Próxima fase de consolidação de provedores deve envolver grandes operadoras
Com a consolidação de mercado entre provedores regionais de banda larga entrando em uma “segunda fase” marcada pela união de ISPs de maior porte, a aposta é que uma próxima etapa do movimento no Brasil seja protagonizada por aquisições envolvendo as grandes operadoras.
A chamada “terceira fase” da consolidação dos ISPs foi um dos aspectos abordados em relatório da área de pesquisa do BTG Pactual. “Sempre vislumbramos uma consolidação natural em três fases do mercado de ISP no Brasil: grandes ISPs comprando jogadores menores (algo bem encaminhado); a consolidação entre grandes ISPs, com Vero e Americanet recentemente dando o pontapé inicial; e a consolidação de mercado por grandes empresas de telecomunicações”, apontou o documento
Leitura similar foi feita por um CEO de distribuidora de equipamentos com ampla atuação no mercado de provedores regionais. Ao TELETIME, o executivo observou que se há algum tempo a marca de 100 mil assinantes na banda larga era considerada emblemática para provedores regionais interessados em vender ativos, agora a referência perseguida é a de 1 milhão de clientes.
Com essa base, as empresas já chamariam a atenção das grandes operadoras, segundo o executivo da fornecedora – que também vê a entrada das teles na consolidação dos ISPs como uma questão de tempo. Hoje, há apenas três grupos que já ultrapassaram a marca do milhão de assinantes: a Alloha Fibra (da EB Capital), a união entre Vero e Americanet anunciada em julho e a Brisanet. Já a Desktop está se aproximando do patamar.
Pelo lado das teles nacionais, América Móvil (dona da Claro) e Vivo já afirmaram que avaliam como positivo o movimento de consolidação na banda larga brasileira, se colocando abertas a oportunidades. No caso da Vivo, aspectos como sobreposição de redes e precificação foram classificados como desafios na negociação com alvos potenciais.
Outros possíveis compradores de ISPs são as redes neutras de fibra óptica – mercado no qual o próprio BTG Pactual atua, como controlador da V.tal. Para fonte ouvida por TELETIME, processos de aquisição de infraestrutura de provedores por companhias neutras estão amadurecendo e podem movimentar o mercado nos próximos meses. FiBrasil e a IHS (sócia da I-Systems) são outros players já vinculados ao interesse em compras de ativos.
Fragmentação
Nacionalmente, somente 23 ISPs somam mais de 100 mil acessos na banda larga, com apenas 13 deles superando os 200 mil assinantes, notou o relatório recente do BTG Pactual. Já 97% dos mais de 10 mil provedores regionais de banda larga ainda estariam abaixo dos 10 mil acessos, implicando em um mercado bastante fragmentado.
“Por ser um mercado muito descentralizado, com mais de 10 mil provedores regionais atuando no País, estima-se, segundo companhias do setor, que a média da capacidade da rede utilizada por provedores seja de no máximo 30%, mostrando a grande ociosidade na infraestrutura e dando espaço para uma melhora de margem e ganhos de sinergia em um processo de fusão de empresas”, afirmou ao TELETIME o sócio cofundador da Prosper Capital, Sandro Schleder.
“Enquanto as fusões e aquisições permitem a consolidação do mercado, ganho de escala e sinergias operacionais, os investimentos em tecnologia e infraestrutura são essenciais para atender à crescente demanda por serviços de Internet de alta qualidade e para preparar o setor para as tecnologias emergentes”, completou Schleder.
Já a equipe de pesquisa do BTG Pactual vê o início dos cortes na Selic como alavanca para aquecimento dos negócios, a partir da consequente queda no custo de capital. Neste sentido, o banco listou uma série de negócios potenciais que poderiam ocorrer ainda na segunda fase de consolidação de mercado – ou antes da entrada das grandes no circuito. Desktop, Vero e Unifique foram consideradas as principais candidatas nesta atual etapa de M&As.
Oportunidades
No caso da Desktop, o banco vê uma série de oportunidades no mercado paulista e mesmo mineiro, mas nota que mais capital para o financiamento de aquisições poderia ser necessário. Em São Paulo, o BTG vê espaço para a empresa comprar 680 mil clientes entre provedores com mais de 100 mil acessos.
A Weclix, de Ribeirão Preto, seria um dos matchs possíveis para a Desktop a partir de base de 203 mil assinantes. Caso interessada em fusões com empresas maiores, a Algar Telecom (799 mil acessos) e a Ligga (326 mil) poderiam ser opções para negócios com a operadora paulista, acredita o BTG.
A Ligga também seria alternativa para fusão com a Unifique, que ainda poderia considerar a concorrente MHNet no mercado de Santa Catarina (a empresa tem 308 mil acessos). Já para novas aquisições, o banco de investimentos vê menos oportunidades na região Sul do que no Sudeste, listando seis alvos potenciais para a Unifique – e que somam cerca de 370 mil acessos. A boa notícia é que a empresa teria posição de caixa robusta e baixa alavancagem para financiar eventuais investimentos.
Já no caso da Vero, o BTG vê uma avenida para novos negócios a partir da entrada do grupo no Centro-Oeste. Se tornando o segundo maior ISP do País em assinantes na banda larga após a fusão com a Americanet, a empresa ainda poderia avaliar a Brasil Tecpar (382 mil) como alternativa para novos ganhos de escala. O grupo gaúcho também tem se destacado como consolidadora serial.
Arrumar a casa
“Desde 2018, o setor vem passando por um ciclo de consolidação, impulsionado por eventos de entrada de liquidez em grandes empresas do setor e o recebimento de aportes de fundos de investimentos”, relembrou Sandro Schleder, da Prosper Capital. Segundo ele, mesmo em 2022 (ano de cenário macroeconômico desfavorável para M&As) observou-se uma continuidade nas transações: foram 969 operações envolvendo provedores, ainda que abaixo ao ano de 2021, que fechou com 1.082 transações, de acordo com dados da KPMG.
“Do ponto de vista do vendedor, os principais desafios estão em garantir que a sua empresa seja percebida como lucrativa e valiosa pelo comprador. Além disso, a informalidade nos processos e falta de documentação adequada podem representar obstáculos significativos para quem quer vender. A falta de organização e governança pode gerar dúvidas sobre a eficiência operacional e a gestão do negócio, diminuindo a confiança dos compradores e dificultando a negociação”, completou Schleder… leia mais em TeleTime 21/08/2023