A Hypermarcas, maior companhia brasileira de consumo, anuncia hoje ao mercado mudanças na estrutura da organização. Foram criadas duas unidades de negócios, de consumo e farmacêutica, com um presidente para cada operação. A companhia também confirmará nesta manhã a adoção de um posicionamento mais defensivo na condução dos negócios neste ano e deve informar sobre redução na meta de valor de Ebitda – lucro antes de juros e impostos -, estimada para 2011.

Como pano de fundo das mudanças está a alteração no ambiente econômico no país. Em função da desaceleração do ritmo de crescimento do mercado, algo já sentido pela empresa nos últimos meses, a Hypermarcas entende que essa é a hora de adotar um posicionamento mais cauteloso, com foco maior em duas questões principais:

consolidação dos dois braços de negócios e proteção maior do caixa do grupo.

A companhia deve trabalhar para reforçar a geração de caixa, e, portanto, já começa a reduzir o ritmo de investimentos e lançamentos neste ano. Algumas despesas em marketing foram postergadas e investimentos fabris foram revistos no segundo trimestre do ano.

O plano é conduzir os negócios de forma a se proteger de um cenário de piora da economia brasileira. No primeiro trimestre, o balanço de resultados da empresa mostrava que o grupo já chamava atenção para uma perda de vigor do mercado. A Hypermarcas foi uma das primeiras empresas a reagir ao menor ritmo de crescimento do consumo.

O comando do grupo vai comentar com os analistas, hoje, em conferência sobre resultados do segundo trimestre, que, por conta desse cenário de incertezas, decidiu rever sua previsão para o valor do Ebitda, de R$ 1 bilhão em 2011 para aproximadamente R$ 900 milhões. Vai informar também que não tem planos de fechar novas aquisições neste ano, pois entende que não é a hora de fazer esse tipo de investimento.

Conforme apurou o Valor, o grupo também mudou a estrutura da organização. A empresa passará a ter um presidente para cada uma das unidades de negócios, de consumo e farmacêutico. O executivo Nelson Mello, presidente comercial da companhia, vai assumir a função de presidente da unidade de consumo. Ele já está ocupando essa função há cerca de um mês, mas o comunicado oficial acontece hoje.

Um novo executivo está sendo procurado pela empresa para a função de presidente da unidade farmacêutica. Por enquanto, Claudio Bergamo, presidente da Hypermarcas, acumulará essa função. Até então, Bergamo era o responsável pelas duas operações.

“Dividimos a empresa em dois grandes blocos e, passada a fase de integração, eles precisam ganhar agilidade maior, ganhar ainda mais escala e ampliar o capital de giro da empresa”, disse ao Valor Claudio Bergamo, no fim da noite de ontem, após o grupo enviar os dados do balanço ao mercado.

Cada um dos braços de negócio manterá quatro departamentos independentes – são eles, vendas, marketing, produção e pesquisa e desenvolvimento. O executivo Carlos Scorsi continuará como diretor-geral de operações da Hypermarcas, que será responsável pelas áreas de suprimentos, tecnologia, recursos humanos e logística dos negócios de consumo e farmacêuticos. Martim Mattos, diretor financeiro, continuará responsável pela área para os dois braços do grupo. Essa separação abre uma possibilidade nova para a empresa, de cisão dos dois negócios – algo que pode entrar em uma pauta de discussão futura, apurou o Valor.

A companhia também se movimenta para uma tomar outra medida nos próximos dias. O grupo poderá interromper o processo de venda da linha de alimentos e de produtos de higiene e limpeza, conforme apurou o Valor. Os efeitos da crise americana internacional também explicam a medida. No caso dos alimentos, com a marca de atomatados Etti, ainda existe uma negociação em andamento, mas há sinais de que ela possa não avançar. Com as marcas Assim e Assolan, as conversas com interessados estão praticamente encerradas.

Isso aconteceu porque as propostas apresentadas não foram consideradas interessantes. A empresa não tinha pressa em fazer a venda porque, apesar do foco em aumento de caixa, está em uma situação financeira confortável. A razão principal para a venda era estratégica, visto que os negócios perderam prioridade dentro do grupo. A ideia é voltar a investir neles a longo prazo e fortalecê-los. Nos corredores da companhia, a análise é de que a crise externa nos Estados Unidos afetou os ânimos de empresas brasileiras e estrangeiras que avaliavam os negócios.

Fonte:ValorEconômico15/08/2011