O alto nível de juros no exterior, com as taxas americanas no maior patamar em mais de duas décadas, tem sido um entrave às empresas que buscam dinheiro para financiar fusões e aquisições: após o boom de M&As registrado em 2021, o número de operações está em queda há dois anos. Para 2024, com a perspectiva de recuo de juros lá fora, o mercado acredita em uma retomada dessas operações, o que deve impulsionar a demanda por empréstimos bancários como alternativa para driblar as emissões de bonds no exterior, com custos ainda caros.

Na avaliação do chefe da área de dívida corporativa do Citi para América Latina, Adrian Guzzoni, o mercado que deve ganhar espaço nesse contexto é o do chamado crédito sindicalizado, concedido por um pool de bancos. “Muitos empresas estão preferindo esperar os juros começarem a cair nos Estados Unidos, o que deve acontecer na segunda metade do ano que vem, para emitir bonds. Com isso, o mercado bancário se mostra como uma opção para o curto prazo”, ele diz.

Uma das vantagens desse tipo de funding, comparada à emissão de títulos de dívida no exterior, é que a taxa de juros é flutuante, ou seja, não fica presa a um custo alto por muito tempo. Além disso, oferece a possibilidade de pré-pagamento a qualquer momento, o que não é tão comum em bonds. Assim, em tempos de juros ainda elevados, com a taxa dos EUA entre 5,25% e 5,50%, algumas empresas emissoras não querem se comprometer com uma dívida de longo prazo com custo maior e acabam optando por esse tipo de financiamento para levantar recursos até que as condições de mercado melhorem, explica Guzzoni.

Para Citi retomada de M&As deve impulsionar crédito sindicalizado
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Essa maior procura pelo crédito sindicalizado já pode ser vista no ano passado. Segundo dados da Dealogic, o volume de empréstimos nessa modalidade no Brasil, que inclui também as operações de club deals, atingiu US$ 10,9 bilhões em 2023, alta de 13,5% em relação ao montante anotado no ano anterior. Entre os nomes que se valeram dessa alternativa estão gigantes como Marfrig e Klabin.

Em novembro, a Marfrig contratou US$ 535 milhões por meio de empréstimo sindicalizado na modalidade de pré-pagamento de exportação pelo prazo de cinco anos, que contou com a coordenação do Citi. A operação visou o refinamento de passivos, com foco no alongamento do perfil da dívida e a redução de despesas financeiras, segundo informou a empresa, que não divulgou o custo da transação.

Já a Klabin fez em outubro uma operação coordenada pelo JP Morgan, no valor de US$ 595 milhões, com prazo de cinco anos a um custo de SOFR, taxa de empréstimos interbancário em dólar que estava em 5,34%, mais spread que vai variar de 1,5% a 2,05% ao longo do período. A empresa informou que os recursos serão usados para financiar os negócios da companhia.

Alexandre Castanheira, chefe da área de mercado de dívida corporativa do Citi para o Brasil, alertou que o custo do empréstimo sindicalizado pode sair mais caro que a emissão de uma debênture no mercado local para aqueles que querem fazer o hedge da operação para reais. No entanto, ressaltou que há a possibilidade de acessar um volume maior de recursos…. leia mais em Pipeline 02/01/2024