Tecnologias emergentes aceleram fusões e aquisições
Cloud, mobilidade, smart grid e redes sociais estão entre os principais motivos para as associações, informam consultorias.
As tecnologias emergentes que estão ganhando força no mercado impulsionaram os processos de fusões e aquisições e 2011 promete ser o grande ano de associações entre companhias de TI e Telecom, mesmo com a crise dos Estados Unidos e Europa. Para completar ofertas e ter inovação mais rapidamente, muitas estão comprando empresas que tenham plataformas estratégicas.
Assim, encurtam o caminho e não partem do zero para desenvolver as novas soluções que os clientes estão demandando. Estudos de consultorias que acompanham e ajudam a fechar esses negócios revelam que o setor se destaca no exterior, com o Brasil liderando o ranking de transações entre os demais segmentos da economia.
Relatório global da Ernst & Young Terco aponta que o valor de transações de fusões e aquisições entre empresa de TI quase dobrou no segundo trimestre de 2011 em relação ao registrado nos três primeiros meses do ano. Entre abril e junho, os acordos nessa área chegaram a 52,2 bilhões de dólares, com aumento de 92% sobre os 27,1 bilhões de dólares movimentados entre janeiro e março. Em comparação com os 30,8 bilhões de dólares apurados no último trimestre de 2010, a taxa de crescimento é de 69%.
O estudo mostra também que a média dos valores por transação entre abril e junho de 2011 ficou em 194 milhões de dólares, a maior desde o primeiro trimestre de 2000, época do boom das pontocom. Projeções da Ernst & Young Terco sinalizam que as empresas de TI continuam com apetite para compras por terem dinheiro em caixa e considerarem o processo de fusões e aquisições oportunidade para crescimento de seus negócios, mesmo em tempos de crise.
A pesquisa global com as 25 maiores companhias do setor revelou que os investimentos em caixa estimados para essas operações até o final do segundo trimestre de 2011 estavam em 590 bilhões de dólares, 18% acima dos 499 bilhões de dólares reportados no mesmo período em 2010. Esse poder de compra é visto com preocupação pelos analistas da Ernst & Young Terco em razão da divergência entre vendedores e compradores sobre a valorização dos negócios, o endividamento dos Estados Unidos e a desaceleração da economia mundial.
“Em 2011, as empresas de TI voltaram às compras. Elas haviam recuado após a crise de 2008 para ajustamento de balanços. Acumularam muito caixa e estão capitalizadas e olhando mercados emergentes como oportunidade para crescimento dos negócios no longo prazo, mesmo que a crise priorize as diretrizes dos investimentos”, avalia o líder de Fusões e Aquisições da Ernst & Young Terco no Brasil, Ricardo Reis.
Segundo ele, o combustível que está movimentando as fusões e aquisições entre empresas de TI no mundo são as novas tecnologias como mobilidade, smart grid, vídeo on-line, cloud computing e o avanço das mídias sociais. “Elas perceberam que essas tecnologias são importantes para a estratégia de crescimento delas”. Reis observa que o setor gasta muito com pesquisa e desenvolvimento (P&D) e como as novas tecnologias estão evoluindo com muita velocidade, elas precisam agir rapidamente para se posicionar no mercado.
O consultor menciona como exemplo a expansão da computação na nuvem, que deu uma sacudida no mercado, criando novas alianças para que fornecedores atuem em toda a cadeia de entrega das soluções. “Estamos num momento de muito agito para consolidação das novas vertentes tecnológicas”, afirma Reis.
Pela sua situação mais favorável que outros mercados, o Brasil está na mira dos investidores internacionais. Estudos da KMPG confirmam que o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é o primeiro do ranking das operações de fusões e aquisições. Entre as 62 transações realizadas no período de janeiro a setembro, do estudo que analisou 45 segmentos da economia, 44 foram entre companhias da área.
“Confirmando as previsões, ano de 2011 está sendo fantástico para fusões e aquisições no Brasil pelo fato de o País ter se tornado rota de investidores estrangeiros”, diz Luiz Motta, sócio dessa área na KPMG. Mesmo com uma queda de 40% das operações de TIC no segundo trimestre em comparação com o mesmo período de 2010, ele avalia que esse negócio está movimentado e sinaliza que o setor fechará dezembro, mantendo o posto de liderança nessa área.
Ecos de 2010
Estudos da KPMG revelam que em 2010 foram realizadas 72 fusões e aquisições no Brasil, entre elas as transações envolvendo a compra da Vivo pelo grupo espanhol Telefônica e a entrada da Portugal Telecom no controle da Oi. Esse número, segundo Motta, é o dobro das operações registradas em setores como o de alimentos. Ele constata dois movimentos no País. O de atração de companhias internacionais por brasileiras, para entrar mais rapidamente no mercado local, e outro entre empresas nacionais.
“TI cria muitas empresas porque a barreira de entrada é menor do que a de outros segmentos e o estoque de empreendimentos é grande”, afirma Motta. Ele dá como exemplo os vários polos de tecnologia espalhados pelo Brasil, que concentram incubadoras distribuídas por verticais e que criam negócios com muita velocidade. Eles crescem e são adquiridos por grandes companhias e por fundos de investimentos que portam capital de risco. O consultor da KPMG cita casos como o da Totvs, que constantemente anuncia novas compras.
O outsourcing também tem contribuído para aumentos dos processos de fusões e aquisições. Motta faz referência a transações envolvendo bancos que terceirizaram equipes inteiras que dão origem a pequenas softwarehouses e prestadoras de serviços que depois são adquiridas.
Entre as 72 transações reportadas pela KPMG no ano passado no País, 28 foram entre empresas brasileiras. Já 17 envolveram multinacionais com atuação no mercado doméstico (como a compra da McAfee pela Intel), enquanto 12 foram de companhias brasileiras que adquiriam estrangeiras estabelecidas aqui. Outras três foram de brasileiras que foram às compras no exterior, como fez a prestadora de serviços de TI Stefanini, que sozinha fechou dois negócios no ano passado nos Estados Unidos.
Os outros dois negócios restantes do total de fusões e aquisições registradas em 2010 no Brasil foram de grupos nacionais que incorporaram empresas internacionais como o acordo celebrado pelos bancos do Brasil e Bradesco para a compra dos 10% de participação da Visa na Companhia Brasileira de Soluções e Serviços (CBSS), emissora dos cartões Visa Vale no País.
O consultor da Ernst & Young Terco no Brasil, Ricardo Reis, avalia que o processo de fusões e aquisições no mercado local é bastante diferente das transações globais. Segundo ele, as operações que estão ocorrendo lá fora são mais entre empresas que compram patentes para ter acesso rápido a uma nova tecnologia. No Brasil, de acordo com ele, 35% das associações envolvendo companhias estrangeiras são para ganhar presença no mercado e reduzir custos operacionais.
Como exemplo, Motta menciona a compra recente da Mastersaf, empresa brasileira de software para área fiscal, que foi adquirida pelo grupo Thompson Reuters. “Um dos fatores para o interesse de organizações estrangeiras pelas brasileiras é para atender a clientes locais”, explica o executivo da KPMG, informando que esse tipo de transação está crescendo no País, principalmente devido ao risco do investimento, considerado menor que aberturas de operações do zero. Essas empresas fecham contratos lá fora para atender a clientes locais e precisam estar aqui, como é o caso da Capgemini que comprou no ano passado a CPM Braxis. por Edileuza Soares,
Fonte: computerworld16/12/2011