acompanhamento”. (Colaborou Rodrigo Rocha)  Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/03/2018