O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% em 2023 e ficou estável no quarto trimestre do ano passado ante os três meses anteriores. O resultado, segundo analistas, veio perto do que o mercado projetava, com um crescimento próximo de 3% no ano e uma estabilidade frente ao terceiro trimestre.

Dito isso, e daí? O que o PIB significa para o seu bolso?

Os números merecem ser analisados com cautela. No cenário atual, um PIB forte representa, inclusive, um paradoxo. Ao mesmo tempo que uma economia robusta traz segurança não só para o país como também para os investidores, inclusive estrangeiros, que se sentem mais confortáveis em investir aqui, ele também pode trazer mais pressões inflacionárias.

Afinal, uma economia pujante muitas vezes significa também um mercado de trabalho forte. Portanto, as famílias estão com mais renda e mais disposição a gastar, o que pode ajudar a aumentar a inflação. O Banco Central, por sua vez, pode mostrar mais resistência em aumentar a magnitude dos cortes da Selic justamente por receio de que a alta dos preços volte a ganhar força.

PIB: O que o número significa

“Um PIB mais forte significa que economia está mais aquecida do que se imagina e isso joga contra a inflação, porque tem pressão de demanda. A questão, porém, é que o Banco Central olha um conjunto de informações. Ontem, quando saíram dados de emprego no país, um número que veio forte foi a massa salarial, que bateu recorde. Isso mostra que as famílias supostamente estão com renda e podem consumir”, explica o professor Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e professor do Ibmec-RJ.

O PIB mostrou, inclusive, que a “Despesa de Consumo das Famílias” subiu 3,1% em relação ao ano anterior puxada justamente pela massa salarial real.

Segundo Espírito Santo, porém, o PIB não trouxe surpresas. No entanto, a força de alguns setores, especialmente o de serviços,merece atenção justamente pela inflação que ela pode trazer.

O “paradoxo do PIB” acontece porque caso haja um enfraquecimento do PIB isso pode exigir mais investimentos do governo no país, o que mexe com o orçamento, uma questão um tanto quanto complexa para o Brasil no cenário atual. Isso porque o país luta para cumprir as metas do arcabouço fiscal (uma série de medidas para manter as contas públicas em dia). Portanto, se os gastos governamentais aumentam, fica mais difícil seguir essa cartilha, o que pode acender um alerta no investidor de que não é tão seguro investir aqui.

Além disso, um governo mais “gastão” também pode trazer mais pressões inflacionárias e mexer com a trajetória da Selic.

“A divulgação do PIB nos dá uma sensibilidade de como será a política monetária do Brasil para 2024, um ano com eleição, Olimpíada e que podemos ter mudanças importantes por meio das reformas no Congresso. De um modo geral, se o PIB vem baixo, exige do governo mais gasto e mexe com o orçamento. E isso também pode trazer assim a gente vai ter uma questão inflacionária prejudicando um pouco os planos de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central”, afirma Gilvan Bueno, gerente educacional da Órama.

Segundo o especialista, o grande “divisor de águas” para o mercado tentar enxergar o que vem por aí serão os indicadores de atividade.

“Alguns deles mostram que a atividade vem caindo. E como ativar a atividade econômica? Com um PIB robusto, acredita-se que teremos uma redução cada vez mais cuidadosa da Selic devido ao risco inflacionário. Com um PIB fraco, a ideia é soltar as amarras e cortar mais os juros pra trazer a atividade”, afirma Bueno… leia mais em Valor Investe 01/03/2024