Com dívidas, pequenos ISPs precisam de financiamento para operação e fluxo de caixa, diz Abrint
Para os pequenos provedores de acesso (entendidos como um conjunto de milhares de ISPs de até 5 mil assinantes), a prioridade nesse momento é conseguir mecanismos de rolagem das dívidas que foram contraídas, sobretudo, durante a expansão do período da pandemia. Segundo Mauricélio Oliveira, diretor presidente da Abrint (associação que congrega muitas dessas empresas), os pequenos ISPs estão comprometendo parte significativa de suas receitas (em alguns casos, mais de um terço) apenas para bancar os compromissos financeiros.
O que aconteceu, explica, é que com a necessidade de rápidos investimentos no ciclo de expansão do mercado de 2020, muitos fizeram empréstimos a custos elevados, nas condições de crédito pessoal que existiam disponíveis.
“As linhas subsidiadas de Fust que temos hoje nem existiam. O pessoal precisou se financiar com o que tinha”, diz ele. Agora a conta chegou. “O mercado não está mais crescendo como crescia. A roda não gira mais para bancar a expansão da mesma maneira, e os custos financeiros são hoje objeto de grande preocupação dos ISPs”, diz Mauricelio Oliveira. Em painel realizado durante a Abrint Nordeste 2023, que aconteceu esta semana em Fortaleza, ele pediu atenção do BNDES, Ministério das Comunicações e Finep a esse problema. “O que temos de linha de financiamento hoje não atende ao principal problema, que é capital de giro e essa rolagem de dívida“, apontou o executivo.
A situação é tão preocupante que a Abrint estuda até mesmo criar uma cooperativa de crédito para ISPs. É um projeto embrionário, explica Breno Vale, diretor de inovação da Abrint, e que passa pela formação de uma outra personalidade jurídica e estrutura de capital própria, mas que está sendo analisada com cuidado.
Payback longo
Existe um desafio adicional, segundo os provedores com os quais conversou esta reportagem. Muitos dos pequenos provedores passaram a fazer os investimentos para migrar de soluções de rádio para fibra justamente na pandemia. Os custos de uma rede de fibra são mais elevados e o payback da rede e do assinante, para um investimento do zero, é de 3 a 4 anos. Com juros de mercado, sem subsídio, os ISPs não estão conseguindo pagar as contas. “Coloque ainda a conta de poste, link, SVAs etc, fica complicado fechar, ainda mais no cenário competitivo atual” , diz Breno Vale.
Para a Abrint, as linhas disponíveis com custos subsidiados, bancadas pelo Fust e Funttel, prevêem uma parcela muito grande de investimentos em equipamentos. “Hoje, os pequenos provedores têm bastante estoque de equipamento, não precisam construir mais rede. Eles precisam bancar serviços e manter a operação, e para isso as linhas de financiamento prevêem um percentual muito pequeno“, diz Oliveira.
Com essa pressão financeira, os pequenos ISPs estão vivendo processos de micro-consolidações: empresas com 2 mil assinantes que vendem suas carteiras para empresas um pouco maiores, de 5 mil ou 10 mil clientes, basicamente para se livrarem da dívida, relatam os ISPs.
Falta de informação oficial
Outro problema colocado pela Abrint é que nem mesmo os bancos públicos, como Caixa Econômica, que são representantes dos programas de financiamento do governo sabem da existência desses programas. “É muito comum o provedor chegar na Caixa ou outro banco (repassador), pedir o financiamento do Fust e ouvir que aquele programa nem existe”. Carlos Azen, gerente responsável pelos programas de infraestrutura do BNDES, responsável pelos repasses, reconhece o desafio. “Reconheço que não chega na ponta e conto com vocês para fazerem essas divulgações”, diz.
“Hoje, os recursos subsidiados estão acessíveis às grandes empresas”, diz Mauricelio Oliveira. ” Grandes” em relação aos pequenos ISPs, note-se. São aqueles que conseguem cumprir as exigências de compliance contábil, garantias e que conseguem absorver, no fluxo de caixa, os custos financeiros. Mas o Ministério das Comunicações, por exemplo, ainda espera projetos das grandes teles (aquelas com Poder de Mercado Significativo) para utilizarem projetos do Fust que tenham grande impacto no mercado. As aprovações, até aqui, foram de pequenas operadoras e, em breve, deve ser anunciado uma um pouco maior, mas não entre as três maiores.
Ao mesmo tempo, a Finep comemora um recorde de projetos e recursos aplicados. Em 2023, serão 90 projetos e mais de R$ 350 milhões liberados, o que é bem mais do que os R$ 260 milhões liberados para os 23 projetos de 2022… saiba mais em Teletime 24/11/2023