As discussões sobre a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança por parte das empresas remetem há quatro décadas, muito antes da criação do termo ESG (sigla em inglês para environmental, social and governance), em 2005. O tema, entretanto, ganhou tração nos últimos dois anos, com número crescente de investidores estrangeiros, liderados pelos europeus, vocalizando preocupações com temas que incluem aquecimento global, degradação ambiental e direitos humanos.

Um dos catalizadores foi Larry Fink, presidente da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo com mais de US$ 6,5 trilhões em ativos sob gestão. Em 2019, ao publicar uma das famosas cartas anuais para CEOs, Fink abordou o tema, afirmando que “o lucro e o propósito estão intimamente associados”. A pandemia criou um ambiente propício para o que o tema entrasse na agenda de mais investidores, aumentando a pressão para que as empresas adotem a filosofia em seus modelos de negócios, missões e propósitos.

Aos poucos, a agenda começa a chamar a atenção de investidores locais. Em 2020, pelo menos seis novos fundos ESG chegaram ao mercado. Em outra frente, tradicionais gestoras anunciaram a adoção de princípios ESG para a análise de ativos para todos os seus fundos. “Começamos a olhar para a questão de forma contundente após o há 2 horas Suplementos acidente da Vale em Brumadinho”, diz Márcio Correia, gestor de ações da JGP. A “mudança de chave” ocorreu quando um dos principais clientes da casa, o family office SKP Investimentos, insistiu que suas aplicações passassem pelos crivos ESG. Isso motivou a gestora a publicar uma carta pública informando sobre os novos critérios de seleção de ativos abraçando a filosofia.

A JGP não está sozinha na jornada. A Mauá Capital, gestora que completa 15 anos em 2020, está mudando toda a estratégia da casa para uma visão ESG. “Muitos investidores que financiam uma empresa ou compram equity não querem mais fazer isso sem entender profundamente como a empresa se comporta, gera valor em suas cadeias e impacta seu entorno”, diz a sócia Carolina da Costa. Uma das soluções que a Mauá está ofertando é um instrumento semelhante a um FDIC que permitirá que grandes empresas que já adotam a filosofia ESG possam financiar as pequenas empresas de suas cadeias de suprimentos levando em conta também esses critérios.

A Mauá firmou parceria técnica com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que reúne 60 grandes grupos empresariais que já abraçaram os princípios de negócios sócio e ambientalmente responsáveis. O objetivo é auxiliar as grandes empresas com uma tarefa que elas já desenvolvem – o financiamento das cadeias de fornecimento – mas incluindo indicadores ESG nesse processo. “Ao monitorar a cadeia, será possível premiar o fornecedor que atender critérios socioambientais com uma menor taxa ou outros benefícios.” Há um componente “geracional” que explica a popularização da agenda ESG, na visão de Gustavo Pires, diretor de fundos de investimento da XP. Jovens das gerações Y e Z já tomam decisões nas empresas, investem ou são consumidores que expõem seu descontentamento com questões ambientais e sociais nas mídias sociais. “O ESG não é uma onda passageira. Essa filosofia terá protagonismo nos próximos anos”, diz.

Em 2020, a XP lançou três fundos ESG – incluindo um de previdência – e disponibilizou R$ 100 milhões em seed capital para fomentar gestoras interessadas em desenvolver produtos com esses princípios nos próximos 12 meses. “Não adianta trazer produtos medianos apenas porque atende a uma demanda por ESG. Se começarmos a proliferar produtos medíocres, o risco é de queimar essa agenda no médio prazo por conta de retornos ruins”, afirma. Jornalista: Felipe Datt. Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 31/08/2020