O aumento da demanda por serviços psiquiátricos para tratamento de transtornos como ansiedade e depressão, por exemplo, deve impulsionar investimentos privados no Brasil, assim como ocorreu em países desenvolvidos, e estimular as atividades de fusões e aquisições (M&A) no setor de saúde mental.

Segundo um estudo realizado pela Redirection International, assessoria especializada em fusões e aquisições e desenvolvimento corporativo, o mercado brasileiro ainda é bastante fragmentado e há um desequilíbrio entre a demanda e a oferta de leitos, o que abre oportunidades para investidores privados no setor.

Impactado pela pandemia de covid-19, o segmento está em plena expansão e o volume de internações para tratamento de transtornos mentais aumentou 27,3% em 2021, em relação a 2020, segundo dados da Agência Nacional De Saúde Suplementar (ANS).

Antes mesmo da crise sanitária, o Brasil já era o país com maior prevalência de ansiedade do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Demanda por serviço psiquiátrico alavanca fusões

Segundo o relatório da Redirection International, apesar da procura crescente por serviços psiquiátricos no Brasil, há uma escassez de leitos no setor, principalmente devido ao fechamento de hospitais públicos, acompanhando as diretrizes da política antimanicomial.

Entretanto, o setor privado cresceu nos últimos anos, mas não o suficiente para compensar o declínio do setor público.

“Com uma indústria fragmentada, não há ainda players com abrangência nacional e com grande capacidade de investimento. Isso traz oportunidades para investidores privados, como fundos de Private Equity de investir no setor e promover uma consolidação no mercado, procurando obter vantagens de possuir uma rede de maior escala.”, destaca o economista Vinicius Oliveira, sócio da Redirection International e responsável pelo estudo.

Outros fatores que impulsionam as atividades de M&A no setor, segundo o relatório, são a legislação favorável, com regulações recentes que visam ampliar o acesso aos serviços e a cobertura dos planos de saúde, e o ecossistema de inovação, com o desenvolvimento de tecnologia pelas healthtechs, que têm captado cada vez mais recursos para soluções na área de saúde mental nos últimos anos.

Demanda impulsiona Valuation das empresas

O relatório aponta ainda que as empresas de saúde mental estão cada vez mais valorizadas no mercado. Em uma análise do setor norte-americano, mais maduro em termos de investimentos e consolidação do que o brasileiro, observa-se que o EV/EBTIDA (múltiplo que relaciona o valor da empresa sobre seu resultado) das companhias listadas na bolsa cresceu em média 20% entre 2020 e 2022, passando de 9,1 vezes para 10,9 vezes.

“Esta tendência positiva para consolidação e investimentos, especialmente nos Estados Unidos e outros mercados desenvolvidos, provavelmente será ampliada para os mercados emergentes, incluindo o Brasil. Por termos um país de grandes dimensões, muitas teses já maduras em ambientes como Europa e Estados Unidos acabam sendo também trazidas para cá, seja por fundos de investimentos, seja por estratégicos em busca de localidades em que possam ter maior retorno e crescimento.”, ressalta Vinicius Oliveira.

No segmento específico de saúde mental, o mercado nacional já observa uma movimentação de muitos players financeiros e estratégicos planejando fazer aquisições e investimentos para iniciar um processo de consolidação e alimentar toda a cadeia do setor. Um exemplo é a Teman Capital que recentemente levantou cerca de R$ 150 milhões com investidores brasileiros e internacionais e realizou duas aquisições no Brasil, um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro e o Instituto São José, em Santa Catarina… leia mais em Monitor Mercantil 24/08/2023