Um relatório do hub de inovação Distrito mostra que as startups brasileiras já estão sentindo na pele as consequências da retração global da economia. Na esteira da alta dos juros, da queda de grandes empresas de tecnologia e a menor disposição de fundos em injetar dinheiro em empresas de risco, o investimento em pequenas companhias tecnológicas no Brasil foi 60% menor em maio, quando comparado o resultado no mesmo mês de 2021.

As startups captaram, ao longo do mês, US$ 298,5 milhões em 40 rodadas de investimento, ante US$ 772,6 milhões, em 74 rounds, em maio de 2021.

Considerando o acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o total investido foi de US$ 2,6 bilhões, em 282 rodadas. No ano passado, nessa mesma época, o mercado somava US$ 3,2 bilhões e estava próximo dos 350 deals.

Apesar da redução no volume investido, o relatório destaca o maior número de rodadas early stage, direcionadas a empresas menores e que levam também menores cheques — segundo o Distrito, com tíquete médio de R$ 3,5 milhões. Foram, ao todo, 37 captações desse tipo, e apenas três rodadas late stage, para empresas mais maduras.

As fintechs continuam concentrando a maior parte dos aportes. Desde o início do ano, elas já somam mais da metade de todo o capital de risco recebido por startups no país, somando US$ 1,3 bilhão. Em seguida estão as retailtechs, de varejo, com US$ 281,4 milhões e as HRTechs, de recursos humanos, com US$ 219,2 milhões.

Venture capital despenca
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Os principais investimentos de maio

A maior captação do mês foi a da fintech Dock, plataforma de pagamentos e serviços financeiros. Após receber um aporte de US$ 110 milhões, a empresa atingiu avaliação de mercado de US$ 1,5 bilhão e tornou-se o mais novo unicórnio brasileiro.

Outros destaques do mês foram as startup Nomad, com captação de US$ 32,1 milhões; Tractian, com US$ 16 milhões, e Marvin, de antecipação de recebíveis, com US$ 15 milhões.

Momento delicado para as startups

Os dados do relatório deixam em evidência uma realidade de difícil solução. Muitas empresas de tecnologia, especialmente as mais carentes de recursos externos, não estão conseguindo driblar os efeitos da crise e, portanto, precisam enxugar a mão de obra para queimar caixa e manter as portas abertas, uma vez que as captações late stage serão cada vez mais raras.

A maré baixa das startups atinge também as empresas brasileiras. Startups como Loft, Facily, QuintoAndar, Liv Up e VTEX já anunciaram cortes expressivos de pessoal e, nesta quinta-feira, foi a vez da peruana Favo avisar que está deixando o Brasil e, por isso, demitindo 170 funcionários.

Longe de ser um problema restrito ao Brasil, o momento delicado para startups também preocupa importantes figuras do mercado internacional. E carta aberta divulgada a fundadores de seu portfólio de investidas, a aceleradora Y Combinator, uma das mais proeminentes do Vale do Silício, pede cautela e preparação “para o pior”.

“As empresas de tecnologia listadas em bolsa sofreram uma correção de preço brutal nos últimos 60 dias, o que impactou diretamente o apetite dos investidores no mercado privado. Para os investidores, o momento é de cuidado. Para os empreendedores, o momento é de ajustar a operação para não ser refém de novas captações”, diz, em nota, Gustavo Gierun, CEO do Distrito… leia mais em Ìndices Bovespa 02/06/2022