Pedro Bueno tinha 24 anos quando o conselho da Dasa, empresa do setor de saúde adquirida por quase R$ 2 bilhões por sua família, o convidou para ser o CEO, em 2015. Ele não era a primeira opção, mas três tentativas malsucedidas de recrutar três executivos do mercado levaram ao seu nome. “Eu pensei que uma oportunidade como essa não aparece duas vezes na vida, mas hoje, olhando para trás, acho que a decisão de aceitar foi um mix entre 40% de coragem e 60% de ingenuidade, da minha parte”, contou o executivo no novo episódio do CBN Professional, podcast realizado pelo Valor e a rádio “CBN”.

Aos 16 anos, Pedro Bueno entrou na faculdade de economia e começou a conciliar o estudo com um estágio ao lado do pai, o médico e empresário Edson Godoy Bueno, fundador da Amil. “Me marcou muito a sua capacidade de ensinar todos ao redor, sua ousadia e intuição para capturar oportunidades de negócios e também sua maneira de tomar decisões colegiadas.”

Absorvidas algumas dessas lições, Bueno, o filho, entendeu que poderia ficar limitado à “bolha da empresa familiar” e então decidiu trabalhar em bancos de investimentos, conhecendo outras culturas – mais meritocráticas e até duras, descreve. Na Dasa, hoje, aos 32 anos, tenta aplicar um mix desses dois mundos que conheceu, embora nos seus primeiros anos como CEO o desafio maior fosse promover um “turnaround”. “Precisava recuperar mercado, aumentar rentabilidade e melhorar indicadores de qualidade. Conseguimos em três anos, mas aí foi quando decidimos pivotar todo o negócio.”

O movimento foi motivado pelo falecimento de seu pai, em 2017. “Provavelmente o meu pai deveria ser a melhor pessoa com acesso ao setor de saúde e esse sistema falhou com ele”. Cardiopata há muitos anos, não foi orientado a fazer o que deveria para tentar evitar o infarto fulminante, conta o executivo. “Antes disso, eu era muito inspirado no modelo do 3G, o objetivo era tornar a Dasa a maior empresa diagnóstica do mundo, seguindo algo como a Ambev fez”. O objetivo, ele continua, passou a ser “até mais ousado”, embora sem ambições globais de início: “transformar a Dasa em uma empresa mais de tecnologia, capaz de extrair dados dos diagnósticos para realizar prevenções”.

“Acho que a maior armadilha das empresas é tentar fazer essa transformação apenas de modo digital. Patinamos um pouco no início até entender que seria preciso definir quais objetivos estratégicos estávamos buscando, como mediríamos o retorno da transformação, ter os KPIs corretos e como daríamos mais autonomia para os times, no sentido de não deixar o diretor ficar aprovando tudo.”

Um caso emblemático o fez ver, tempo depois, que a transformação cultural estava ocorrendo. “O time desenvolveu uma ferramenta tecnológica superbacana, nova, foi apresentar no comitê executivo e um dos membros falou: ‘mas eu não aprovei isso, tem que voltar tudo’. E a gente falou: ‘não, não. Que bom que ocorreu sem você saber, significa que as pessoas estão com autonomia’.”

Para criar uma rede integrada e preventiva de saúde, Bueno precisou ir às compras, adquirindo hospitais e laboratórios. Hoje, a Dasa é dona de 59 marcas entre medicina diagnóstica e hospitais, de laboratórios como o Delboni Auriemo e o Salomão Zopp, e de 15 hospitais referência, como o 9 de Julho, em São Paulo. Bueno lidera 50 mil funcionários e 250 mil médicos que atendem 23 milhões de pacientes por ano.

Para transformar a Dasa, o CEO também reconhece que precisou se transformar. Um processo que envolveu terapia e meditação, para descobrir suas lacunas, medos, pontos cegos e capacidade de estar presente. Hoje, seu primeiro conselho de carreira é ter humildade. “Quando você fica arrogante, você parou de crescer. Escute mais do que fala, aprenda e vá com calma.”

A íntegra do episódio está disponível nas principais plataformas de streaming, como Spotify e Apple Podcasts, e também no site da CBN… leia mais em Valor Econômico 22/08/2022