Em uma parceria com o grupo Promon, Pátria encerra captação de fundo de US$ 1,15 bilhão, o maior no País voltado para infraestrutura. Intenção é investir em empresas de logística e transporte, de serviços para o mercado de óleo e gás e de saneamento

Quando se olha para a infraestrutura brasileira – ou a falta dela -, tem-se a impressão de que o País pode parar. Filas de navios para atracar nos portos, cargas ao relento por falta de local para armazenagem, aeroportos lotados. A lista segue com a malha ferroviária pequena e a maioria absoluta das estradas sem pavimentação. Nesse cenário, pródigo em problemas, o Pátria Investimentos viu oportunidade.

A gestora de recursos – criada pelos fundadores do antigo Banco Patrimônio e que hoje tem entre os sócios o fundo americano Blackstone – acaba de fechar a captação de um fundo de US$ 1,15 bilhão voltado exclusivamente para infraestrutura. Trata-se do maior do gênero no País. Um mérito, sem dúvida. Mas a parte mais difícil começa agora: o Pátria precisará colocar o dinheiro no lugar certo.

Focado em três áreas de atuação – logística e transporte, água e saneamento e infraestrutura para o setor de óleo e gás -, o fundo levou um ano e três meses para levantar os recursos, captados quase integralmente entre estrangeiros, responsáveis por 93% do total. Quanto à natureza dos investidores, praticamente metade do dinheiro veio de fundos de pensão, seguidos por fundos soberanos (22%).

Batizado de P2Brasil, o fundo é fruto de uma joint venture entre o Pátria e a empresa de engenharia Promon. Antes mesmo de ter a captação concluída, os sócios já haviam feito dois investimentos no segmento de transporte e logística, área que promete ser destino da maior parte dos recursos. Há sete meses, foi criada do zero a Hidrovias do Brasil, com a ambição de se tornar uma empresa nacional de transporte hidroviário de cargas.

“Como esse setor é formado por empresas pequenas com atuação restrita, que não conseguem atender grandes companhias e não têm muito capital, há espaço para isso”, afirma o sócio do Pátria Otavio Castello Branco, que por dois anos foi diretor de infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O Brasil tem todas as condições naturais para fazer um uso intenso das hidrovias, mas o porte das empresas que atuam no setor restringiu o desenvolvimento desse mercado até agora.

” As hidrovias são a opção mais barata para o transporte de commodities em distâncias superiores a 500 km. No entanto, 60% da soja produzida no Brasil, por exemplo, é transportada por caminhões. Enquanto nos Estados Unidos cerca de 650 milhões de toneladas de grãos são transportadas anualmente pelos rios, aqui o volume é de apenas 35 mil toneladas.

A empresa de maior porte no setor hoje é a Hermasa, do Grupo André Maggi, que foi obrigado a se verticalizar para transportar pelos rios Amazonas e Madeira a soja plantada em Mato Grosso. A Hidrovias do Brasil, que deve entrar em operação somente no ano que vem, vai começar na Região Sul, com o transporte de produtos florestais no Rio Uruguai. A empresa já comprou dois terminais no Uruguai.

Competição. A aposta na infraestrutura para commodities também é a lógica do outro investimento já realizado pelo fundo. Em abril do ano passado, o P2 adquiriu a NovAgri, pequena empresa de armazenagem e escoamento agrícola. O foco da companhia é investir em armazéns , terminais de transbordo e portos. Em geral, por falta de infraestrutura, o produtor brasileiro é obrigado a vender para as tradings, donas de estruturas de armazenagem de grãos. “O objetivo da NovAgri é ligar o fazendeiro ao porto e ser uma opção para o produtor e para as tradings que não estão no País”, diz Ivo Godoi Júnior, diretor executivo da Promon, e, assim como Castello Branco, diretor executivo do P2.

Nessa área, as intenções da joint venture esbarrarão em um competidor de peso: a ALL, maior operadora de trens da América Latina, que pretende investir na construção dos chamados “terminais de interior”. A ideia é que os produtores possam depositar sua produção nesses locais até que se junte volume suficiente para justificar o transporte por trens. “Assim, poderemos capturar parte da carga que hoje é transportada por caminhões”, diz Paulo Basílio, presidente da ALL. Além disso, a empresa pretende lucrar com as receitas extras geradas com a armazenagem, como a classificação e padronização dos grãos.

Novos investimentos. Até o fim do ano, o P2 deve anunciar a estreia em mais dois setores. No de infraestrutura para a indústria de óleo e gás, o fundo vai investir na frota de apoio offshore, formada por navios que fazem serviços que vão da movimentação de cargas da costa para as plataformas ao monitoramento de dutos. “Com o pré-sal – que, além de mais profundo, é mais longe da costa -, essa logística deve se complicar um pouco mais e a estimativa é que o setor precise dobrar até 2015”, diz Castello Branco.

O outro investimento será no segmento de concessões municipais de água e saneamento, que está entre os que apresentam o maior déficit na infraestrutura. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mais da metade da população brasileira não tem acesso a redes de esgoto. Para agravar o estado das coisas, cerca de 90% do mercado é atendido por empresas públicas estaduais e a maioria passa por dificuldades financeiras. As exceções são as de capital aberto: Sanepar (Paraná), Sabesp (São Paulo) e Copasa (Minas Gerais).

Apesar do óbvio potencial de crescimento para empresas no setor, o Pátria deve enfrentar uma série de desafios. A começar pelo tempo de desenvolvimento dos projetos. Em média, leva-se dois anos para costurar um acordo com uma prefeitura. “Nessa área, é preciso fazer um trabalho de formiguinha que exige persistência. Não vejo isso no mercado financeiro, que é mais imediatista”, diz Yves Besse, presidente da CAB Ambiental, uma das principais empresas privadas de água e esgoto no País, criada há cinco anos. “Esse é um negócio que faz mais sentido para fundos de pensão que para fundos de private equity.” Recentemente, o Pátria procurou a CAB com a intenção de iniciar uma negociação.

Em maio, a CAB, que pertence ao Grupo Galvão Engenharia, desistiu de abrir o capital porque não conseguiu atingir o preço desejado pelos controladores. A grande dificuldade, segundo Besse, foi fazer os investidores entenderem o complexo modelo de negócios do setor – um desafio que o Pátria pode ter de enfrentar se quiser sair de seu investimento por meio do mercado de capitais.

Modelo próprio. Desenvolvido por gigantes da gestão de recursos, como o australiano Macquarie e o americano Alinda, o modelo da indústria de fundos de infraestrutura é baseado no investimento em projetos já existentes, com uma taxa de retorno médio de 9% a 12% ao ano. “No Brasil, não adiantaria criar um fundo para investir apenas em infraestrutura pronta porque ela não é suficiente. Daí a ideia de nos juntarmos à Promon, uma empresa de engenharia”, explica Castello Branco.

Com projetos criados do zero, o alvo de retorno esperado pelo P2 é maior, próximo ao de fundos de private equity. Para se ter uma ideia, a taxa média de retorno dos fundos de participação em empresas do Pátria é de 25% ao ano. Mas o retorno maior é proporcional aos riscos mais altos de se desenvolver um projeto do zero. Os sócios ainda estimam que, com os aportes de coinvestidores e financiamentos, o fundo pode chegar a mobilizar até US$ 4 bilhões. O P2 é apenas parte da ambição do Pátria. Só este mês, a gestora – que teve 40% de seu capital comprado pelo gigante Blackstone em 2010 – anunciou a conclusão da captação de mais dois fundos. O primeiro, de R$ 1 bilhão, voltado para o setor imobiliário, e outro, de participação em empresas brasileiras, de US$ 1,25 bilhão, o maior da sua história.

Fonte:oestadodesp22/08/2011