A Dasa já iniciou uma série de conversas com investidores financeiros e estratégicos à medida que busca fontes de capital para reduzir sua alavancagem. Não há transação para ser anunciada no curto prazo, mas discussões em andamento sobre diferentes alternativas.

“Há conversas estratégicas. A alavancagem ainda está assustando o mercado e a companhia tem alternativas em hospitais e diagnósticos, desde juntar hospital com alguém a vender ativos específicos ou trazer um sócio em uma das verticais”, diz uma fonte. “As partes valem mais que o todo hoje e os controladores preferem dividir ativos ou verticais do que dividir a companhia”, emenda outro executivo ligado à operação.

Entre as opções, ganhou maior atenção nas últimas semanas a tese de junção de hospitais com um concorrente, apurou o Pipeline. Interlocutores da Dasa têm buscado aproximação com a Amil, recém adquirida pelo empresário José Seripieri Filho, o Júnior, afirmaram quatro fontes com conhecimento do assunto.

A Amil, vale lembrar, foi fundada pela família Bueno, que vendeu a operação para a americana UHG. As conversas são incipientes e podem não avançar, afirmaram as fontes. As duas companhias têm endividamentos a resolver, mas um grupo mais forte poderia gerar eficiência de custos e tributária, com venda de unidades menores e menos estratégicas.

A Dasa não comentou e uma pessoa ligada à Amil disse que se trata de boato, dado que a nova gestão acabou de sentar na cadeira e ainda está em fase de entendimento do que tem em mãos. As fontes reiteram. “Mas não é trivial, fato, dada a alavancagem de uma e o rombo financeiro na outra”, emenda uma delas.

A Rede D’Or também segue como óbvia candidata. Não haveria interesse da família Moll, neste momento, numa transação completa de portfólio (o que também levaria a remédios do Cade), mas em ativos específicos, apurou o Pipeline. “O Nove de Julho, por exemplo, não daria problema no Cade nem para D’Or nem para Amil”, diz uma fonte.

A Bloomberg já havia apontado, em fevereiro, interesse da D’Or em uma fatia do negócio, e a Dasa negou à época qualquer estudo de venda de ativos ou verticais.

Outra análise que já veio para mesa é trazer um sócio no negócio de oncologia, também abaixo da holding – mas esse caminho não sanaria totalmente a necessidade de capital da empresa.

A Dasa é o terceiro maior grupo em hospitais em número de leitos entre as empresas abertas, atrás de D’Or e Hapvida, com 10,7 mil, 7,7 mil e 3,3 mil leitos (a Hapvida é a primeira, no entanto, em número de hospitais, com 86, ante 15 da Dasa e 70 da D’Or, segundo relatório setorial do BTG). A Americas, da Amil, tem 14 hospitais. A conta média diária por paciente é maior na Dasa do que na D’Or, mostra o relatório, mas com ocupação média superior nos hospitais do grupo carioca.

Em laboratórios, a fatia de receita no segmento é semelhante a de Fleury, com 16% em 2022. Já nos centros de oncologia, a Dasa aparece como a terceira entre abertas, atrás de Oncoclínicas e D’Or, e também de Kora no quesito tíquete médio – mas com ritmo de crescimento no faturamento do segmento acima dos pares.

Há interesse ainda de investidores financeiros no grupo como um todo. Os fundos Advent e Bain também já abriram conversas com a Dasa, apurou o Pipeline. A questão, nestes casos, é que os fundos querem co-controle da Dasa – algo que os Bueno não estão dispostos a negociar, ao menos por enquanto, afirmaram as fontes.

Bain e Advent já tiveram investimentos relevantes no setor. Mas executivos do mercado veem com maior dificuldade a atração de players estrangeiros estratégicos. “Os estrangeiros veem o mercado de saúde local com muitas especificidades no âmbito regulatório, o que torna os investimentos nesse setor mais desafiadores”, diz um executivo.

Uma transação nas pontas seria mais palatável para os controladores, dizem as fontes, considerando inclusive o volume de capital que eles já colocaram na empresa nos últimos anos. “Vender ativos é a solução mais rápida, mas não a ideal. Para um investidor assinar um cheque grande desses, tem que participar da governança”, afirma um executivo próximo às converas.

O que dificulta uma transação deste tipo hoje é também o valuation da Dasa, com o papel perto da mínima em bolsa. Com alavancagem mais alta e resultados piores nos últimos anos, a ação cai 22% no ano, cotada a R$ 7,3 com o valor de mercado em R$ 5,4 bilhões. É uma fração do que a Dasa já chegou a ser avaliada.

O papel bateu R$ 180,88 em janeiro de 2021, antes das diluições, quando o market cap da Dasa chegou a bater R$ 95 bilhões, segundo a Elos Ayta Consultoria, de Einar Rivero. Mas o papel praticamente não tinha liquidez à época.

Nas duas últimas capitalizações a mercado, em abril de 2021 e em 2023, a família teve que compensar a falta de apetite dos investidores minoritários por maior exposição ao negócio. O follow-on em abril do ano passado somou R$ 1,67 bilhão, sendo que a família injetou R$ 1 bilhão e o BTG Pactual garantiu R$ 500 milhões. O contrato incluiu uma opção que dá o direito de os controladores recomprarem essa fatia ou o BTG pode vender as ações após dois anos.

Há um consenso de que a Dasa fez, no ano passado, uma capitalização menor do que precisava, recorrendo também a um capital que pode sair caro para os controladores. “Quando a ponte é menor do que o necessário, não chega do outro lado”, resume um executivo que acompanha as finanças da empresa.

A estimativa é que a companhia precise de cerca de R$ 2,5 bilhões a R$ 3 bilhões para equacionar sua estrutura de capital e não voltar a se preocupar no curto/médio prazo.

A Dasa decidiu, em 2019, se transformar num ecossistema de saúde e iniciou uma série de aquisições de diferentes tamanhos. A mais relevante foi a junção da Ímpar, o grupo de hospitais que era tocado diretamente por Dulce Pugliesi Bueno desde a venda da Amil, enquanto Pedro Godoy Bueno comandava a Dasa.

Mas a pandemia gerou o cancelamento de cirurgias eletivas, os gastos dos hospitais aumentaram e a Dasa teve uma queda de 214% do resultado líquido em 2020, passando ao prejuízo desde então.

A alavancagem financeira estava em 3,84 vezes no terceiro trimestre de 2023 mesmo após a oferta de ações, mais que o dobro de outras do setor, como Hapvida, Mater Dei e Fleury. A Rede D’Or estava com alavancagem de 2,3 vezes no mesmo período, considerando o caixa líquido de provisões técnicas.

Considerando pagamentos de aquisições ainda a serem feitos, o Citi calcula a alavancagem da Dasa em 5,6 vezes. O covenant, que não considera essas obrigações de M&A e alugueis, é de 4 vezes.

O custo da dívida elevada, que somava R$ 8,9 bilhões no terceiro trimestre, tem pesado no balanço da companhia diante da alta taxa de juros. Em 2023, até setembro, a Dasa acumulava prejuízo de R$ 635 milhões, alta de 267% em relação ao mesmo período do ano anterior. A empresa divulga na próxima quarta-feira, dia 27, os resultados do quarto trimestre e o consolidado de 2023.

“Acreditamos que a empresa poderá apresentar melhorias na receita e na margem Ebitda ajustada ano contra ano, mas sendo bastante impactada pelo endividamento líquido mais uma vez”, escreveu a XP em relatório. A projeção do BTG é que Dasa feche o ano de 2023 com margem Ebitda ajustada de 17% (antes da pandemia, em 2018 e 2019, estava mais perto de 23%), ante 24% da D’Or e Mater Dei e 20% da Kora no consolidado do ano passado.

Nos últimos três anos, a empresa viveu uma tempestade perfeita. Ela fez várias aquisições de hospitais e logo depois veio a Covid-19 e a alta dos juros em 2022 e 2023, que elevou o custo da dívida num momento em que a receita não cresceu no mesmo ritmo”, analisa um gestor…. leia mais em Pipeline 20/03/2024