Pouco antes desta entrevista começar, Edson Rigonatti, fundador e sócio da Astella Investimentos, mandou dois gráficos que iriam apoiar a conversa que você pode ler abaixo.

No primeiro, um levantamento com base em dados do Pitchbook que começa em 2006 e termina nos três primeiros meses de 2022 mostra um queda de mais de 20% nos valuations de startups em estágio avançado quando comparado ao ano passado.

O segundo gráfico traz a mesma série histórica. A diferença é que leva em conta os valuation em startups early stage. E surpresa: um crescimento de quase 50% nessa etapa.

Apesar desses dados que mostram sinais invertidos no comportamento de investidores na hora de avaliar as startups, Rigonatti faz uma análise nua e crua do atual cenário: após uma fase de exuberância, que foi o ano de 2021, o mercado de venture capital está voltando à mediana histórica.

“Isso significa menos frenesi e opulência nos “valuations”. Significa também um mercado mais cadenciado e com menos FOMO (sigla de “fear of missing out”)”, afirma o sócio da Astella Investimentos, que já investiu em 47 startups, entre elas Omie, Livance e RD Station (vendida para a Totvs). “Vai ser menos oba-oba.”

Nesta entrevista, Rigonatti diz que houve exageros nas rodadas de algumas startups no ano passado, que em alguns casos chegaram a três aportes em menos de 12 meses e afirma que os investidores estão recomendando as empresas de seus portfólios a ter parcimônia no uso do dinheiro.

“A orientação generalizada no mercado é preservar caixa o máximo possível e garantir a robustez operacional típica da próxima rodada esperada. O foco agora é operacional e menos só em fund raising”, diz Rigonatti.

Isso não significa, em sua visão, não queimar caixa. “Mas queimar com mais propriedade. E não simplesmente crescer por crescer ou contratar achando que vai crescer”, afirma o sócio da Astella.

Essa nova recomendação acontece após um ano recorde de investimentos em startups no Brasil. Em 2021, os aportes atingiram R$ 9,4 bilhões, três vezes mais do que o ano anterior. E antes um oásis, as empresas começaram a demitir, como aconteceu como QuintoAndar, Lotft e Faciliy.

O conselho de Edson Rigonatti
Pixabay

A seguir, os principais trechos da entrevista:

No ano passado, o mercado de venture capital foi recorde no Brasil, atingindo R$ 9,4 bilhões. Qual a expectativa para esse ano: a liquidez será menor?
A expectativa é de um ajuste em toda a cadeia produtiva. Desde a saída, estamos falando de IPOs e de transações estratégicas, até as rodadas intermediárias. Onde a gente vê um maior ajuste é justamente no late stage. Do ponto de vista de ciclo, diria que é muito esperado. Trabalhamos muito com esse conceito de reversão à mediana: nada descola muito da mediana histórica por muito tempo sem alguma razão profunda. Esperamos esse caminho de retorno à mediana de uma maneira bastante saudável.o… leia mais em NeoFeed 04/05/2022