Uma fusão que será anunciada ao mercado oficialmente hoje vai marcar a união de dois dos mais conhecidos nomes do setor de tecnologia da informação (TI) no Brasil: os de Cristina Boner e Severino Benner. Sob o acordo, o grupo TBA, comandado pela empresária, vai unir duas de suas unidades – a Globalweb e a MS-Sequoia – com a Benner Sistemas. O resultado da aliança é a Globalweb Corp., que vai fornecer softwares próprios e de terceiros, além de serviços que variam de nota fiscal eletrônica até segurança da informação.

A previsão é de que a Globalweb Corp. encerrará o ano com faturamento de R$ 240 milhões. A meta é chegar a R$ 500 milhões ao fim de três anos, diz Cristina Boner, o que envolve crescimento orgânico e aquisições. A estrutura herdada pela nova companhia inclui a sede em São Paulo, sete filiais distribuídas pelo país e uma unidade americana, com escritórios na Flórida.

A empresa nasce com cerca de 800 clientes e 1,5 mil funcionários. Não estão previstas demissões. “Ao contrário, temos cem vagas abertas, que esperamos preencher nos próximos 90 dias”, diz Benner.

O negócio terá participação igual para cada grupo de sócios: a Gestione Participações, que reúne os sócios da Benner, ficará com 50% da empresa; a Peachtree, que agrupa os acionistas da TBA, vai assumir a outra metade. A diferença é que a fusão engloba todas as operações da Benner, enquanto para a TBA a união inclui uma parte dos negócios – as unidades orientadas ao setor privado. Os negócios voltados ao setor público permanecem fora da fusão.

A gestão já foi definida. As operações do dia a dia ficarão sob o comando de Severino Benner, que assume o cargo de executivo-chefe da Globalweb Corp. Cristina Boner ficará na presidência do conselho de administração. Após dois anos, pode ter início um revezamento de cargos.

Uma empresa de consultoria – cujo nome não é revelado por enquanto – foi contratada para ajudar na composição do conselho de administração, com a indicação de diretores independentes, diz Cristina. A consultoria também vai acompanhar o plano estratégico da empresa. A idéia, desde já, é preparar a Globalweb para uma eventual oferta de ações em bolsa.

A aproximação que deu origem à fusão começou de maneira despretensiosa. Há seis anos, o grupo TBA decidiu reimplantar o sistema de ERP usado em suas unidades e a escolha recaiu sobre os softwares da Benner. Essa relação cliente-usuário ganhou novos contornos quando Cristina Boner percebeu que faltava uma peça importante à sua unidade Globalweb, que começou a ser desenhada em 2008 e entrou em atividade no ano passado. A companhia já prestava serviços de TI, mas não contava com softwares próprios para oferecer aos clientes. “Tínhamos só a metade do corpo”, diz a empresária. Satisfeita com os produtos da Benner, que já usava internamente, ela viu a oportunidade de somar forças para criar um novo negócio. As conversas evoluíram até a fusão, concluída na segunda-feira.

Agora, os dois empresários poderão trabalhar lado a lado, literalmente. A sede da Globalweb ficará na av. Paulista, mas os sócios terão salas vizinhas em um escritório, no bairro do Itaim, zona sul de São Paulo. O espaço é separado por uma parede “retrátil” de vidro e madeira, que pode ser “aberta” para criar uma única sala.

Ambos têm experiência em criar e conduzir negócios. Severino Benner é o fundador da terceira maior fornecedora nacional de software de gestão empresarial. Cristina tornou-se conhecida em meados dos anos 90, com um episódio que parece saído de um filme de Hollywood. Durante uma visita de Bill Gates ao Brasil, ela mandou um avião circular pelos lugares por onde passaria o então chefe da Microsoft. Gates viu a faixa de saudação e mandou agendar um encontro com Cristina. O resultado é que a TBA conseguiu um contrato de exclusividade que, mais tarde, renderia uma série de processos contra as duas empresas. No início da década passada, Cristina voltou a movimentar o setor ao trazer da Índia a gigante de terceirização Tata Consultancy Services (TCS), com uma joint venture da qual sairia mais tarde, vendendo sua participação aos indianos.

Oportunidades com ‘nuvem colorida’

Descobrir imagens nas nuvens é um passatempo infantil, mas para Cristina Boner e Severino Benner, sócios na recém-criada Globalweb Corp., os formatos proporcionados pela computação em nuvem são a chave para um negócio de gente grande.

A Globalweb Corp. poderá vender programas sob o formato tradicional, com o pagamento de licenças de uso, mas o foco da companhia será fornecer softwares e serviços por meio da nuvem, o modelo pelo qual os usuários não precisam baixar os programas para seus computadores. Os softwares, assim como os dados a eles relacionados, ficam armazenados em computadores localizados em centros de dados. O acesso se dá por meio da internet.

“O mercado de computação em nuvem terá um crescimento muito rápido porque a falta de mão de obra especializada em tecnologia da informação contribui para esse movimento”, diz Benner. A lógica é que sob o modelo tradicional as empresas têm de se responsabilizar por seu próprio parque de equipamentos e softwares, o que exige um grande investimento na compra de tudo isso, sem falar no custo representado pelos profissionais, que estão em falta no mercado. Os atrativos da nuvem são, exatamente, a redução de gastos e um acesso simplificado à TI.

O material de divulgação da Globalweb Corp. deixa bem claro a prioridade ocupada pela nuvem: os produtos e serviços da companhia estão divididos em quadrinhos identificados por cores diferentes, o que resulta em blocos multicoloridos. “Nossa nuvem é a única colorida”, brinca Cristina.

Na prática, sob a holding ficam três unidades de negócios com perfis diferentes. A Globalweb Outsourcing vai oferecer serviços, como hospedagem, consolidação de servidores, nota fiscal eletrônica etc. A Benner Solution será a divisão de softwares próprios, voltados a atividades específicas, incluindo saúde pública, gestão jurídica, gestão de projetos etc. A terceira unidade é a MS-Sequoia, orientada exclusivamente à oferta de produtos da Microsoft.

A Globalweb vai criar pacotes de produtos, mas os clientes poderão entrar no site e comprar o que quiserem, sem precisar baixar nada para suas próprias máquinas. O modelo de pagamento é o que caracteriza a nuvem: uma conta periódica, feita com base em variáveis como o número de horas e de usuários de um determinado programa ou serviço.

Embora pareça invisível aos clientes, a nuvem exige um grande investimento em infraestrutura, como nos servidores que armazenam os programas, e os centros de dados que abrigam essas máquinas. A Globalweb fechou acordo com a CoreSite, que oferece espaço em centros de dados nos Estados Unidos. “O custo no exterior chega a ser 40% inferior ao do Brasil”, diz Benner. A Globalweb tem planos, também, de construir centros de dados no Brasil.

Para empresas maiores, a companhia criou um modelo de atendimento direto, com gerentes de contas. Mas é entre os clientes de pequeno e médio portes que a Globalweb vê uma oportunidade de ouro: criar uma rede de parceiros capazes de configurar os produtos sob medida para essas empresas, acrescentando seus próprios programas. “Muitas companhias de software têm produtos excelentes, mas são pouco conhecidas”, diz Cristina. “Vamos oferecer infraestrutura e marketing para ajudar a torná-las conhecidas.”

Fonte:valor1808/2011