A Hapvida colocou à venda dois ativos considerados não estratégicos – a Resgate São Francisco, de transporte de pacientes, e a empresa de tecnologia voltada à saúde Maida –, apurou o Valor. Maior operadora de plano de saúde do país, a companhia perdeu R$ 13,2 bilhões em valor de mercado na semana passada após a divulgação do balanço do quarto trimestre, que ficou abaixo das projeções do mercado financeiro, e com alto índice de sinistralidade.

Com os movimentos recentes de aquisições – fusão com a operadora Notre Dame Intermédica, em 2021, e compra do grupo de saúde São Francisco, em 2019, entre as principais transações -, executivos e controladores das companhias começaram a avaliar quais ativos a Hapvida poderia se desfazer para enxugar sua estrutura, afirmaram fontes. A operadora está sendo assessorada pelo BTG Pactual.

Fontes familiarizadas com o tema afirmaram que potenciais compradores estão recebendo detalhes sobre os ativos. O grupo JSL estaria entre os interessados na empresa de transporte de ambulâncias da companhia. Ainda não há propostas vinculantes para os dois negócios. “São empresas que não fazem parte do ‘core’ do grupo e tiram o foco do seu principal negócio”, disse uma pessoa a par do assunto.

Os ativos colocados à venda não são de alto valor, principalmente dado o porte da Hapvida, uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, mas traz uma importante sinalização de que a companhia de saúde quer buscar maior eficiência financeira. Fontes afirmam que a empresa também teria conversado com a empresa de reestruturação G5.

Hapvida coloca à venda dois ativos

No início de 2021, a Hapvida anunciou fusão com a NotreDame Intermédica, criando uma operadora que hoje tem cerca de 16 milhões de beneficiários de planos de saúde e dental, o que representa cerca de 20% desses mercados. A operação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em janeiro do ano passado e a combinação dos negócios teve a seu favor o fato de que as companhias são similares, mas atuam em praças distintas. Enquanto a Hapvida está presente no Norte e Nordeste, a Intermédica é forte no Sudeste.

Em 2019, a Hapvida já havia anunciado a compra do grupo de saúde São Francisco, de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), por R$ 5 bilhões, e herdou ativos que não eram estratégicos para seu principal negócio, de acordo com fontes.

Os movimentos de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) ocorreram na esteira de uma forte onda de consolidação do setor de saúde no Brasil ao longo dos últimos anos. No entanto, um cenário de juro alto e fraca atividade econômica trouxe novos desafios às companhias, que enfrentam dificuldade de integração de seus negócios, além do impacto dos altos custos.

Quando a fusão com a entre Hapvida e Intermédica foi anunciada, as companhias combinadas valiam cerca de R$ 130 bilhões e eram consideradas as “queridinhas” do setor de saúde por atuarem com um modelo verticalizado, considerado mais resiliente.

Empresas especializadas em reestruturação alertam que empresas de saúde também começam a passar por um escrutínio financeiro por conta do movimento de consolidação.

Na semana passada, as ações da Hapvida sofreram um forte baque, após divulgação de resultados do quarto trimestre. Nesta segnda-feira, os papéis da operadora fecharam em alta de 1,49%, a R$ 2,72, com valor de mercado em R$ 19,4 bilhões.

Desde a divulgação do balanço de resultados do ano passado, na quarta-feira da semana passada, a companhia perdeu R$ 13,2 bilhões em valor de mercado, segundo o Valor Data. Em 12 meses, as ações da operadora de acumulam desvalorização de 77,3%.

Entre os indicadores do balanço que levaram a essa reação negativa dos investidores estão a taxa de sinistralidade, que ficou em 72,9%, alta de 8,1 pontos percentuais em comparação ao mesmo período de 2021. Uma queda era esperada, tendo em vista que o atual cenário de covid-19 é mais ameno. Mas com maiores gastos médicos e reajustes de preços de planos de saúde corporativos inferiores a 5%, a operadora consumiu cerca de R$ 600 milhões do caixa e viu sua dívida subir para R$ 7,1 bilhões. A alavancagem da companhia hoje é inferior a 2,5 vezes o Ebitda.

A Hapvida registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 316,7 milhões no quarto trimestre de 2022, revertendo o lucro de R$ 200,2 milhões reportado no mesmo período de 2021. O indicador incluiu a NotreDame Intermédica após a combinação dos negócios. A receita líquida consolidada, por sua vez, cresceu 150% em relação a igual intervalo do ano anterior, para R$ 6,5 bilhões. A Hapvida diz que o resultado foi afetado pela consolidação da receita da NotreDame Intermédica a partir de fevereiro de 2022.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira, o Bofa apontou que investidores questionaram sobre a saúde financeira da companhia após a queima de caixa no último trimestre do ano passado, mas, na sua visão, a Hapvida vai superar esse momento, com boa posição de caixa para atravessar 2023 e que há espaço para aumento de preços, o que ajudará a recompor margens.

“Acreditamos que a Hapvida não está negociando em múltiplos, mas em risco de solvência percebido e modelo de negócios, que continuamos a acreditar que é líder”, segundo o relatório do banco.

Procurada, a Hapvida e JSL não se manifestaram sobre o assunto. O BTG Pactual não comentou e a G5 não concedeu entrevista… leia mais em Inteligência Financeira 07/03/2023