Durante o South Summit, evento global de inovação que acaba de acontecer em Porto Alegre, César Leite, CEO e fundador das Empresas Processor, debateu com Cássio Bobsin, CEO e fundador da Zenvia, sobre como a inteligência artificial vai transformar os negócios do futuro.

Leite começou relembrando a fala da futurista Amy Webb na recente edição do South by Southwest (SXSW), um dos maiores eventos sobre inovação e tecnologia do mundo.

Nós estamos acostumados com ciclos longos e individuais, como a chegada da energia elétrica, da telefonia, da internet. Agora, ela colocou uma lógica de super ciclo com três contextos rodando ao mesmo tempo: biotecnologia, ecossistema das coisas conectadas e IA. E isso gera uma nova realidade. A medicina, o corpo humano e o digital começam a reduzir o contexto de diferença entre eles. Tudo que acontecer no mundo vai estar conectado”, destacou Leite.

Apesar das previsões para o futuro, o executivo acredita que a IA ainda vive um período inicial e, até ela ficar madura e onipresente, será preciso somente cerca de três a cinco anos.

Estamos vivendo a IA fraca, inferior à capacidade humana. Depois, virá a forte, mas ainda bem teórica. Em cinco anos, já teremos tecnologia suficiente para ter a mesma capacidade humana na tecnologia. Isso é absolutamente insano e muda tudo na nossa relação pessoal e profissional com as coisas”, prevê Leite.

Dentro dessa dinâmica, o executivo acredita que cabe a cada um pagar o preço, o tempo, o investimento do pessoal em fazer esse processo transformacional. Seja no negócio, na vida pessoal ou no contexto em que se está vivendo.

“Se tem uma mensagem que a gente está passando aqui pra vocês é se permitir um novo transformador. Dar espaço em você, enquanto ser humano, para comandar o jogo ao invés de ser comandado. Tenha a rédea ao invés de ser gado”, aconselhou Leite.

Como o conhecimento está no digital, Leite acredita que, no final das contas, a grande questão é que a web passa a fazer parte do banco de dados e isso permite superenriquecer os dados e lidar com isso de uma maneira diferenciada.

Para o executivo, no entanto, o ser humano precisa estar no centro de tudo, o que presume uma nova consciência, uma nova abordagem.
“Para usar a inteligência artificial, eu preciso me qualificar, me preparar. Eu tenho que deixar um pedaço da maneira como eu penso para trás e aplicar uma nova lógica para poder efetivamente usufruir desse benefício. Porque ele é grande e significativo”, ressalta Leite.
Bobsin concorda que a IA chega para habilitar as pessoas a fazerem coisas cada vez melhores, e não para substituí-las.

“Vão ter coisas mirabolantes, mas a gente consegue, com as nossas capacidades, ter a extensão dessa capacidade no dia a dia. No fim, o que importa é construir os ecossistemas produtivos ao redor das pessoas. Nós, juntos, com tecnologia, vamos ser ainda melhores”, acredita Bobsin.

Segundo Leite, a IA aumenta a produtividade em 40% e as empresas vão avançar em proporções parecidas. No atendimento ao cliente, por exemplo, o ganho de velocidade deve ser de 15% a 20%.

Na Zenvia, a IA generativa vem sendo usada em pelo menos três casos. Um deles é o das vendas, com scripts que ajudam a pegar quem é o cliente e fazer um texto mais interessante, mais contextualizado, que fala sobre o negócio do cliente na abordagem. Como consequência, a taxa de conversão aumenta.

Outro exemplo da empresa é em suporte, com uma ferramenta que contém o histórico do cliente e permite acessar um resumo de tudo que aconteceu até então, qual é o problema e qual é a recomendação de ação naquele caso.

Já em relação a imagens, a companhia está usando atores virtuais na produção de campanhas ao invés de fazer fotos em estúdio ou usar bancos de imagens.

“Se a gente quebra os medos, elimina as barreiras e assume o dia a dia, podemos ter três, cinco, 10 casos de uso em um mês dentro das empresas. Lá na Zenvia, a primeira limitação que identificamos é em relação aos medos que as pessoas têm. Uma vez vencendo essas primeiras barreiras, vamos estimular, fazer um novo uso e propagar para todo mundo”, contou Bobsin.

Para não ficar de fora do jogo nessa nova realidade, Leite acredita que é fundamental olhar aqui e agora para pontos como: otimizar processos sobre um crivo da lógica de IA; inovar relações; e empoderar por tecnologia para fazer muito mais com muito menos.

“A lógica que você fazia até então pode ser completamente diferente. Então você pode repensar sua cadeia produtiva, suas cadeias de conexão e a lógica do cliente para o cliente, que é quem realmente dá dinheiro no final do dia. Quando você consegue chegar e ajudar o seu cliente a fazer mais dinheiro”, explicou Leite.

Para Bobsin, algumas pessoas vão resistir à mudança e outras, abraçá-la. E, no futuro, as mais bem-sucedidas serão aquelas que usarem a tecnologia agora para transformar o seu próprio trabalho, propondo constantemente formas de se substituir.

“Se vocês sentem que podem usar a IA para serem agentes de transformação, tem duas opções. Ou transformar as suas empresas ou encontrar uma que vai aceitar o desafio que vocês querem propor. Aí eu tenho certeza que serão muito bem-sucedidos nessa oportunidade”, acredita Bobsin.

Leite definiu o momento como espetacular, de enormes possibilidades.

Talvez o seu concorrente de hoje não tenha absolutamente nada a ver com o seu concorrente de amanhã. Talvez o que você faz hoje não tenha nada a ver com o que você vai fazer daqui a um tempo. E isso é maravilhoso. Vamos aproveitar isso ao máximo. Vamos nos permitir essa realidade nova e tudo que ela está viabilizando pra nós. A gente é privilegiado por estar tendo essa oportunidade”, resumiu Leite.

O South Summit é um evento criado em Madrid, em 2012, que escolheu o Brasil para estrear fora da Espanha. A primeira edição aconteceu em Porto Alegre em maio de 2022. Com o sucesso, vieram as sequências em 2023 e 2024.…. Leia mais em Baguete 25/03/2024