Durante a crise, vender ativos no Brasil foi saída para instituições estrangeiras que tiveram problemas financeiros

Serviços financeiros, mineração, energia e indústria química responderam por 75% das transações em valor de empresas brasileiras comprando estrangeiras entre 2008 e novembro de 2011, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Só as aquisições feitas pelas instituições financeiras brasileiras representaram quase um terço dos negócios fechados no período. O grande destaque foi a compra, em 2009, do banco suíço UBS pelo BTG Pactual, comandado pelo banqueiro André Esteves. O valor do negócio foi de US$ 2,5 bilhões.

Além do BTG, Bradesco e Itaú Unibanco foram protagonistas de aquisições de bancos estrangeiros. Em abril de 2011, por exemplo, o Bradesco comprou por US$ 1,276 bilhão a participação minoritária (4,1%) que o banco português Espírito Santo detinha na instituição.

Um ano antes, o Itaú Unibanco havia comprado a participação minoritária (1,25%) do Bank of America Corporation, dos Estados Unidos, por US$ 1,115 bilhão.

Motivação.
“A crise pegou muitos bancos estrangeiros. Por isso, esse movimento foi forte no setor financeiro”, afirma Reynaldo Passanezi, vice-presidente da Sobeet e responsável pelo estudo. Ele argumenta que a necessidade de aumentar o capital nas matrizes fez com que essas instituições estrangeiras colocassem à venda as participações em bancos brasileiros em outros países.

Como o mercado brasileiro está líquido, porque tem empresas que compram e pagam bem, os negócios acabaram saindo aqui, diz o economista.

A principal transação no rol das 850 listadas no período estudado foi a compra de ativos no Brasil da americana Bunge Fertilizantes pela Vale. O valor do negócio, fechado em 2010, foi de US$ 3,8 bilhões.

A Vale informa que seu foco é no crescimento orgânico. Mas, em recente entrevista a investidores em Nova York e Londres, o diretor financeiro da companhia, Tito Martins, reforçou que a empresa está sempre olhando oportunidades de aquisições, desde que sejam compatíveis com a estratégia de crescimento do grupo.

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é outra empresa que está ganhando musculatura com as aquisições. Em junho de 2011, comprou uma concessão e participação em sociedade composta por quatro ativos de transmissão de energia elétrica do Grupo Abengoa, de origem espanhola, por US$ 907 milhões.

Na época do fechamento do negócio, o presidente da Cemig, Djalma Bastos de Morais, disse que a aquisição de “mais esse ativo” ia ” ao encontro da estratégia da Cemig em se tornar uma empresa cada vez maior e um player cada vez mais competitivo no mercado”.

Efeitos.
Na análise de Passanezi, existem dois efeitos para o balanço de pagamentos quando as empresas brasileiras compram ativos de companhias estrangeiras. Num primeiro momento, o impacto é negativo, porque ocorre uma saída de divisas para quitar a compra dos ativos ao vendedor estrangeiro.

Num segundo momento, no entanto, o reflexo é positivo no balanço de pagamentos, porque deixam de ser remetidos ao exterior os dividendos provenientes da operação da empresa estrangeira no País.

O economista também enfatiza que a aquisição de ativos de estrangeiros por brasileiros reforça a atuação das empresas nacionais, mas não indica necessariamente aumento no volume de investimentos. Isso porque esses ativos comprados por brasileiros já existem e estão apenas trocando de dono. Por Márcia De Chiara,
Fonte:OEstadodeS.Paulo24:12:2011