Juros em alta, inflação ultrapassando os 10% ao ano, renda em queda e projeções de crescimento próximo de zero ou negativo em 2022. Essa piora das condições econômicas têm deixado o mercado com o pé atrás. Ou melhor, com o pé mais próximo de uma saída de emergência.

Nesse ano, o Ibovespa, principal índice da B3, já acumula queda de 13,6%. Desde junho, quando superou os 130 mil pontos, a queda é de quase 21%. Mas existe um grupo de empresas que está sofrendo mais do que a média do mercado: são as small caps, em geral, ações com menos liquidez.

“Se há dúvida sobre para qual lado as coisas vão, é melhor ficar mais perto da porta de saída”, afirma, ao NeoFeed, o gestor Luís Felipe Amaral, fundador da Equitas, gestora com cerca de R$ 5 bilhões sob gestão.

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Uma forma de entender o que Amaral está falando é observar o comportamento do índice SMAL11, principal ativo que replica uma carteira teórica de small caps na Bolsa. Em períodos de maior estresse, o índice acaba se mostrando mais volátil que o mercado como um todo, ou seja, com um “sobe-e-desce” mais intenso nos movimentos.

Nos últimos 12 meses, o SMAL11 teve uma volatilidade de 25% no mercado, segundo dados da B3. O resultado só para o último mês, porém, se anualizado, cresce para 40%.

Por outro lado, o BOVA11, ativo que procura replicar o Ibovespa, com as ações de maior liquidez, teve uma variação menor. Em 12 meses, a volatilidade é de 21%. Mas, no dado anualizado para o último mês, ficou em 24%.

O aumento de volatilidade, porém, pode resultar em preços mais altos ou mais baixos. No caso das small caps, como os investidores estão reduzindo suas posições, a tendência é de queda.

No período em que o movimento de migração se mostrou mais forte, entre os dias 21 de setembro e 29 de outubro, o SMAL11 teve uma desvalorização de 14,46%, enquanto o BOVA11 recuou apenas 5,76% – uma diferença de 8,7 pontos porcentuais.

“Começou a haver um movimento de resgate dos fundos de ações e os gestores estão tendo de vender, de maneira forçada, as empresas menos líquidas, que sofrem mais”, afirma Paolo Di Sora, gestor e sócio da RPS Capital, que tem R$ 3 bilhões sob gestão.

Só em novembro, os fundos de ações acumulam resgate líquido de R$ 3,7 bilhões. Os de renda fixa, que se beneficiam da alta dos juros e das saídas dos fundos de ações, registram captação líquida de R$ 31,7 bilhões.

O comportamento dos investidores afeta empresas dos mais variados setores. A 3R Petróleo, por exemplo, que faz parte do SMALL11, observa seus papéis se desvalorizarem 18,3% este ano. A ação da empresa tecnologia Bemobi caiu 30%. A do banco mineiro BMG, 48,9%. A Camil, 14,5%.

Até companhias de shopping, que estão voltando a operar normalmente, estão sofrendo. O Aliansce Sonae perde 17,7% de seu valor em 2021. Em telecomunicações, a Unifique recua 16,4%, e a Desktop, 31,5%.

Esse desempenho, muitas vezes, não tem nenhuma relação com os fundamentos da empresa. Esse é o caso, por exemplo, da rede mineira de hospitais Mater Dei. A companhia, que levantou R$ 1,4 bilhão em IPO realizado em abril, opera no azul. No terceiro trimestre, o lucro líquido foi de R$ 43,6 milhões, alta de 19% em relação a igual período do ano passado.

A empresa, que faz parte de um setor que tem pouca relação com a atividade econômica e que se beneficia de uma tendência de envelhecimento da população, anunciou em julho que estava fazendo seu primeiro movimento de expansão após o IPO, com a compra de 70% do Grupo Porto Dias, por R$ 800 milhões.

No entanto, desde a abertura de capital, a ação da empresa acumula queda de 7,2%. “A Rede Mater Dei é um dos hospitais mais rentáveis, que entregou uma aquisição excepcional depois do IPO, mas a ação despencou”, diz Amaral, da Equitas. “Quem comanda o preço do dia a dia são investidores que fazem compra e venda o tempo todo, e que não estão olhando o longo prazo.”

Amaral, que investe na ação da Rede Mater Dei, porém, vê isso como uma oportunidade. “Aqui, não estamos fazendo nada. Já tínhamos uma confiança na empresa quando o preço estava mais alto. Agora, o que vemos é que está mais barata”, afirma o fundador da Equitas.

Para a própria empresa, a queda das ações não afeta o dia a dia do negócio, mas pode atrapalhar o compromisso assumido com a B3 de realizar um follow-on 18 meses após o IPO.

Quando abriu o capital, em abril, a companhia recebeu um consentimento (“waiver”) da B3 para ter apenas 22% das suas ações circulando no mercado, o chamado “free float”, quando, na verdade, o mínimo exigido é de 25% no Novo Mercado.

A empresa, porém, tem de atingir a marca de 25% antes do follow-on, para poder realizar a nova captação. Caso contrário, terá de pedir um novo consentimento. “É a história do ovo e da galinha. Com menos liquidez, não temos perspectiva de fazer o follow-on. Mas precisamos chegar aos 25% para fazê-lo”, afirma Rafael Cardoso, CFO do Mater Dei, ao NeoFeed.

Segundo Cardoso, os fundos estrangeiros de investimentos, em geral, exigem que as empresas investidas tenham, pelo menos, entre R$ 40 milhões e 50 milhões de volume negociado diariamente. O Mater Dei, por enquanto, desde o IPO, tem uma média de R$ 13,5 milhões…..Saiba mais em neofeed.22/11/2021