Muito se fala em “janelas de mercado”: que elas vão abrir ou fechar ou, ainda, que é importante aproveitá-las o quanto antes. Às janelas é imputado o papel de uma cornucópia efêmera que deve ser aproveitada logo; afinal, a qualquer momento elas podem – e vão – se fechar.

Em um mercado de capitais em desenvolvimento como o nosso, a discussão sobre janelas de mercado tem alguma lógica. Nosso ambiente é mais volátil e menos profundo que os mercados mais desenvolvidos.

Mas, dito isso, quão relevante é a janela de mercado? Quão importante é abrir mão de outros fatores (por exemplo: preparação da companhia, estabelecimento de uma governança robusta, preparação de um plano de crescimento crível e viável etc) e correr para aproveitar uma janela de mercado?

IPOs e ofertas em 2024
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Desde 2002, temos um mercado aberto. Escolhi 2002 como ponto de partida pois (1) considero esse uma espécie de “início do mercado de capitais como o conhecemos atualmente”: regras mais claras, empresas se organizando para abrir o capital ou se utilizar do mercado de capitais como fonte de levantamento de recursos e a participação de investidores locais e internacionais; e (2) é um período suficientemente longo para ser estatisticamente válido.

Duas ofertas marcaram aquele ano e o início desse período mais moderno do mercado: o IPO da CCR, inaugurando o Novo Mercado no Brasil, e a oferta da Sabesp, com listagem na Bovespa e na Nyse, que foram seguidos no ano seguinte por ofertas no setor de papel e celulose e, posteriormente, o IPO da Natura, no início de 2004, consolidando o inicio dessa nova era. Naturalmente, houve anos ruins e anos bons, mas, em todos, houve “follow-ons” e apenas três não tiveram IPOs.

Mesmo durante o triênio da crise de 2014-2016, que viu uma queda de cerca de 10% no PIB real, houve alguma oferta de ação. Talvez mais do que em janelas, podemos falar em períodos mais exuberantes, dos quais tivemos dois: 2006-2010 e 2019-2021. Esses dois períodos se estenderam por múltiplos anos e configuram mais que uma simples janela… leia mais em Valor Econômico 10/11/2023