Dois meses depois de tornar-se pública a informação de que a Vale (VALE3) busca um parceiro para a área de metais, a operação avança a passos rápidos. A mineradora recebeu ofertas não vinculantes de potenciais sócios e trabalha para separar o negócio — responsável pela produção de níquel e cobre — do restante da companhia, cuja principal atividade é o minério de ferro. A nova empresa que vai surgir, ainda sem nome e sede definidos, terá governança e gestão independentes. “Temos oportunidade de criar uma companhia especial, que vai criar muito valor para nossos acionistas”, disse ao Valor o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.

O executivo foi enfático em dizer que a Vale não está vendendo os metais básicos, como é conhecido o segmento no jargão da indústria de mineração, mas tentando atrair um sócio que ajude a destravar valor do negócio. Bartolomeo e diretores da Vale apresentam hoje os planos da mineradora para investidores na Bolsa de Nova York (Nyse). É o quarto “Vale Day” desde a tragédia de Brumadinho (MG), em 2019, quando uma barragem de rejeitos de minério de ferro se rompeu e matou 270 pessoas. É também o segundo encontro presencial com investidores na bolsa americana depois da epidemia global de covid-19.

A ideia da Vale, segundo Bartolomeo, é manter o controle acionário da nova empresa a ser criada mesmo que surja a oportunidade, em dois ou três anos, de abrir o capital em bolsa de valores. A Vale trabalha com um cenário de que essa nova companhia de metais possa, inclusive, vir a superar, em valor de mercado, o próprio valor da Vale. A mineradora tem valor de cerca de R$ 420 bilhões, o maior entre as 20 maiores empresas brasileiras, superando a Petrobras. Embora não precise, neste momento, do dinheiro que o potencial sócio poderá aportar, a transação é importante considerando visão de médio e longo prazos.

Vale (VALE3) avança na cisão dos metais

A estimativa da Vale é que em dez anos seja preciso investir US$ 20 bilhões (mais de R$ 100 bilhões) para aumentar a produção de cobre até 900 mil toneladas anuais, cerca de três vezes a produção obtida em 2021 (296,8 mil toneladas). E para quase dobrar a produção de níquel, que foi de 168 mil toneladas no ano passado e chegaria em 300 mil toneladas por ano em uma década.

Em outubro, o britânico “Financial Times” publicou que a Vale tinha contratado assessores financeiros para ajudá-la a vender de 10% a 15% no negócio de metais, fatia avaliada em US$ 2,5 bilhões, segundo estimativas de mercado ouvidas pelo jornal. O Valor apurou que o assessor financeiro é o Goldman Sachs, embora a Vale não fale em nomes por questões de confidencialidade. A reportagem também apurou que, embora o conselho de administração da Vale tenha dado sinal verde para a operação, nenhuma proposta foi ainda levada pela diretoria para apreciação dos conselheiros. Será preciso esperar que as propostas se tornem firmes, vinculantes.

“Vamos separar os metais [da Vale] para criar governança na qual teremos competência, capacidade e incentivos alinhados ao negócio, que se comporta de maneira diferente do minério de ferro”, disse Bartolomeo. A Vale tem experiência em operações semelhantes. Há dez anos, em 2012, a mineradora reuniu ativos de logística vinculados à carga geral (ferrovias e portos) e criou a Valor da Logística Integrada (VLI) para a qual atraiu sócios relevantes.

Agora, mais uma vez, todos os cuidados estão sendo tomados. O objetivo é que essa nova empresa tenha um conselho de administração de alto nível, comandado por um presidente (“chairman”) com experiência comprovada em minas subterrâneas. Boa parte das minas de níquel da Vale, no Canadá, estão debaixo do solo. Na passagem por Nova York para o “Vale Day”, Bartolomeo entrevistou executivo com passagem pela indústria automotiva para eventual posição no conselho da nova empresa. Esse colegiado será criado em colaboração com a Vale, e o CEO da mineradora deve ser vice-presidente do colegiado…. leia mais em Inteligência Financeira 07/12/2022