Os investidores com exposição ao Brasil devem ser cautelosos, já que os preços de ativos parecem elevados dados os riscos crescentes no país, adverte o banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH). Em nota divulgada nesta segunda-feira, o BBH diz que o cenário econômico “continua pobre”, enquanto o quadro político tem mostrado deterioração.

“O presidente [Michel] Temer teve algum sucesso com as reformas estruturais, mas os seus esforços começam a diminuir”, afirma o BBH. O banco lembra que Temer conseguiu apoio no Congresso para aprovar no fim do ano passado a regra que limita a expansão dos gastos públicos federais.

“No entanto, a popularidade de Temer (e, por extensão, a de seu partido, o PMDB) está em níveis recordes de baixa”, diz a nota, avaliando que a austeridade fiscal, a recessão em curso e investigações sobre corrupção são os principais fatores trabalhando contra Temer.

Ao falar da reforma da Previdência, o BBH diz que recentes relatos da imprensa sugerem que o governo vai fazer concessões à sua proposta. Com a crescente oposição no Congresso, Temer deve apresentar uma nova proposta em 18 de abril, cortando cerca de 20% da economia estimada com o projeto inicial. “O plano original projetava economias de R$ 678 bilhões ao longo dos próximos dez anos.” O BBH aponta as dificuldades na economia, lembrando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta crescimento de 0,2% neste ano e de 1,5% em 2018. Indicadores do primeiro trimestre, porém, sugerem um “possível retorno” ao terreno positivo nos três primeiros meses do ano, diz o banco. As pressões inflacionárias, por sua vez, estão em queda, levando o IPCA a acumular variação de 4,57% nos 12 meses até março, o nível mais baixo desde agosto de 2010, e um nível próximo aos 4,5% da meta perseguida pelo Banco Central (BC).

O cenário marcado por inflação em baixa e atividade fraca abre espaço para ampliar o corte dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, reduzindo a Selic em 1 ponto percentual, e não mais em 0,75 ponto, como fez nos dois encontros anteriores. Hoje, os juros estão em 12,25% ao ano.

Para o BBH, Temer apertou a política fiscal, mas melhoras adicionais são difíceis até que a economia se recupere. O banco espera que o déficit nominal (que inclui gastos com juros) fique em 9% do PIB em 2017 e 8% do PIB em 2018, depois de atingir 10,4% do PIB em 2015 e 9,1% do PIB em 2016. No entanto, haveria um risco de números piores, dada a fraqueza da economia e a crescente oposição à reforma da Previdência.

“De fato, as estimativas orçamentárias do governo acabaram de ser revisadas”, nota o BBH, lembrando que a previsão do déficit primário do governo federal em 2018 passou de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões, com pouca melhora ante a projeção de um rombo de R$ 139 bilhões neste ano.
Ao tratar das contas externas, o BBH diz que o Brasil tem uma vulnerabilidade externa muito baixa, dado o volume de reservas, de US$ 370 bilhões, e o fluxo elevado de investimentos diretos no país (IDP).

O BBH também analisa o comportamento dos ativos brasileiros. A moeda brasileira, por exemplo, deixou de ter um desempenho tão melhor que o da média do mercado, segundo o banco. Em 2016, o real se valorizou 22% em relação ao dólar, a melhor performance entre os mercados emergentes, à frente dos 20% do rublo russo, dos 13% do rand sul­africano e dos 6% do peso colombiano. Já em 2017 a moeda brasileira acumula alta de 3% no ano, atrás dos 11% do peso mexicano, dos 7% do rublo e dos 6% do won sulcoreano.

O BBH avalia que as ações brasileiras, que tiveram um desempenho “estelar” em 2016, devem manter o desempenho abaixo da média do mercado registrado neste ano. Em 2016, o índice MSCI para o Brasil subiu 57% (em dólares), enquanto o índice geral para mercados emergentes teve alta de 7%.

Neste ano, o MSCI Brazil subiu 9,9%, menos que os 11,6% do indicador para mercados emergentes. – Valor Econômico Jornalista: Sergio Lamucci Leia mais em portal.newsnet 11/04/2017