Sofisticação do mercado inspira volta de estrangeiros.
Desde 2009, quando a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) passou a publicar os dados consolidados do segmento de private bank, que reúne clientes com no mínimo R$ 1 milhão para investir, a soma dos ativos sob gestão das instituições financeiras que atuam nesse nicho tem evoluído mais de 20% ao ano.
Em junho, totalizou R$ 412,8 bilhões. “Há dez anos, ninguém imaginaria a velocidade de crescimento e de sofisticação que esse mercado atingiu”, comenta Lywal Salles, diretor-presidente do banco UBS no Brasil. “Esse crescimento é o dobro da média verificada em outros países”, compara.
Por trás dessa geração de riquezas, analisa Salles, estão variáveis como crescimento econômico, um sólido mercado de capitais e um pujante cenário de fusões e aquisições de companhias. “O UBS não quer e não pode ficar fora desse mercado (de gestão de fortunas), afirma, destacando, ainda, que o banco “quer ser um dos principais agentes”.
Por isso, retornou ao país em 2010, um ano depois de se desfazer das operações que tinha no Brasil, vendendo-as para a BTG (atual BTG Pactual). E não foi o único estrangeiro que, passada a crise, deixou-se atrair pelo crescimento desse nicho. O Merrill Lynch, em 2009, deu início a uma operação local de private bank, decisão que veio depois de o banco ter mudado de mãos. Em 2008, por conta da crise, foi vendido para o Bank of America.
Em recente entrevista para o Valor, os executivos do banco afirmaram “apostar no Brasil”, motivo que fez com que decidissem montar uma estrutura local, adaptada aos padrões regulatórios do país. Até então, os clientes private brasileiros eram atendidos pelos escritórios que possuem nos EUA. Assim, em 2009, abriram um escritório na capital paulista, e desde então já foram contratadas 43 pessoas, das quais 17 consultores financeiros. Os executivos, na entrevista ao Valor, afirmaram que pretendem expandir a presença física para outras localidades do país, começando pelo Nordeste.
O UBS, por sua vez, optou pela compra de um player local para recomeçar sua atuação como gestor de fortunas. No final do ano passado, adquiriu a Link Investimentos, maior corretora de valores independente do país, que também oferecia serviços de wealth management. Entretanto, a transação ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central.
Enquanto o aval do regulador não vem, o banco está se estruturando. Já contratou cerca de 100 funcionários – que se somarão aos 230 colaboradores da Link, que passou a ser chamada UBS Corretora de Valores – e alugou um escritório de 6 mil m2 na Av. Faria Lima, zona nobre de São Paulo. A mudança para as novas instalações está prevista para janeiro.
Não houve apenas o retorno dos bancos estrangeiros. Outros, que já estavam, encontraram oportunidades para ingressar no nicho de gestão de fortunas. Assim como o UBS, essas instituições optaram pela aquisição de players locais.
Um deles é o Banco do Espírito Santo. Iniciou suas atividades em wealth management em 2009, por meio da compra de um family office local. “Foi uma consequência natural de nossa história, no país, como investment bank”, comenta Domingos Espírito Santo, diretor da Espírito Santo Serviços Financeiros. “Nossa entrada em wealth foi coerente com o crescimento que o Brasil tem vivido, com pessoas com acesso à renda e empresas com acesso ao crédito”, avalia.
O Brasil também é um dos mercados prioritários para o JP Morgan, de acordo com Celso Portasio, diretor da área de private bank no Brasil. “A aquisição da Gávea (gestora de recursos de terceiros, com sede no Rio de Janeiro) é sinal do interesse que a instituição tem pelo país”, argumenta.
Portasio comenta que o banco atua nesse segmento, no país, desde a década de 60, mas destaca que, desde a compra da Gávea, o crescimento da operação tem sido expressivo. O número de funcionários triplicou desde 2009, saindo de 250 para 750 nos dias de hoje.
O JP Morgan já conta com escritórios em Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, e prevê novas operações no interior de São Paulo e no Nordeste. “A expansão geográfica atende ao crescimento das oportunidades”, destaca.
Fonte:valoreconomico06/07/2011